sábado, 13 de junho de 2009

Desvaneio e proposta: alteração de denominação de algumas variedades.

Vejo a classificação dos seres vivos ou de componentes não vivos da natureza, como rochas, minerais e solos, como equações matemáticas que sintetizam um conjunto de conhecimento/informação sobre aquilo que se está denominando, sistematizada cientificamente desde que Linnaei, o "pai da taxonomia", publicou o SYSTEMA NATURAE em 1753.


A sequência das unidades taxonômicas para o caso de um ser vivo (reino, divisão, classe, ordem, família, gênero, espécie e variedade) auxilia na tarefa de transmitir conhecimento acerca de uma série evolucionista que culmina em um conjunto mais específico de características morfológicas, anatômicas e fisiológicas demonstrando uma possível afinidade genética entre os seres que se agrupam, assim, a taxonomia (do grego “ciência para organizar/administrar) é uma poderosa ferramenta de divulgação de informação, informações estas das quais muitas vezes as interpretações e as atitudes dependem.

Um exemplo disso é o pensamento que nos desperta ouvir a denominação de algumas famílias (uma unidade taxonômica!!!), como Orchidaceae, Bromeliaceae, Araceae (antúrios), Poaceae (gramíneas) e etc. Conforme o caso e o nível de conhecimento de cada um, automaticamente vem na mente um conjunto de características e até mesmo de exigências para se cultivar.

Este post é sobre algumas sugestões acerca de denominação de algumas variedades.

É fato que a grande maioria das denominações para as variedades de orquídeas se deriva unicamente à pigmentação de suas flores, mas em alguns casos, como o ilustrado abaixo uma Dendrobium nobile que fotografei na expo de Juiz de Fora/MG em 2007, apresentada na etiqueta como “Dendrobium nobile variegada por causa das folhas, as flores em si são de tipo. Seria o caso, acredito, de classificar como Dendrobium nobile tipo com folhas variegadas, para dar uma informação mais exata, especialmente para quem conhece mais possibilidades causando assim mais confusão se só basedao no nome, sem ver a planta. Variegada deriva do latim variegates (matizado).


Dendrobium nobile tipo com folhas variegadas” fica um nome maior, mas como é uma situação atípica esta de classificar uma variedade de orquídea com flores comuns mas com a parte vegetativa de certa forma rara. O que estou propondo neste caso nada mais é do que se adicionar níveis categóricos, assim como se faz na pedologia (ciência que classifica e estuda os solos e sua formação na natureza), quando necessário, assim como no caso de, por exemplo, diferenciar uma Cattleya intermedia tipo de uma Cattleya intermedia tipo trilabelo, no caso desta última ainda poderia ser Cattleya intermedia tipo aquini, mas como já existe a denominação trilabelo para as mesmas características em outras espécies de Cattleya, há mais tempo inclusive, e não desmerecendo a pessoa da qual o termo “aquini” deriva de seu nome, prefiro usar o termo trilabelo, justamente por ser mais lógico e auto-explicativo.

No caso das plantas com órgãos variegados (flores ou folhas) o que ocorre são anomalias localizadas, daria até para fazer uma analogia com uma quimera (da mitologia grega, um ser com cabeça de leão, corpo de cabrito e cauda de serpente), uma espécie de colcha de retalhos genética, que ainda assim só sobrevivem porque as partes verdes fotossintetizam o suficiente, as partes brancas armazenam o amido nos amiloplastos das suas células (amido secundário formado por açúcares que somente são produzidos e enviados pelas células que são verdes), já na parte verde, que também tem amido armazenado, o branco é mascarado pelo pigmento da clorofila, então não é só porque não seja visível que não esteja lá.

Onde queria chegar é no caso de se classificar plantas de com genes recessivos para a pigmentação de suas flores como albinas, como já comentei neste post intitulado Orquídeas albas e albinas.


Transcrevendo um trecho do supracitado post Acho muito estranho o emprego do termo "albina" para representar variedades de flores em alguns indivíduos que expressam características de genes recessivos na espécie com a pigmentação de suas flores.

Albinismo em botânica refere-se à ausência de pigmentação verde, ausência de clorofila, nas células das plantas.


É um tanto paradoxal a denominação dada pelos "estudiosos" e "entendidos" nos assuntos orquidófilos, referindo-se "albinas" às flores justamente por serem verdes, como é o caso das C. leopoldii, C. guttata ou a C. bicolor, nas suas formas de pigmentação recessivas, por exemplo, e não marrons, com ou sem pintas nestes casos, nas suas referidas coloração tipo...”
.

A meu ver a confusão é tanto generalizada para cultivadores amadores quanto para profissionais do ramo.

Vemos, por exemplo, uma Cattleya guttata com as pétalas e sépalas totalmente verdes (sem pintas) e com o labelo e coluna brancos sendo chamada de Cattleya guttata albina, e pouco mais adiante, uma Cattleya aclandiae também com as mesmas características de pétalas e sépalas totalmente verdes (sem pintas) e com o labelo e coluna brancos sendo chamada de Cattleya aclandiae alba. Em um outro orquidário vemos uma Cattleya guttata com as mesmas características sendo chamada de Cattlaya guttata alba, e em outro vemos uma Cattleya aclandiae com uma coloração bem suave, porém com pintas escuras nas pétalas e sépalas sendo chamada de Cattleya aclandiae albina, e assim por diante, são inúmeras as contradições por aí.

