Eventualmente faço visitas técnicas em orquidários pelo país, mais recentemente fiz uma em uma produção de orquídeas, cujo foco principal é a produção de Phalaenopsis em vasos. Em acordo com o proprietário coloco algumas das observações neste post, tal como fiz há alguns anos atrás neste outro post (http://mvlocatelli.blogspot.com.br/2008/02/visita-tcnica.html).
Sabendo do histórico de aquisição das mudas, do tipo de material genético e dos tratos das plantas fui dando uma olhada, e foi possível notar que alguns sintomas nas Phalaenopsis sugerem que elas vem passando por um moderado, e
crônico, estresse hídrico.
Moderado porque apesar da falta d’água ter causado
alguns prejuízos no desenvolvimento das plantas, aparentemente o mesmo não tem
sido severo o suficiente para causar morte imediata das plantas, e crônico por
ser algo que vem sido tolerado pelas plantas há bastante tempo, de modo a
resultar em uma série e adaptações morfológicas que atualmente observamos nas
plantas.
As Phalaenospsis
são orquídeas epífitas monopodiais, ou seja, evoluíram para sobreviver
sobre os galhos de árvores, muito embora, por serem monopodiais, não possuam as
principais adaptações que permitem epifitismo em muitas espécies de
orquídeas, que é a formação de estruturas de armazenamento de água denominadas
de pseudobulbos, sendo assim, não acumulam grandes quantidades de água nos seus
corpos, e aliado a isso suas folhas largas proporcionam uma grande área de
perda de água.
De modo geral elas ocorrem em galhos baixos das
árvores em ambientes de pântanos na Ásia, ou seja, não acumulam água em si
porque evoluíram em um ambiente pouco dessecante, com o ar saturado, ou próximo
a ser saturado, de água o tempo todo, e as folhas largas são para captarem o
máximo possível do mínimo de luz que penetra pelas copas dessas árvores. (Exemplo de habitat de Phal. aqui https://www.youtube.com/watch?v=9F4vTvvfnng).
No orquidário, dentre os sinais de adaptação que
observamos para as condições secas se destacam a alta frequência de plantas com
seus caules bifurcados, em ocorrência de uma provável morte das gemas apicais
primárias devido à desidratação (Foto 1). Para algumas orquídeas monopodiais é
comum a bifurcação, no entanto isto não é comum em híbridas de Phalaenopsis, que estão entre as plantas
ornamentais mais cultivadas no mundo, e além disso, é tão pouco comum, ou
saudável, que o caule principal seque e morra, até que a única parte viva da
planta seja o caule adventício brotado na lateral.
Figura 1 - Exemplos de plantas de Phalaenopsis com caules adventícios brotados nos caules principais. |
Outros sintomas que reforçam o diagnóstico são a
presença de relativas poucas folhas por planta, em média 2 a 3 folhas, que, apesar
de túrgidas, são de dimensões muito mais reduzidas e arredondadas (Figura 2) em
relação às referências de outras Phalaenopsis
compatíveis geneticamente, e da mesma idade, porém em melhores condições de
desenvolvimento, e a emissão de muitas raízes exploratórias que saem do vaso em
direção às tábuas das bancadas, buscando mais água (Figura 3a).
Figura 2 - Exemplos de plantas de Phalaenopsis com poucas folhas arredondadas por plantas.
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No orquidário há algumas outras espécies de orquídeas que também podem contar muito sobre o cultivo e o ambiente, por exemplo, uma Dendrobium nobile amarrada em um toquinho de madeira, mas com todas as suas raízes crescendo em direção de uma touceira densa de Oncidium em cima da bancada (Figura 3b), o microclima em cima da touceira é bastante úmido em relação ao seu entorno.
Temos também algumas Phalaenopsis, mesmo material genético, cultivadas em substratos e
recipientes diferentes, de modo que também nos conta muito sobre elas, como na
figura 3c, que aparece uma dessas plantas em um recipiente em um vaso que cabe
muito mais substrato que a média que vem sendo utilizada, e por isso, proporcionalmente seu volume
interno demora mais para secar após regado, algo que se nota pela planta conservar mais
folhas, não estar bifurcada, as folhas tenderem a serem mais compridas, e as
raízes ainda não terem saído em busca de ambientes mais úmidos.
Temos também uma Cattleya schilleriana com um novo pseudobulbo relativamente bem
desenvolvido para os padrões da espécie, no entanto, devido a folha ter
começado a abrir abaixo da linha da bainha que está secando, conclui-se que o
broto potencialmente seria maior, e que isto não aconteceu porque faltou a
planta absorver e acumular água na quantidade certa para as suas células
incharem (tecnicamente hipertrofiarem) (Figura 4). As raízes dessa planta estão
sadias, então conseguem absorver toda a água que tem acesso, assim, faltou
mesmo o acesso a quantidades maiores de água. Algo sobre regas em orquídeas foi já postado por mim aqui (http://mvlocatelli.blogspot.com.br/2007/05/regas-em-orqudeas.html) e aqui (http://mvlocatelli.blogspot.com.br/2007/05/regas-em-orqudeas-ii_17.html).
Figura 4 – Cattleya
schilleriana demonstrando sinais de ligeiro estresse hídrico.
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Apesar das regas diárias em que se submete as orquídeas deste orquidário, e de que essas regas são da melhor maneira possível, ou seja, por meio de mangueira vaso a vaso, o principal substrato utilizada para as Phalaenopsis, uma mistura de brita 0 (ou pedrisco de construção) e argila expandida quebrada, não tem sido bom para armazenar água suficiente para atender a demanda dessas plantas para um desenvolvimento mais vigoroso.
No caso da referida Cattleya schilleriana, a mesma está em um cachepo com substrato de
pedaços de casca de peroba, em condições de maior ressecamento ainda, muito provavelmente
para o caso das cattleyas este sistema de cultivo das Phal. seria mais satisfatório, sendo as cattleyas orquídeas
simpodiais com pseudobulbos notoriamente bem desenvolvidos e eficientes para
armazenarem água.
O orquidário é muito ensolarado e ventilado, razão pela que a velocidade de remoção de água do seu interior pode ser considerado alta.
Na figura 5 vemos alguns exemplos de Phal. sob uma outra situação de cultivo,
com fornecimento e armazenamento de água próximos ao ideal.
Figura 5 – Phalaenopsis sem
sinais aparentes de estresse hídrico.
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Minhas recomendações técnicas para corrigir o problema ficaram para o proprietário, que me pagou pelo serviço, este post é para divulgar o meu trabalho, e a importância de se ter um engenheiro agrônomo dando assistência em um orquidário comercial, tal como se tem em qualquer outro tipo de atividade agrícola séria.
Marcus V. Locatelli
Orquidófilo há 20 anos
Engenheiro agrônomo
Mestre em Solos e Nutrição de Plantas
Concluindo o Doutorado em Solos e Nutrição de Plantas
Cursando Especialização em Proteção de Plantas
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