sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Formulaçao do meio de cultura para o cultivo "in vitro" de boa parte das orquídeas

Recebi alguns emails questinando-me a respeito deste assunto, o qual por aí vê-se das coisas mais diversas, algumas receitas caseiras chegam a ser verdadeiras saladas de frutas, outras exigem sais e outros componentes de grande pureza, tornando-se impraticáveis os objetivos nas quais foram propostas, ou seja, de serem "caseiras" e portanto, acessíveis.

O que tenho feito para fazer as semeaduras e transferência entre frascos para crescimento dos meus cruzamentos, para cada litro de solução é o seguinte:

-200 mL de água de coco, tanto faz ser natural, coco aberto na hora, ou das de caixinha;

-25 g de sacarose (açúcar cristal de preferência);

-3 g de adubo solúvel qualquer , o recomendado é o de formulação 10-30-20, pode ser Peters®, Ouro Verde® e outros similares;

- २ ग carvão em pó ativado .

Misturados todos estes ingredientes e com o volume total completado com água, por desencargo de conciência filtrada ou de fonte, até atingir a marca de 1 litro, leve para o fogo brando, de preferência em uma leiteira. Adicione de 7g a 15g de ágar ou kanten, encontrado facilmente em lojas de produtos alimentícios orientais, enquanto ainda estiver frio, porque do contrário às vezes empelota. A quantidade vai depender da pureza do mesmo, conseqüente da marca utilizada (para os mais comuns encontrados utilize cerca de 11 g/L).

Depois de levado ao fogo, vá misturando constantemente, com uma colher de plástico ou de madeira, até notar que os ingredientes todos (atentos ao ágar, este deve estar bem cozido) formaram uma solução visualmente homogênea, o ponto é notado devido as bolhas de ar maiores que surgem.

Imediatamente, despeje nos frascos um volume compatível a uma altura de cerca de 1 dedo no fundo do frasco utilizado.

No que se refere ao adubo, pode-se utilizar até mesmos os fluidos, cabendo ao praticante testar qual a concentração adequada, logicamente quanto melhor o adubo melhor o resultado, especialmente no crescimento das plantas, quando elas passam a exigir maiores quantidades de nutrientes.

Cuidado para não se adicionar mais ágar que o necessário, caso contrário o meio ficará muito duro, dificultando e até impedindo, a penetração das raízes e a absorção de nutrientes pelas plantas. Já com menos ágar que o necessário, o meio ficará aquoso, acarretando numa série de fatores que também dificultam, e até inibem, o bom desenvolvimento das plântulas. O ideal é o meio firme (consistente) e macio (facilmente penetrável).

O carvão pode ser aquele em drágeas que costumam ter 250 mg de carvão em pó ativado cada, fácil de se encontrar em farmácias homeopáticas e de manipulação, aí é só jogar 8 por litro, não precisa tirar o conteúdo da capinha da drágea.

Aí seguem os passos de esterelização do meio e inoculação de plantas normais, panela de pressão ou auto-clave e capela ou câmara de fluxo laminar.

Existem outros métodos mais alternativos ainda, sem a necessidade do uso dessas parafernalhas supracitadas, podendo ser feito em cima da pia da cozinha, na mesa de jantar, etc. Mas por enquanto um amigo que aperfeiçoou a técnica não publicou, e seria sacanagem com ele divulgar antes, o que sem dúvida vai revolucionar o tema, mais aguardem.

Voltando à composição do meio... Simples assim, sem nada de hormônios, correção de pH, pois com a adição da água de coco teremos um pH tamponado num valor dentro duma faixa boa , tudo pode ser pesado com as balanças mais simples de lojas de 1,99, que para fins de produção é mais do que suficiente, porém com algumas excessões, por exemplo Phalaenopsis germinam pouco neste meio, em compensação as Cattleya, Laelia, Epidendrum... Vão muito bem, inclusive melhores do que nos meios mais consagrados como MS, GB5 e Knudson.

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

O uso do AIB em orquídeas

O tratamento com substâncias exógenas (não vindas da própria planta) reguladoras de crescimento vegetal, ou substâncias fitorreguladoras, muitas vezes é determinante para a sobrevivência e bom pegamento de mudas, especialmente quando se faz necessário o replantio em épocas não adequadas, ou seja, aquela em que as raízes novas demorarão a brotar, o que acontece geralmente após o crescimento do novo pseudobulbo.
O ácido 4-indol-3-butírico (AIB), com eficiência cientificamente comprovada para induzir o enraizamento adventício em fragmentos de plantas, é uma dessas substâncias mais empregadas na agricultura.













