domingo, 24 de junho de 2007

E as guttatas mineiras?????

No último fim de semana, fui neste que provavelmente é um dos últimos redutos de Cattleya guttata em MG, que em breve será inundado pela construção de uma hidroelétrica (questiono a denominação que dão para este tipo de obtenção de energia, "limpa"...), em outras ocasiões, infelizmente sem máquina fotográfica disponível, encontrei do outro lado do rio muitas touceiras de guttatas adultas, algumas com o aspecto vegetativo que lembra as da região do pontal no ES, muito vigorosas, pseudobulbos altos (cerca de 1 m).
Na margem de mais fácil acesso, ainda é possível localizar alguns seedlings que sempre passam despercebidos pelos coletores, estes vindos de várias localidades de Minas segundo relatos. Desta última vez, com pouco tempo que tínhamos e devido ao rio muito cheio, não o atravessamos pelas pedras como de costume, nos remansos constatamos com bambus alguns pontos com mais de 3 m de profundidade, inclusive ouvimos casos recentes de afogamentos de pessoas no local, melhor esperar mais um mês pra retornar com o rio mais baixo.











Embora seja de acesso difícil, longo trecho de estrada de chão e muito serpentiada, é um dos lugares mais bonitos que visitei, que além de Cattleya guttata, muitas Schomburgkia crispa , Maxillaria pumila (com touceiras "enchuveiradas" métricas), também grandes touceiras de Encyclia patens e Aspasia lunata, Maxillaria valenzuellana, 2 espécies muito distintas de Campylocentrum dentre outras micros e bromélias.
Ainda uma curiosidade da região, histórico de colonização muito antiga, em algumas propriedades ainda existem os troncos e correntes de escravos, e uma comunidade quilombola que será remanejada para outra localidade. Sobre um solo inicialmente relativamente fértil, na região predominam os Argissolos, mas há manchas de Nitossolo Vermelho (e na classificação antiga, Terra Rocha Estruturada), originados de gnaisse do grupo piedade, que segundo relatos da população local, já se encontra "cansado" devido à exploração intensa iniciada com o café há quase 2 séculos, sem qualquer adição de adubo. Gosto de relacionar as condições que levam à gênese de alguns solos com a distribuição de algumas espécies de orquídeas, espero dispor de alguns resultados mais concretos em breve.











Parece-me que as populações de guttatas em MG encontram-se nos domínios de solos com horizonte B textural sob condições de menores altitudes (aproximadamente 300 m), na região da Zona da Mata, evidentemente com uma forte ligação com fatores pretéritos, como por exemplo, os que levaram a uma relativa maior formação de argilas finas no horizonte A, indícios de climas mais secos numa época anterior e atualmente, regiões com evapotranspiração potencial geralmente maior que o índice pluviométrico anual, sendo assim só encontradas às margens de rios encachoeirados, a propósito, pudemos notar que a densidade de indivíduos desta espécie era maior justamente onde se tinha águas mais agitadas, o que é fácil imaginar o porquê, pois quando caminhamos ao longo das margens sentimos a temperatura bem mais amena nesses trechos.
































O estudo da relação solo-paisagem, deixando uma ressalva maior nos aspectos de gênese dos solos, parece ser uma ferramenta importante no entendimento da dispersão geográfica de algumas espécies de orquídeas, por exemplo, conheço um outro habitat, muito próximo e bem semelhante a estes das C. guttata, rio bastante encachoeirado, etc. Porém com maior altitude (cerca de 1000 m), sendo frequênte os horizontes A húmicos, é o habitat da C. bicolor, Sophonitis cernua, Miltonia spectabilis, Isochillus linearis, dentre outras.