quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Retirando as orquídeas dos frascos - 2

Continuando o post anterior...

Vamos ao plantio das plantas recém retiradas dos frascos.

Na minha opinião as bandejas possuem mais vantagens em relação aos vasos coletivos, dentre elas o melhor arejamento entre as plantinhas, o que diminui significativamente a incidência de doenças fúngicas e bacterianas denominadas doenças de tombamento de mudas e, outra vantagem, é propiciar melhor organização das plantas, sem aquele monte de raízes de plantas diferentes entrelaçando- se umas às outras de maneira que seja necessário cortá-las no replantio em vasos individuais maiores em uma etapa posterior.

Como desvantagem da bandeja a principal a meu ver é o espaço maior que ela ocupa.

Não é necessário cortar as raízes das plantinhas recém retiradas dos frascos, embora elas possam quebrar durante o plantio,

Dentre os substratos para este fim, sem dúvida o mais comum é o sphagnum (ou musgo seco ou ainda musgo do Chile), ao menos na região Sul e Sudeste do Brasil muito fácil de se encontrar em floriculturas, onde é vendido como componente de arranjos.

Molhe o sphagnum e na bandeja vazia vá preenchendo com bolinhas de sphagnum a parte inferior de cada célula da bandeja, até a metada da profundidade. Em seguida, faça pequenos "macarrãozinhos" do sphagnum umedecido, estes deverão ser conpatíveis para enrolar as raízes, sem afogar as plantas, e encaixar na célula da bandeja.

Abaixo um exemplo de excesso de sphagnum utilizado que pode vir a afogar as plantas.


Tem um tempo que vi uma palestra de um professor da Universidade da Flórida onde o mesmo mostrou um pouco de como é esta operação em um grande produtor de orquídeas dos EUA. Lá o sphagnum vem prensado e cortado em quadradinhos cujas arestas medem o suficiente para entrarem em cada célula da bandeja, as espessuras desses quadradinhos é algo em torno de 0,5 cm. Com isso, basta que se faça um sandwich de dois quadradinhos de sphagnum com a plantinha no meio e em seguida encaixe-se este sandwich em uma célula da bandeja. Com o tempo o sphagum expande-se e preenche todo o volume da célula. No caso, os milhões de mudas de orquídeas recém retiradas dos frascos vinham de avião de algum país da Ásia, onde a mão de obra de laboratório é bem mais barata.

Como substrato alternativo ao sphagnum, pode-se utilizar ainda seixos rolados obtidos com o peneiramento de areia grossa de rio.





















No caso das pedrinhas, o cuidado com o ambiente e tratos culturais como irrigação e adubação devem ser maiores do que no cultivo com sphagnum, uma vez que as plantas recém retiradas dos frascos são bastante sensíveis ao estresse por falta de água.

Abaixo, uma ilustração de sintomas de doenças de tombamento nos seedlings em bandejas decorrentes do excesso de umidade, exposição às chuvas constantes por exemplo.


Para este estágio de cultivo em bandejas é imprescindível uma cobertura plástica protegendo as plantinhas das chuvas.

Agora, situações de seedlings de orquídeas relativamente bem adubados retirados a um ano dos frascos.














Após um ano, com as orquídeas já ficando pequenas para as bandejas, pode-se replantá-las em individuais, levando o "torrãozinho" de sphagnum aderido às raízes inclusive.
























Optei em recipientes de copos plásticos descartáveis bem como substrato de pedrisco de construção para baratear esse custo de produção.

Para alojar as orquídeas nessa fase não são necessários os maiores cuidados para o caso das recém retiradas dos frascos, pois as mesmas já se encontram mais resistentes.











Em uma etapa posterior ainda, um seedling de Cattleya bicolor que irá florir pela primeira vez. Reparem no desenvolvimento do pseudobulbo mais novo, reparem também na estagnação que desenvolvimento e vigor que os pseudobulbos anteriores estavam.


Uma boa adubação é essencial para adiantar a primeira floração, aquela história de 30-10-10 para esta fase é uma das maiores invensões que já vi, absolutamente equivocada por uma série de razões que discutirei em momento mais oportuno. Tenho conseguido excelentes resultados com a utilização do B & G Orchidées que possui N-P-K na proporção 7-9-7 aproximadamente, além de outros nutrientes bem equilibrados, ótimo exemplo de uma tecnologia cientificamente embasada.

Por falar em adubação, na agricultura de uma maneira bem geral, o emprego de fertilizantes se dá até um momento em que existe um retorno potencial de produção agrícola em si e lucro para quem esta adubando, e existe uma história de idade fisiológica e idade cronológica da planta e de suas partes, algo que pretendo discutir futuramente, mas adiantando, as plantas jovens de orquídeas (cronologicamente) são também fisiologicamente jovens e de metabolismo relativamente mais acelerado que as plantas adultas, por isso respondem com crescimento rápido uma adubação frequente e equilibrada.