Nas fotos acima, uma Cattleya amethystoglossa que peguei do lixo de um amigo, "Oba!", pensei, "minha primeira ametista". Com as setas vermelhas a parte traseira que havia sido descartada, após o tratamento, pra minha surpresa quando retornei para Marília-SP, onde fica meu orquidário, nas minhas férias escolares em Viçosa-MG, após 4 meses, havia brotado pseudobulbos vigorosos, embora mais curtos que o normal (setas azuis), aí no ano seguinte duas frentes floridas, e neste, o terceiro, outras duas hastes de flor e precisando plantar em um cachepô maior, meu amigo, o dono do lixo, não acreditou, pois está melhor que a parte dianteira da touceira que ele ficou, conclusão, hoje em dia ele não é mais desacreditado de pseudobulbos velhos, os quais não sobram mais pra mim...
Quando o AIB é aplicado diretamente no rizoma, é absorvido e consequentemente estando em maiores concentrações nesta parte da planta do que nas restantes, desencadeia processos de formação de calos (tecidos não diferenciados), que são precursores na formação de raízes.
Por outro lado, é bom salientar que doses excessivas do AIB podem acarretar em inibição da formação de raízes. Portanto, recomenda-se o uso deste regulador apenas numa etapa inicial, para o plantio de mudas com poucas raízes e sem sinais aparentes de emissão de raízes novas num breve espaço de tempo, foto abaixo uma Bc. Pastoral 'Innocense', que foi tratada e transplantada para um cachepô pois estava num vaso muito infestado de caramujos.

Também no caso de plantas com suas raízes bastante atacadas por lesmas e caramujos, pode-se fazer o tratamento sem que a retire do vaso, caso o substrato seja novo, a planta recém plantada, etc. Primeiro deve-se resolver o problema de infestação por estas pragas. Em seguida, realiza-se uma única rega com uma solução de AIB na mesma concentração, sem precisar que a planta seja desenvasada.
As fotos abaixo foram tiradas na casa de uma conhecida, a esquerda, uma Hadrolaelia jongheana, tida com planta muito "enjoada" por muitos, devido sua característica de se desidratar muito facilmente, com muito vigor após o tratamento com AIB, que propiciou o surgimento de raízes para absorção de água e nutrientes rapidamente, a direita, uma C. amethystoglossa vinda do mato, com a dianteira avariada, tratada e na ocasião desta foto 1 mês após o plantio.










Só "fazendo um gancho" em relação à coleta de plantas no habitat, todo mundo sabe que é proibido, salvo situações especiais, e todo mundo sabe que acontece, não querendo fazer algum incentivo, mas se isto acontecer é melhor que as plantas sobrevivam, o AIB ajuda.
Como fazer o tratamento com AIB?
Bom, não sei, estou iniciando um experimento justamente para padronizar o uso desta substâncias em orquídeas, dependendo da fonte, por exemplo se for diluído no talco na concentração de 500 ppm (0,5 g/kg), e se eu tiver muitas plantas necessitando de tratamento no momento, diluo uma colher de sobremesa, numa quantidade equivalente de álcool, e esta pastinha diluo em 3 L de água, despejo num balde que proporcione que este volume seja contido em uns 5 cm de altura, e lá deixo as mudas com o rizoma e algumas raízes limpas de resto de substrato submersos por cerca de 1 hora, outra coisa que parece que tem funcionado é pingar 1 ou 2 gotas de AIB 2000 ppm (2 g/L) dissolvido no álcool no rizoma de uma muda.
Para espécies de plantas arbóreas, por exemplo, fruteiras e essências florestais, muitos trabalhos demonstram, numa média, que mergulhando a estaquinha direto no talco com 1000 ppm de AIB e imediatamente as plantar em saquinho funciona, mas as condições de orquídeas acredito que seja inviável, primeiro porque o desperdício de produto é maior, e depois porque quando amarramos as mudas em cascas de madeira na primeira irrigação o talco é lavado, além do que os rizomas das orquídeas em geral são bastante lignificados, sendo portanto a efetividade do tratamento comprometida por algum impedimento de absorção, acredito que se tem que otimizar isto, a imersão em água daria digamos, uma bagunçada na estrutura e conformação desses impedimentos físicos e químicos da planta, aumentando sua permeabilidade, o que acredito que é aumentado com o álcool.
Outros promotores de enraizamento em plantas são conhecidos, alguns até mais acessíveis que o AIB, como os fertilizantes relativamente mais enriquecidos com o micronutriente zinco encontrados em qualquer loja de produtos agrícolas, que é um componente de uma enzima essencial para a síntese do fitormônio AIA a partir do aminoácido triptofano, no caso o AIB é um correspondente sintético, e que por ser mais estável na presença de luz e temperatura mais elevada, é o mais usado.
Um questionamento que tenho, é que será que usando diretamente um análogo ao hormônio AIA, no caso o AIB, a planta economizaria energia a ponto desta economia ser suficientemente determinante na sobrevivência daquele material vegetal mais avariado, uma vez que a síntese de proteínas em si é muito custosa energeticamente para todos os seres vivos?????????