quarta-feira, 8 de abril de 2009

Habitats de orquídeas no Quadrilátero Ferrífero 2/2

Agora falando de orquídeas...

Fico um pouco com receio de colocar aqui algumas informações, porque algumas delas são, me atrevo a dizer, poderosas demais. Então por aqui vou colocar uma breve introdução do que seria o tipo de conteúdo de um dos livros sobre orquídeas que venho tentando concluir com um amigo, o Elton Valente do Geófagos (o livro "PAISAGENS, HABITATS E ECOLOGIA DE ORQUÍDEAS"), fruto de nossas andanças por aí, juntando revisão de literatura e nossas interpretações e opiniões sobre alguns fenômenos, quando a revisão nos deixa na mão, especialmente envolvendo padrões de dispersões das Orchidaceaes.

As cristas de quartizitos tendem a se orientarem na direção Norte - Sul, pelo contato entre os continentes africano e sul-americano ter sido também nesta direção, e consequentemente os soerguimentos dos planaltos, onde ficam as cristas, em decorrência disso no interior dos mesmos também. 

Esta disposição já é suficiente para propiciar dois grandes nichos ecológicos distintos, as faces Leste e a Oeste, por menor que seja a crista, como é o caso desta que é tema desses dois posts, uma face que recebe mais energia luminosa (a Oeste) do que a outra ao longo do dia. Acrecenta-se a isso o alto coeficiente de calor específico do silício (um dos elementos principais dos quartizitos) fazendo com que a temperatura de uma das faces se conserve mais alta em relação a outra até mais para o avançar da noite.

Na ocasião acabei por andar mais pela face Leste, e nela pude observar algumas Bulbophyllum sp., 










Epidendrum que acredito ser o Epidendrum secundum











e uma curiosa Pleurothallis (talvez esta nem pertença mais a este gênero) que aparece nas fotos abaixo:











Indo para a face Oeste, no meio da crista encontram-se o que acredito tratar-se de Coppensia blanchetii













e uma outra "rupestre" cujo o gênero ainda não desconfio:


Chegando na face Oeste da crista em pouco tempo vi muito mais biodiversidade e quantidade do que no muito tempo que andei pela face Leste, como a Acianthera teres





















uma outra Epidendrum





















e as laelias "rupestres" (Hoffmannseggella sp.), parecem-me serem da espécie Laelia crispilabia.












O hábito de classificar remonta desde os princípios da humanidade como uma forma de simplificar a maneira com que uma gama de informações é transmitida, então é crucial que as informações sejam verídicas e eficientes, ao ponto de muitas vezes atitudes dependerem dela, por isto insisto em manter as aspas para me referir a espécies de plantas "rupestres" porque é mais do que claro para mim que elas não vegetam simplesmente em cima das rochas, mas sim nas suas fendas onde há ao menos  1 ou 2 cm de solo, mas o ambiente em si, em uma escala macro, talvez até caiba a denominação de campo rupestre, penso eu. 

São detalhes como 1 ou 2 cm de profundidade de solo que fazem toda a diferença, não simplesmente a existência de rochas, que permitem ou não a ocorrência de orquídeas nesses geoambientes. Se a profundidade do solo aumentar a coisa começa a ficar mais propícia para espécies de desenvolvimento mais agressivo que as orquídeas, com oas  gramíneas, de modo que as orquídeas não se estabeleçem.

 Então os nichos ecológicos das orquídeas nos geoambientes de campos rupestres são no geral os pontos deles em que o recurso ecológico solo apresenta-se com uma pequena profundidade, e por enquanto na falta de outra opção prefiro me referir a elas como orquídeas de solos rasos de campos rupestres.

Adiantei algumas coisas do livro aqui, mas deixando claro que no mesmo haverá maior profundidade de conteúdo, e o apresentado aqui abordando posicionamento em relação ao caminhamento do Sol, altitude, temperatura e solo serviram para esta situação e não é geral, e que para o entendimento do padrão de dispersão dessas orquídeas é necessário cruzar outras informações, por exemplo, as pertinentes ao fator antrópico, pois neste caso, do lado Leste da crista havia uma rampa de acúmulo (solo ligeiramente mais preofundo) com um campo graminoso, por isso era a face mais susceptível ao fogo e talvez ainda tenha sido pastagem outrora, enquanto ao Oeste predominava escarpas de difícil acesso e próximo uma floresta ombrófila (menos susceptível ao fogo!), aí junta-se a extrema dificuldade das sementes destas orquídeas germinarem (Serra do Cipó III)...


No caminho algumas Catasetum sp. nas palmeiras à beira da estrada:













4 comentários:

  1. Muito interessantes estes artigos sobre o habitat das orquídeas.

    Muito obrigado por partilhar os seus conhecimentos.

    José Santos

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  2. José Santos, obrigado pela comentário e visita.

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  3. Marcus, parabéns pelo blogs.

    Mas lendo sobre a profundidade do solo me ocorreu que a chuva pode influenciar na retirada de terra e detritos. Não tenho dados cintificos mas me parece que na parte Leste chove mais que na parte oeste, pelo menos vejo assim na minha cidade.



    Paulo Fernandes
    Jaciara/MT

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  4. Caro Marcus,
    Em andanças recentes pela serra da moeda, mais específicamente em um trecho que toma o nome local de "serra da calçada", próximo ao condomínio "retiro das pedras", me chamaram a atenção algumas florzinhas amarelas que me pareceram ser orquídeas. Tirei uma boa foto de uma destas flores, sem, no entanto, ter fotografado as outras partes da planta. Será que vc poderia identificá-la para mim? Não sei ainda se há como te enviar a fotografia pelo blog (não entendo nada de blogs!). Poderia te enviar a foto por e-mail, se for o caso? Agradeço sua atenção! Carlos Campos - camposadv@yahoo.com.br

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