O gênero Catasetum (do grego: cerda/antena para baixo) caracteriza-se pelo dimorfismo sexual que suas flores apresentam em função do ambiente no qual a planta desenvolveu-se até a respectiva floração, embora sejam plantas monóicas (hermafroditas) como todas as outras Orchidaceae.
Tal característica veio a trazer muita confusão entre taxonomistas até o início do século passado, que chegaram a descrever em gêneros distintos as plantas que se apresentavam com flores masculinas (com partes femininas atrofiadas) e as plantas que se apresentavam com flores femininas (com partes masculinas atrofiadas), tamanha a diferença entre elas, vejam as fotos abaixo.
1. Uma flor masculina, por ângulos diferentes:
Tal característica veio a trazer muita confusão entre taxonomistas até o início do século passado, que chegaram a descrever em gêneros distintos as plantas que se apresentavam com flores masculinas (com partes femininas atrofiadas) e as plantas que se apresentavam com flores femininas (com partes masculinas atrofiadas), tamanha a diferença entre elas, vejam as fotos abaixo.
1. Uma flor masculina, por ângulos diferentes:
2. Inflorescência de flores femininas:
DUNGS, F & PABST, G.F.J em seu livro Orchidaceae Brasilienses - Band II, nas páginas 354 e 355 apresentam um chave dicotômica para se chegar ao gênero Catasetum, transcrevendo os caminhos percorridos:
"1 - Plantas de crescimento simpodial;
2a - Políneas nunca lateralmente comprimidas, às vezes há achatamento dorsi-ventral;
3a- Crescimento sempre nitidamente simpodial;
4 - Prefoliação convolutiva ou plicata; folhas com várias nervuras visíveis;
5 - Flores especializadas, masculinas, femininas, às vezes hemafroditas, ou mesmo dos dois sexos na mesma inflorescência e às vezes com flores hemafroditas entre elas;
6 - Coluna com dispositivo de ejeção de políneas ....... Catasetum."
Empiricamente à quem tem tido contato com as Cataseta há mais tempo é sabido que nas plantas expostas a maiores insolações há predominância de surgimento de flores femininas, do contrário, mais à sombra, predominância de flores masculinas, mas o que muitas vezes fica vago são os aspectos quantitativos, ou seja, quanto mais sob insolação ou sob sombra?
Recentemente tomei conhecimento da tese mestrado de Moraes, C. P., 1992, de título Fenologia e anatomia dos órgãos reprodutivos de Catasetum fimbriatum Lindley cultivados sob diferentes intensidades luminosas, defendida na ESALQ/USP, e cujo atalho para download do PDF se encontra aqui.
O autor fez um experimento composto de 3 tratamentos, em que tratamento 1 (T1) 15 plantas de Catasetum fimbriatum foram cultivadas sob intensidade luminosa variando de 1300 a 1900 μmol m-2 s-1 de fótons, alta intensidade luminosa, tratamento 2 (T2) 15 plantas de Catasetum fimbriatum foram cultivadas sob intensidade luminosa variando de 400 a 650 μmol m-2 s-1 de fótons, baixa intensidade luminosa e, tratamento 3 (T3) 15 plantas de Catasetum fimbriatum foram mantidas nas árvores sob intensidade luminosa variando de 500 a 800 μmol m-2 s-1de fótons.
Com os indivíduos de T3 (plantas mantidas nas árvores) nos aspectos vegetativos houveram sempre características intermediárias aos extremos T1 (alta intensidade luminosa) e T2 (baixa intensidade luminosa).
T1 com brotação iniciando mais precocemente e sempre em menor número, sendo que o autor explica que, dentre outros fatores, isto é devido ao nível energético acarretado pela maior luminosidade e conseqüente maior temperatura proporcionadas neste tratamento, fazendo com que os processos fisiológicos tenham sido agilizados.
