Caíram algumas fichas e fiquei desapontado com o que
É comum vermos touceiras de Arundina graminifolia nos canteiros dos jardins por aí, o que é interessante, sem dúvida, mas quando comparamos com o que se tem em países da Ásia, por exemplo, é impossível não sentir que estamos muito atrás deles.
Um exemplo da asiática porém bastante difundida no Brasil Arundina graminifolia plantada em um canteiro no Campus da Universidade Federal de Viçosa:
Arundina graminifolia - No Campus da Universidade Federal de Viçosa |
Agora alguns exemplos do que se pode ver em Cingapura:
-Mandai Orchid Garden - http://www.mandai.com.sg):
Vista do Mandai Orchid Garden, no fundo touceiras de Vanda - Foto de http://www.mandai.com.sg |
Vista do restaurante do Mandai Orchid Garden - Foto de http://alittledream02.livejournal.com/184793.html |
|
National Orchid Garden - Foto de http://en.wikipedia.org/wiki/File:Singapore_National_Orchid_Garden.jpg |
National Orchid Garden - Foto de http://vincenttraveljournal.blogspot.com/search?q=orchid |
|
|
Singapore Botanic Gardens - Foto de http://www.travelpod.com/travel-blog-entries/linzstoker/asia/1210977900/tpod.html#_ |
Uma coisa interessante a respeito da ecologia das vandas é que essas são consideradas hemiepífitas, ou seja, comumente não são epífitas durante todo o seu ciclo de vida, pois geralmente germinam na camada de resíduos orgânicos acima do solo, e na medida em que vão crescendo vão se apoiando e "escalando" em outras plantas. Vejam exemplos disto aqui: http://rejang-lebong.blogspot.com/2008/04/archive-for-nature-vanda-hookeriana.html.
Para epífitas de um modo geral, orquídeas e também bromélias, pteridófitas, briófitas, Araceas, líquens, etc., há um padrão de distribuição de cada espécie ao longo das "árvores hospedeiras" (tecnicamente essas árvores são denominadas de forófitas), a razão disso é que há um gradiente de umidade e luminosidade (as duas variáveis ambientais mais importantes para a distribuição de espécies de plantas) ao longo da altura da forófita.
No geral, microclimas mais úmidos e sombreados quanto mais se aproxima do chão, na base das árvores, e microclimas mais ensolarados e áridos na extremidade das copas das forófitas, havendo então um equilíbrio entre umidade e luminosidade preferencial para cada espécie de planta, equilíbrio este suportado por características fisiológicas (tipo de fotossíntes, eficiência de uso de água...), anatômicas (espessura de algumas camadas de vários tipos de células...) e morfológicas (tamanho e inclinação das folhas...) de cada planta.
As vandas e outras monopodiais como Campylocentrum, Renanthera, Angraecum e Phalaenopsis possuem caule do tipo aéreo, diferentemente das simpodiais como as Cattleyas, cujos caules são os pseudobulbos que no geral apresentam-se morfologicamente tendendo à fusiformes ("garrafinhas") .
Pseudobulbos são órgãos constituídos principalmente pelo parênquima aquífero que é um tecido especializado no armazenamento de água e de outros nutrientes, e embora caules de uma maneira geral sejam estruturas de reserva (não só de sustentação), os caules aéreos das orquídeas monopodiais são constituídos especialmente por esclerênquima (tecido fibroso de elevada rigidez e com baixo teor de água), e por isso os caules aéreos são bem menos eficientes que os pseudobulbos para reservarem recursos (água, nutrientes minerais e carboidratos produzidos pela fotossíntese).
Então temos a ocorrência de orquídeas monopodiais preferencialmente em microclimas relativamente mais úmidos, florestas nebulares e matas ciliares, por exemplo.
Plantas grandes como as vandas demandam grandes quantidades de recursos para crescerem (água, nutrientes minerais e luz), e devido aos seus caules de pouca capacidade de armazenamento desses recursos as vandas precisam estarem próximas das fontes deles, e o solo é como uma "caixa d'água" permanente e em lugares abertos há maiores insolações.
As vandas são de origem asiática mas essas das fotos acima nos jardins de orquídeas na Ásia são mais comumente híbridas, ou seja, necessariamente foram plantas micropropagadas e cultivadas em casas-de-vegetação até irem para os jardins, e outra coisa que me chama muito a atenção é a boa qualidade das instalações e das plantas cultivadas nos orquidários orientais.
Sei que preciso andar mais, mas o que tenho visto por aí até então na maioria são produtores comerciais de orquídeas bastante amadores no sentido de possuírem pouquíssimo embasamento técnico, o que para ser contornado a idade cronológica do indivíduo não conta muito.
Exemplos:
|
Cattleya violaceae sendo comercializada por um profissional do ramo de orquídeas em uma feira, planta subdesenvolvida, pseudobulbo mais novo menor que o anterior (X), indicando que a nutrição está inadequada. Raízes novas morrendo (X) pelo manejo inadequado para a combinação de substrato e vaso em que está. |
|
Frequentemente temos produtores profissionais de orquídeas cometendo os erros que são muito comuns entre os orquidófilos. Quem cultiva orquídeas em casa não tem a obrigação de ser extremamente eficiente no seu cultivo, tem orquídeas como hobby e direcionam suas atenções para coisas mais sérias em suas vidas, no entanto, com os profissionais já deveria ser diferente.
Não vou fazer propaganda aqui, mas creio que se os leitores a partir do que viram neste post buscarem na web orquidários do Brasil e da Ásia e analisarem criticamente suas imagens de cultivo notarão uma enorme diferença também, nem que seja para maquiarem seus produtos ao menos.
A idéia que eu espero ter transmitido aqui é que não é por coincidência que os asiáticos, sendo os que mais produzem ciência de orquídeas, pois são autores da maioria dos artigos científicos que temos hoje em dia, produzem orquídeas com bastante eficiência, e as usam de maneira exemplar em paisagismo inclusive.
Notem que as fotos dos jardins com orquídeas usadas por mim neste post foram em boa parte extraídas não de sites oficiais, e sim de blogs e de outros sites de viagem, pois foram feitas na maioria por turistas que, ao contrário de nós, não estão o tempo todo prestando atenção em orquídeas, mas diante de tais cenários parece ser impossível não ter a atenção despertada.
O Brasil tem a agricultura tropical mais eficiente do planeta porque produziu e vem produzindo muita ciência agronômica no decorrer dos anos, no entanto, me parece que é diferente com orquídeas, e há até uma certa arrogância dos produtores comerciais em buscar consultorias de técnicos especializados, deve ser porque plantando nesta terra mesmo que de qualquer jeito acaba dando alguma coisa...
Raíz morta em substrato ácido, o que induz a deficiências nutricionais na planta toda. |
Muito boa a sua materia. Estou começando a cultivar orquideas em casa... moro em ceilândia Df. Gostaria se for possivel que me enviasse material de como cultivar e se possivel algumas mudas posso pagar o frete. É que aqui so acho nos hipermercados apenas as phanaelopsis albina e dendobrium... Aguardo resposta ... sempre estou aqui lendo suas materias.. adoro.
ResponderExcluirSei que deve ser muito ocupado mais por favor me responda.