sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Polinização de flores de orquídeas

Aí uma coisa na qual demorei para aprender, justamente pela falta de quem me ensinasse.

Inicialmente cabe a escolha das matrizes, a partir de um objetivo no qual se deseja cumprir, sejam a obtenção de flores de melhor forma, de algum colorido em particular, ou meramente por curiosidade.

Neste caso, estou curioso para saber o resultado do cruzamento entre uma Cattleya aclandiae (abaixo à esquerda) com uma Cattleya schofieldiana (abaixo à direita).















O resultado será um híbrido primário, não sei se já encontrado na natureza e/ou classificado, pois as mesmas possuem alguns habitats em comum.

Meu principal objetivo com este cruzamento é conferir a segregação na descendência, de modo que permita traçar modelos quanto à herdabilidade de algumas características inerentes à estas espécies, por exemplo, se assim como a matriz aclandiae as filhas folhecerão em qualquer época do ano, a característica dos lóbulos laterais envolvendo a coluna na schofieldiana será passada, o quanto a aclandiae contribuirá para o porte das filhas deste cruzamento, bem como padrões de coloração, florescimento após (schofieldiana) ou sem (aclandiae) a espata, dentre outras características.

Pimeiro: Retirada das políneas de ambas as flores envolvidas, cada com uma extremidade diferente do palito de dente, para não haver contaminações por grãos de pólens de origem indesejável.

O macete para efetuar polinização de modo que haja bastante chance de fecundação na maioria das orquídeas é observar se a coloração das flores já estão "maduras", pois é normal ocorrer que as flores abrem mais claras e irem ficando mais escuras com o tempo, até certo limite, estabilizando-se nesta coloração por um certo tempo, até acelerarem os processos de senescimento na flor quando a coloração novamente é alterada, por exemplo, comumente regiões onde são amareladas nas Cattleyas passam a ser avermelhadas com o envelhecimento da flor .



No caso das Cattleyas existem quatro políneas (estruturas que abrigam os grãos de polén) no androceu da flor.

Para fins de realizar os cruzamentos, duas delas já são mais que suficientes, pois possuem uma quantidade muito grande de grãos de pólen.

Segundo: Separadas as políneas na ponta do palito, basta introduzir no estigma da flor.






















A partir daí, cada um dos grãos de polén germinará o tubo polínico que levará um de seus dois núcleos a fecundar um dos milhões de óvulos no ovário da flor, cada óvulo fecundado corresponde a um embrião e uma semente então (claro, neste caso desconsiderando os embriões nucelares tão comuns em manga e nos citros, por exemplo)

O próximo passo é identificar com uma plaqueta o cruzamento, tomando o cuidado de fixá-la de modo que a mesma não caia ou mude de posição, o trará confundimentos.















Acredito que o resultado deste cruzamento não terá tanto valor agregado quanto às espécies das quais originou.


Viver só de satisfazer curiosidades infelizmente não dá, pensando nisso auto-polinizei a mesma C. aclandiae em outra oportunidade de florecimento, assim como usando a metade restante das políneas da C. schofieldiana auto-polinizei-a também.

















Post no Geófagos

Os amigos do Geófagos gentilmente postaram A insustentabilidade dos "manejos sustentáveis" (clique aqui).
Abraços

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Orquídeas albas e albinas (retificado)

Acho muito estranho o emprego do termo "albina" para representar variedades de flores em alguns indivíduos que expressam características de genes recessivos na pigmentação de suas flores na espécie.

Albinismo em botânica refere-se à ausência de pigmentação verde, ausência de clorofila, nas células das plantas.

É um tanto paradoxal a denominação dada pelos "estudiosos" e "entendidos" nos assuntos orquidófilos, referindo-se "albinas" às flores justamente por serem verdes, como é o caso das C. leopoldii, C. guttata ou a C. bicolor, nas suas formas de pigmentação recessivas, por exemplo, e não marrons, com ou sem pintas nestes casos, nas suas referidas coloração tipo.

A seguir uma foto de flores de uma Cohniella jonesiana (ex. Oncidium jonesianum) tipo, consultem o Orchidstudium quanto à estas alterações de nomenclatura.


Agora abaixo, uma variação recessiva de flores da espécie, notem que ao invés das pintas nas flores serem marrons como na primeira, nesta as pintas são esverdeadas, justamente pela carga genética desta planta não permitir a síntese de pigmentos marrons nas flores, cabendo aos cloroplastos, "emprestarem" sua cor verde à estas pintas.

É bem possível que exista algum exemplar desta espécie com pigmentação mais recessiva ainda, ou seja, com flores sem as pintas verdes, só com o fundo amarelado.

Por desconhecimento de um termo melhor prefiro tratar esta planta ainda como Cohniella jonesiana alba (ou Oncidium jonesianum alba), embora a mesma não seja toda branca.












Na seqüência, fotos de frascos com algumas plantas obtidas pela-fecundação da planta acima (seedlings do cruzamento self dela), notem alguns protocórmios bem amarelados, ou desclorifilados (não sei se realmente este termo existe).