Um aspecto, cujo autor não aborda, que teorizo estar correlacionado com o menor número de brotações em T1 é o fato de fitormônios, em especial refiro-me às auxinas, possuírem meia-vida menor quando expostas às radiações maiores, sofrendo mais intensamente então fotodegradação (leia-se mais reações oxidantes/degradantes do hormônio pela luz por unidade de tempo). Auxinas estão diretamente envolvidas no crescimento vegetal e, são produzidas intensamente nos ápices das plantas, por exemplo, as gemas laterais dos pseudobulbos das Cataseta, Algo semelhante, segundo outros autores, explica a tortuosidade das árvores e arbustos na vegetação de Cerrado strictu sensu.
Também em T1, as folhas que surgiram mais cedo, caíram cerca de 5 meses antes que em T2.
Embora o autor não tenha tido muito sucesso com seu experimento no que se refere à florações, uma vez que relativamente poucas plantas floresceram, em T3 (plantas nos habitates) de 15 plantas, 7 floresceram sendo que 5 delas apresentando inflorescências com flores masculinas, na discussão e conclusão final o mesmo fez uma abordagem interessante no que se refere à expressão sexual das flores em função dos níveis endógenos (dentro do corpo da planta) do também fitormônio etileno.
Propõe que sob os estresses ambientais como alta intensidade luminosa, alta temperatura e baixa umidade relativa, bem como deficiências hídricas, que acarretando em maior síntese de etileno pela planta, faz com que a diferenciação floral seja direcionada às flores femininas.
Interessante pensar nas razões da natureza aparentemente ter engenhado para que fêmeas predominacem, ainda mais em condições de estresses, em plantas e em animais.
Tive a oportunidade de observar muitas Catasetum fimbriatum (C.Morren) Lindl., Paxton's Fl. Gard. 1: 124 (1850) nos estados de SP, MG e MS, preferencialmente epifitando estipes de Palmaceaes.
Abaixo seguem vídeos de disparos, ou ejeções, das políneas de flores masculinas de Catasetum fimbriatum ao tocar com o dedo suas cerdas.
No primeiro vídeo o disparo por uma flor mantida na planta, onde é possível perceber a rapidez em que o mesmo se dá, bem como ouvir um chiado no ato, no segundo vídeo, o disparo de uma flor recém destacada da planta, reparem na demora na resposta ao ser tocada e, embora a qualidade do vídeo não tenha ajudado, o chiado com o disparo desta é mais baixo do que na primeira.
Essa diferença vem a ser explicada pelo fato da flor destacada não mais dispor da continuidade hídrica com a planta, diminuindo assim a potência de disparo das políneas, o que daria um estudo interessante observar a perda de potência no disparo das políneas em função da perda de turgor ao longo do tempo da flor destacada do resto planta, somando a isso diferentes métodos e técnicas de conservação da flor...
Abaixo fotos do resultado do disparo, as políneas ficam bastante aderidas em uma superfície, no caso minha unha, mas na natureza normalmente seria o dorso de uma abelha da tribo Euglossini.
3 comentários:
Hi Marcus, i'm translating now also this article.
Can you tell me please how is it possible to download also the small videos?
Thanks
Orchids Club
Massimo
Olá Marcus, sou o Cristiano da Dissertação de Mestrado sobre Catasetum, gostei muito de suas observações, extremamente pertinentes. Atualmente, um de meus alunos de graduação está realizando experimento com etephon tentando estimular o desenvolvimento de flores femininas em Catasetum. Caso tenha interesse, quando terminarmos o trabalho lhe envio. É muito bom encontrar pessoas que querem divulgar e estreitar os laços entre orquidofilia e orquidolgia. Caso queira entrar me contato, meu e-mail é: pedroso@uniararas.br.
Um grande abraço
Boa tarde Marcus,tebho algumas dúvidas.Eu usei as polineas de uma catleia em uma phalaenopsis,as flores começaram a murchar,até aí tudo normal,mas gostaria de saber se posso fazer isso e se isso pode dar resultados diferentes de flores.Obrigado.
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