Com a intenção de melhor comunicar as características de algumas orquídeas que expressam a coloração mais recessiva de sua espécie na coloração predominantemente verde proponho (até onde eu sei esta proposta ainda não existia) a denominação viridis, talvez até virens, que ambas no latim significam “verde”, possuindo ainda derivações como viridescens (“quase verde”), espécies essas como provavelmente (provavelmente porque esta variação ainda não foi observada e relatada efetivamente em algumas espécies) Cattleya tenuis, Cattleya elongata, Cattleya bicolor, Cattleya velutina, Cattleya guttata, Cattleya tigrina, schofieldiana, Cattleya schilleriana, Cattleya granulosa, Cattleya aclandiae, Cattleya dormaniana e Cattleya forbesii, ficando, como um dos exemplos citados acima, Cattleya aclandiae viridis. Existem também indivíduos dessas espécies que apresentam flores nitidamente mais amareladas, indicando um baixo teor de clorofila em suas flores (e somente nas flores, sendo as folhas normais), talvez justificando nesses casos o uso do termo “flavens” (amarelo no latim, tendo ainda a derivação flavescens = quase amarela), a partir disso existindo então tanto as variedades Cattleya guttata flavens quanto Cattleya guttata viridis, respectivamente quando nitidamente predominar o amarelo e verde, por exemplo.

Ambas citadas são todas do grupo das Cattleyas bifoliadas, embora em outras bifoliadas como a Cattleya loddigesii, Cattleya amethystoglossa, Cattleya violaceae e Cattleya harrisoniana ocorram os indivíduos recessivos para coloração das flores apresentam-se predominantemente brancos, justificando o uso do termo “alba” (p. ex., Cattleya loddigesii alba).

Cores recessivas puxando para o verde ou amarelo são também observadas, dentre outras, em espécies do grupo dos Oncidiuns e Catasetuns, onde comumente se vê sendo empregado o termo “alba”, o que é interessante pelo aspecto de que aqueles que aplicam, muitas vezes sem a idéia do que viria a ser FORMALMENTE genes recessivos, porque fazem pela analogia com as cores recessivas mais comuns que é o branco da maioria das Laelias e Cattleyas, então a idéia de “recessividade” é presente ainda que no ar, e talvez encoberta pela necessidade de dizer que a planta seja "mais nobre" que o comum, e o termo "alba" é o que representa melhor esta idéia frente à maioria, mas empiricamente há alguma necessidade de passar este conhecimento adiante apenas dizendo um nome.

Aconteceu comigo também, está no post que citei no começo, onde disse que: Por desconhecimento de um termo melhor prefiro tratar esta planta ainda como Cohniella jonesiana alba (ou Oncidium jonesianum alba), embora a mesma não seja toda branca...”. Agora, pela ajuda do Américo Docha Neto, do Projeto Orchidstudium, tomei conhecimento de uma classificação mais coerente para a planta do caso, a então Cohniella jonesiana flavens.

Ainda que ano a ano a coloração de flor em uma mesma planta possa alterar sutilmente, do verde para um amarelado, do branco para um cor-de-rosa bem apagado, de um cor-de-rosa mais claro para um mais escuro... Acredito também que seja o caso de “ir na onda” delas e classificar a planta de acordo com a floração na ocasião.

Para terminar deixo uma pergunta: "Não chamar uma planta rara de alba denegriria sua imagem?"

5 comentários:

Marta disse...

oi, amigão
que devaneio qual nada
concordo com tua proposta, em gênero, número e grau
poem o link nas listas, para o povão aprender umas coizitchas legais

parabéns

abração
marta

Elton Valente disse...

Meu Ilustre,

Acho que você publicou aí um capítulo do nosso Livro que trata de taxonomia, senão, o capítulo já está pronto!

Estou ruminando umas idéias para um post (simples) no "Tateando Amarras" sobre relações solo vegetação, onde cito aquelas variações de cor por deficiência nutricional, principalmente nas plantas rupestres. Vou dar um jeito de por um "gancho" para "likar" seu texto, excelente texto. Ainda continuo acreditando que ele veio de um capítulo do livro.

Abração.

Valter Honorio disse...

Parabéns pelo blog!
Ainda estou aprendendo e o seu blog me é muito intrutivo.
Virei leitor!

Anônimo disse...

Marcus Vinicius! Gostaris q vc me recomendasse uma literatura sobre fisiologia das orquideas (se é q há), pois gostaria muito de saber qual é o mecanismo de fotossintese das orquidaceas c3 c4 ou mac? Encontrei coisas estranhas na internet tipo metabolismo cam e fotossintese c3 (artigo cientifico de uma biologa da usp.)O metabolismo se dá em função do mecanismo de fotossintese, certo? não ha como ter dois mecanismos, certo? Então? afinal?
obrigada
agrônoma, sc

Monique Botelho disse...

Parabéns pelo blog!!!Indicarei a uns amigos apaixonados por orquídeas!!Abraços