Como exemplo, já repararam que por mais que se adube com fertilizantes bem concentrados com N uma Sophronitis cernua adulta ela não sai brotando para tudo que é lado em qualquer época do ano, assim como outras espécies bastante "tamponadas", mas esta mesma espécie, Sophronitis cernua, quando jovem na bandeja, adubando ao longo do ano todo, e tendo temperatura e água de maneira favorável, elas brotam e crescem? - Então é bom aproveitar esta fase para fazer ela mostrar um boom de crescimento.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Retirando as orquídeas dos frascos - 1

Em se tratando de retirada de orquídeas dos frascos existem alguns cuidados importantes a serem tomados para não se jogar fora um trabalho e uma espera de aproximadamente um ano.

Cuidados estes referentes à lavagem das plantas e acondicionamento das mesmas enquanto aguardam o plantio nas bandejas, cuidados também referentes a escolha do lugar a se deixar as bandejas.

Para aqui ilustrar os procedimentos usei plantas em frascos que estavam contaminados, porém, pela contaminação ter sido tardia, as plantas já estavam grandes, algumas até passadas da hora de retirar dos frascos diga-se de passagem, que por restrição de espaço muitas vezes me vejo obrigado a mantê-las o maior tempo possível nos frascos. Para verem mais sobre contaminações no meio de cultura cliquem aqui.





















Quanto às contaminações tardias, que são aquelas contaminações que surgem depois de algum tempo (meses!) no frasco sem que se tenha de alguma forma manipulado os mesmos, tenho três hipóteses que considero plausíveis para tentar explicar porque acontecem, e sabendo delas pode-se ao menos buscar atenuar o problema:

1- má esterilização do meio nutritivo (auto-clave desregulada aliada a vidros sujos, por exemplo), que permite a sobrevivência das estruturas de resistências dos microrganismos por muito tempo, até anos, microrganismos que deixarão suas formas latentes (esporos) quando se encontrarem em um ambiente favorável à sua proliferação.

2- má desinfestação das ferramentas utilizadas em algum momento, como pinças, levando também esporos resistentes para dentro do frasco.

3-frascos acondicionados em ambientes sujeitos a muita oscilação térmica em um espaço de tempo relativamente curto, algumas horas, compare os casos abaixo.

À esquerda em prateleiras na sala de cultura de um laboratório, onde os frascos com as plantas ficam a temperatura de cerca de 25 ºC constante ao longo do dia, pouco problema com contaminações tardias e, à direita, sobre a mesa da minha sala de jantar, onde os frascos na beirada do lado da janela recebem luz solar direta por quase a manhã toda, com maiores ocorrências de contaminações tardias.














Estas mudanças de temperatura, especialmente nos frascos que aquecem-se mais sob o Sol, acarretam em contrações e dilatações das tampas e consequente de suas vedações, que já se encontram bastante empoeiradas (abaixo).


Mesmo assim, é perfeitamente viável improvisar "um canto" a se alojar os frascos para as mudinhas crescerem, tomando o cuidado ainda para esses frascos não receberem muita insolação direta bem como água de irrigação ou de chuva.

Ainda, fugindo do assunto principal do post, para variar, muita gente acha que os frascos são absolutamente vedados e impermeáveis, o que não é verdade, pois sempre existirão trocas gasosas, por menores que sejam, entre as atmosferas de dentro com as de fora dos frascos. Permeabilidades estas na maioria das vezes restritas o suficiente para barrar os microrganismos.

E finalmente, vamos à retirada das plantinhas de orquídeas de dentro dos frascos:

Sob uma torneira abra os frascos e de uma lavada.





















Após se jogar o excesso de água fora, dê umas pancadinhas com a outra mão no fundo do frasco de modo a quebrar o máximo possível a consistência do meio nutritivo. Após mais um enxague, boa parte do meio nutritivo já sairá.











Depois de despejar as plantinhas na peneira termina-se de retirar todo o resquício de meio nutritivo aderido às raízes, caso contrário, um eventual resquício será um foco de uma colônia de fungos decompositores na base de uma planta tenra e indefesa.














Cuidado com as regiões onde havia focos de contaminações, são mais difíceis de lavar:










Abaixo, morte de raízes pela ação dos fungos que liberaram substâncias nos meios nutritivos. Nota-se que a morte das raízes acarretou em deficiências nutricionais das plantinhas dentro dos frascos. As folhas amareladas indicam deficiência de nitrogênio.











Para agilizar esta etapa, após a lavagem pode-se ir acondicionando as plantas lavadas no recipiente de origem, também lavado.










Mas para acondicionar as plantas retiradas por mais tempo, é aconselhável ajustar um pouco
mais o recipiente. No caso, prefiro utilizar de potes plásticos.











Para que as plantas que possam ter alguma parte encostada no fundo do pote plástico não fermentem naquela região de água acumulada, é útil que se cubra o fundo com uma camada de papel higiênico, ou outro papel absorvente qualquer.































Mantém-se o papel úmido, não encharcado, e a tampa do pote fechada, afim de se manter uma atmosfera saturada de umidade no interior dos potes de modo que as plantinhas nãos desidratem-se. Dessa forma, esses seedlings de orquídeas aguentam algumas semanas aguardando serem transplantadas.

Alguns recomendam um tratamento com fungicidas, o que considero absolutamente desnecessário, pois no geral os fungos que causam contaminação nos meios de cultura são meramente oportunistas, e proliferarão de qualquer maneira se o ambiente a se alojar as plantas for favorável.

Continua...