Estas duas fotos abaixo, dois ângulos diferentes do mesmo frasco após o repique (transferência de um frasco para outro), uma planta verdadeiramente albina dentre as demais.













Transferi a plantinha albina da foto acima para o frasco novo unicamente com o objetivo de tirar esta foto contrastante, embora, por se tratar de cruzamento, exista a possibilidade de algumas plantas manifestarem deficiência do micronutriente ferro em um meio nutritivo no qual suas irmãs não manifestariam.

Deficiência que acarreta em um sintoma semelhante a este, amarelecimento (clorose) a partir das partes novas da planta, até a deficiência se tornar mais aguda e o sintoma expandir para as partes mais velhas talvez, é difícil acompanhar uma plantinha em específica dentre as demais no frasco, por isso não soube se ela sempre foi amarelada assim ou passou a ser com o tempo.

Salve a diversidade genética dos cruzamentos, tem permitido a sobrevivência das espécies desde que as formas mais complexas de vida surgiram no planeta.

A seguir fotos de dois diferentes grupos de plantas, à esquerda uma hemi-parasita, conhecida popularmente como erva-de-passarinho (Struthanthus sp.), e à direita uma parasita verdadeira, popularmente conhecida como cipó-chumbo, parasitando um arbusto de hibisco.












O que difere uma planta parasita das hemi-parasitas é justamente o fato da primeira não possuir clorofila, ser albina, por conseguinte não realiza fotossíntese, necessitando então dos carboidratos oriundos da planta vítima, neste caso o hibisco. Além de água e sais minerais.

A hemi-parasita não é albina e faz fotossíntese, e absorve água e sais minerais da planta na qual está fixada.

Orquídeas epífitas albinas sobreviveriam na natureza somente por meio de complexa interação com fungos micorrízicos que fornecem carbono às mesmas, uma vez que suas raízes não possuem as adaptações morfológicas que as parasitas possuem, os apressórios, para sugarem os carboidratos da árvore suporte (termo correto forófita).

Sobrevivem facilmente em ambiente in vitro pelo fato do meio nutritivo conter carboidratos disponíveis à nutrição da mesma.

É fato que a grande maioria das denominações para as variedades de orquídeas se devam unicamente à pigmentação de suas flores, mas chamar uma flor verde logo de albina me parece um tanto quanto contraditório.

Aí se alguém me perguntasse se eu quero uma C. guttata albina, eu diria: "depende, o que é albina pra você?".

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Interpretação de ambientes e ecologia de orquídeas

Esta é uma linha de pesquisa que vem me despertando muito interesse.

Fascinante como juntando informações de solos, geologia, climatologia, fitogeografia, fitofisionomia, fisiologia vegetal e até mesmo história (sociologia), pode-se chegar exatamente ao ponto de ocorrência das espécies de orquídeas, em lugares imagináveis para um leigo até então.

Tenho feito algumas observações ao longo desse tempo de mestrado, quando fui adquirindo mais conhecimento para tratar desses assuntos, algumas delas estão prestes a se tornarem artigos em revistas científicas, agora o período de inscrição do doutorado vem aí, estou querendo continuar...

Mas só tenho coragem de expor tais informações em lugares mais restritos, revistas científicas indexadas e palestras, por exemplo, uma vez que estas informações trazem consigo um poder de destruição muito grande nas mãos daqueles de pior intenção, não por acaso que estes mesmos geralmente não se preocupam em investir em palestras e ir à biblioteca universitária mais próxima para consultar os periódicos indexados.

O objetivo deste post é mais uma crítica aos botânicos que vem fazendo levantamentos florístico por aí, sem a preocupação de juntar outras informações, o que acarreta em trabalhos absolutamente vagos.

Existe até mesmo um projeto de repercussão digamos até nacional que vem tratando de levantar a ocorrência de algumas espécies de orquídeas ameaçadas, com um gasto fenomenal de energia e recursos financeiros o pessoal dele sai por aí dando palestras em associações e coletando informações a respeito da ocorrência destas espécies, o que é uma pena, pois se não empregarem mais ciência no final ter-se-á uma série de trabalhos vagos.

Falta um pouco de visão holística de muitos "cientistas" para entenderem que a biologia só é explicada pela química, e esta por sua vez pela física, que por sua vez explica-se pela matemática. A matemática talvez tenda à divindade, uma vez que é a mãe de todas as ciências, de todo conhecimento, não em vão, que muitos dos grandes cientistas ao longo da história da humanidade tinham Deus mais no sentido de uma Ordem ou Razão Universal, "O Grande Matemático", com toda minha limitação de imaginação, penso que só fizeram o que fizeram, carregaram a humanidade nas costas num salto de conhecimento, justamente pela percepção ampla que possuíam.


A biologia precisa de não "biólogos" para evoluir, integrar conhecimento, avançando então tende a se tornar uma ciência exata.


