quarta-feira, 30 de abril de 2008

Um habitat de orquídeas no interior de SP- 2

Dando seqüência...

Uma coisa na qual havia esquecido de comentar no post anterior, a região está inserida no Domínio da Mata Atlântica, com algumas manchas de Cerrado que tornam-se mais freqüentes a medida que se vai para o oeste.

Somada à Cattleya loddigesii existem ao menos outras 15 espécies de orquídeas que pude encontrar, dentre elas a Microlaelia lundii (Rchb.f. & Warm.) Chiron & V.P.Castro, Richardiana 2: 11 (2002), que parece não necessitarem de ambientes muito específicos (vejam a variedade caerulea desta clicando aqui):






























































Aqui, as touceiras de Microlaelia lundii sempre apresentam muitas cápsulas de sementes, e é possível observar seedlings desta por toda parte.









Também a Lophiaris pumila (Lindl.) Braem, Schlechteriana 4: 21 (1993), bastante generalista quanto aos tipos de ambientes (vejam flores desta também clicando aqui):












A Leptotes unicolor Barb.Rodr., Gen. Spec. Orchid. 1: 74 (1877), sempre próximas às Cattleya loddigesii:














A Capanemia micromera Barb.Rodr., Gen. Spec. Orchid. 1: 138 (1877) (vejam flores desta também clicando aqui), também sempre próximas às Cattleya loddigesii:






















Uma espécie de Campylocentrum, a qual acredito tratar-se da Campylocentrum grisebachii Cogn., Fl. Bras. 3(6): 522 (1906), por toda parte, acompanhando as Microlaelia lundii:

























A Rodriguezia decora (Lem.) Rchb.f., Bot. Zeitung (Berlin) 10: 771 (1852):



Além de outras espécies de orquídeas do gênero Pleurothallis, uma do gênero Encyclia, uma do gênero Catasetum, provavelmente o Catasetum fimbriatum (C.Morren) Lindl., Paxton's Fl. Gard. 1: 124 (1850), a espécie Pleurobotryum atropurpureum Barb.Rodr., Gen. Spec. Orchid. 1: 20 (1877) (vejam flores desta também clicando aqui), relatos também de ocorrência da Cattleya walkeriana Gardner, London J. Bot. 2: 662 (1843), o que acredito ser perfeitamente possível, uma vez que existem pequenas manchas de vegetação de Cerrado.































Continua...


terça-feira, 29 de abril de 2008

Um habitat de orquídeas no interior de SP - 1

Segue uma série de fotos de um habitat de orquídeas localizado ao longo de um afluente do Rio Paranapanema, no Estado de São Paulo.

A região tem sua economia baseada no agronegócio, onde se cultiva prinipalmente café, pastagens e, mais recentemente a cana-de-açúcar e a soja.

Resumidamente, define-se solo como produto do intemperismo das rochas ao longo do tempo que sofreu influencia dos agentes de clima e dos seres vivos, e na região, nas áreas mais drenadas predominam as classes de solos dos Latossolos e Argissolos, ambos de textura média, que embora de baixa fertilidade natural, sua topografia e e sua textura são bastante favoráveis à agricultura empresarial com alto nível de mecanização e uso de fertilizantes. Textura média refere-se a alta proporção de areia frente aos outras frações granulométricas da fase mineral do solo, a argila e silte, também de maneira resumida.

A textura média desses solos se deve pela grande influência do arenito como rocha predominante no lugar, embora tenha algumas manchas com maior influência da rocha basalto (rochas formadas pelo resfriamento da lava vulcânica na superfície da Terra).

Este arenito, uma rocha de origem sedimentar, formou-se com a cimentação da areia que outrora foi de uma praia no Proterozóico (a mais de 540 milhões de anos atrás - vejam Uma Orchidaceae onde era um mar no Proterozóico). Houveram ciclos de acúmulo e cimentação da areia (formação do arenito) intercalados com o derramamento basáltico, registro de intensa atividade vulcânica na região há muito tempo. Interessante pensar nessa coevolução da paisagem e das formas de vida.

Restam poucos remanescentes de matas ao longo dos muitos riachos, bastante assoreados, que cortam a região, abrigando ainda muitas formas de vida interessantes.



















































































































Interpretando o ambiente, ou seja, juntando uma série de informações referentes a microclima e outras variáveis que determinam as diversas formações vegetais é possível avistar um grande número de indivíduos de Cattleya loddigesii Lindl., Coll. Bot.: t. 37 (1826), apesar da grande pressão de coleta que esta espécie vem sofrendo:




































Nesses "microambientes" de ocorrência desta espécie convergem uma série de características tais como luminosidade e umidade favoráveis, que os tornam com uma alta capacidade de regeneração, leia-se alta incidência de seedlings (plantas jovens obtidas por sementes) de Cattleya loddigesii:



























Muito embora seja mais frequente avistar plantas com deficiências nutricionais, decorrentes da baixa fertilidade do ambiente como um todo, em função da baixa fertilidade do solo, conforme nas fotos abaixo, plantas subdesenvolvidas, com pseudobulbos ano após ano estagnados em um mesmo tamanho, tanto em plantas mais expostas insolação constante ao longo do dia, quanto as mais sombreadas:
























































Enquanto que no cultivo buscamos ver nossos seedlings florescendo o mais rápido e abundantemente possível por meio de adubações que proporcionamos a eles, na natureza não existe pressa, nem poderia existir, nela as coisas acontecem de maneira mais sustentável, ou seja, sem que quantidades maiores de recursos, no caso nutrientes, sejam direcionados de maneira abrupta a um indivíduo em detrimento dos outros, ainda mais em um ambiente tão pobre como este, o sistema entraria em colapso rapidamente se não fosse a capacidade da espécies ali inseridas de bem aproveitar os limitados recursos disponíveis e sobreviver.

Continua...