Ecologia é coisa séria, embora venha sendo sub utilizada por pseudo-ecologistas estereotipados, rebeldes sem causa, e sem ciência.


Vejam mais sobre este assunto em Os novos naturalistas, do Ítalo Rocha Guedes e Evolução humana e pedologia, do Carlos Pacheco, ambos colegas e grandes amigos de conversa fiada sobre ciência.


Alguns slides da minha palestra:

































Visita técnica

Dia desses fui chamado para dar uma orientação técnica em um orquidário doméstico.

Lá chegando, minha primeira percepção foi de algumas plantas com sintomas de morte de raízes, ou seja, sintomas visuais de deficiências de água e nutrientes minerais, algo já comentado aqui e aqui, e outras muito bem.

Sintomas nas flores de deficiência de água:











Acima à esquerda uma Denphal com pétalas e sépalas que não abriram totalmente, flácidas, bem como pendúculos florais arqueados, e acima à direita uma Lc. Luminosa (Cattleya dowiana x Laelia tenebrosa) com as sépalas dorsais arqueadas, vide seta, e com flores muito juntas. A água é necessária para as células não só das flores, mas da planta toda aumentarem de volume e expandirem completamente.

A falta de turgor nas flores corresponde à um sintoma inicial de desidratação na maioria das plantas, uma vez que são as flores as partes mais sensíveis, com tecidos de menor resistência à desidratação nestas.

Agora, flores relativamente normais no mesmo orquidário:
















A primeira mais acima, corresponde à uma Miltonia spectabilis var. moreliana, a segunda uma Cattleya velutina, ambas nativas da mata atlântica, com clima úmido relativamente constante ao longo do ano, especialmente a C. velutina, e a Miltonia nas matas um pouco mais secas mas quase sempre às margens dos rios.

Primeira conclusão, a água estava sendo fornecida de maneira relativamente satisfatória, pois estas duas últimas plantas não estariam floridas, pois são elas com relativa baixa adaptação à resistirem ao estresse hídrico.

Observando mais, notei que todas as plantas plantadas em toquinhos, placas de xaxim e Vandas em cachepôs com quase nenhum substrato preenchedo estes, no geral estavam menos desidratadas, bem como que nos vasos haviam dois diferentes tipos de substrato, alguns plantios mais antigos com xaxim, e outras plantas plantadas mais recentemente com uma espécie de terriço (solo+folhas secas+raízes) de superfície de mata como substrato.

Exemplo de plantas não envazadas, à direita uma Catasetum cernnum em placa de xaxim, à direita uma Cattleya walkeriana plantada em casca de peroba.












A seguir, exemplos de plantas em vaso com xaxim de substrato, reparem nas setas, inserção das folhas nos pseudobulbos acima da linha das bainhas secas.

















Agora, exemplos de plantas no vaso com o terriço de substrato:

Abaixo à esquerda uma Laelia, provavelmente a L. purpurata que floresceu mesmo estando desidratada, reparem na seta, folha não expandiu completamente, e está inserida bem abaixo da linha da bainha seca do pseudobulbo, inflorescência curta atarracada também, e a direita, outra Laelia com pseudobulbos bastante desidratados.















Abaixo à esquerda, um pseudobulbo novo subdesenvolvido, e à esquerda flores caídas, faltando água para levantarem. Reparem também nesta última as raízes "fugindo" do vaso.















Abaixo duas orquídeas com deficiência nutricional aguda, em vários nutrientes.















Agora à esquerda, a inflorescência de uma Anachaellum aemulum atarracada também por falta de água, e a folha de uma Blc., que deveria ser dura e quebradiça na tentativa de dobrá-la se estivesse hidratada, mas que está enrolando feito pano.












Agora, mais detalhes do terriço, notem a falta de raízes.












Conclusões finais: As plantas em outros substratos que não o terriço, conseguem aproveitar a água que chega até elas pelo fato de terem raízes vivas e saudáveis.

O terriço com as características de reter água por mais tempo ("demasiadamente mais tempo"), aliada a provável alta acidez e alto teor de alumínio do mesmo, acarreta em progressiva morte de raízes das orquídeas epífitas ao longo do tempo, sendo as plantas mais prejudicadas as que foram plantadas à mais tempo neste substrato.

Recomendações: De imediato sustituir o terriço por outro substrato de orquídea, o mais acessível atualmente é o pedrisco, xaxim anda difícil e caro.

Para aquelas plantas mais prejudicadas é conveniente uma passagem pela “UTI”.

O timer que controla a irrigação pode ser programado para irrigar 10 minutos por dia, por volta das 17h, uma vez que na atual programação, 10 minutos a cada dois dias, as plantas nas cascas de peroba, toquinhos e placa de xaxim aparentemente poderiam estarem mais túrgidas.

Acredito que para orquídeas terrestres o terriço venha a ser um bom substrato em muitos dos casos.


*A POSTAGEM FOI-ME AUTORIZADA PELO PROPRIETÁRIO DO ORQUIDÁRIO.