terça-feira, 30 de outubro de 2007

Uma Orchidaceae onde era um mar no Proterozóico

Uma rocha trabalhada pelos agentes de clima e seres vivos ao longo do tempo resulta em um solo com características particulares desta interação, o resultado disso está como frases em páginas de um livro de história contando as oscilações de clima na região a qual se insere, no caso aqui, os solos da região de Bom Jardim de Minas - MG, as rochas que predominam são os xistos (ou lousas para os portugueses), que são rochas de origem sedimentar resultantes do tratamento com pressão e alta temperatura (metamorfismo) que o barro (argila) depositada no fundo do mar que existia ali no Proterozóico sofreu (no latim, Proterozóico = "primeira vida”, compreendeu de 2,5 bilhões a 500 milhões de anos atrás, quer dizer, muito antes aos dinossauros) . Embora hoje a região tenha uma altitude de cerca de 1200 m, e seja o divisor de águas das cabeceiras do Rio Grande e do Rio Paraíba do Sul.

Estes solos nasceram velhos, ou seja, inicialmente rochas de origem vulcânica viraram solos que foram erodidos e depositados no fundo desse mar, e este material transformou-se em rochas por metamorfismo e estas em solos novamente, por isso são de baixa fertilidade (predominam Cambissolos Háplicos alumínicos) tendo o ciclo do café passado ali e não aguentado muito tempo por conta disso, e hoje em função da pobreza dos solos a região é caracterizada também por um relativo vazio populacional humano, e a vegetação é campestre (também pela baixa fertilidade do solo), a família vegetal Asteraceae, principalmente uma espécie de candeia, predomina.

Numa viagem da disciplina de Pedogeomorfologia, como qualquer "orquidoido" que se preze não pude deixar de reparar nos barrancos, pra minha surpresa numa única parada uma Zygopetalum sp., bem definhada, serviu pra uma foto tipo “capa de livro” por mostrar bem o resultado da erosão laminar, onde o escorrimento d’água remove o solo em camadas superficiais, esta touceira tinha pseudobulbos maiores, que na foto não aparecem por estarem soterrados, o que leva-nos a imaginar que ela também rolou um bocado para chegar até ali, talvez estivesse soterrada por completo em algum momento,.

Apesar do ambiente hostil está se reerguendo, notem o líquen, o solo é pobre mas o ambiente tem água, existem líquens colocando nitrogênio no sistema, graças à umidade. Foi só uma parada que tive oportunidade de fazer, imagino o que deve abrigar esta vasta região.

Uma planta adaptada à estas condições teria que ter além de uma alta eficiência em aquisição de nutrientes, uma boa relação de utilização destes, quer dizer, evoluíram para extrair do solo algo perto do máximo de nutrientes que este teria para fornecer, e que aliado a isso possuem um elevado Coeficiente de Utilização Biológica (CUB).

O CUB é a quantidade de matéria seca vegetal (em massa) por unidade de massa do nutriente, exemplificando com soja, após as análise de teores de nutrientes na matéria seca de grãos produzidos estimou-se que a lavoura (conjunto de plantas) produziu 250 kg de matéria seca de grãos para cada kg de fósforo que ela absorveu (CUB = 250 kg/kg), ou seja, outra lavoura que proporcionasse uma produção de 300 kg de matéria seca de grãos para cada kg de fósforo absorvido (CUB = 300 kg/kg) seria mais eficiente na utilização deste nutriente.

Quantos quilogramas de matéria seca uma C. walkeriana conseguiria produzir para cada quilograma de cálcio no cerrado em cima de rochas calcárias (ricas em Ca)? E as walkerianas de cerrado em cima de rochas pelíticas (pobres em Ca), usariam melhor o pouco Ca disponível?

Imaginem as orquídeas deste ambiente se bem cuidadas, sem limitação de recursos.














terça-feira, 2 de outubro de 2007

ausência

Quero aproveitar a oportunidade de explicar-me aos leitores mais frequentes (se é que existem) da minha relativa falta de posts novos, ando numa fase crítica no mestrado, estou fazendo algumas revisões bibliográficas, bem como definindo a metodologia do meu trabalho para concluir meu projeto cujo prazo se encerra em novembro, aí soma-se algumas provas, etc.
Também vou escrevendo algo sobre nutrição e fertilização de orquídeas, pois apesar das minhas consecutivas prorrogações no prazo da enquete, nota-se que em disparado este é o assunto mais requisitado.
Abraço a todos, e até breve.

Armazenamento de sementes de orquídeas

Segue aí um jeito simples, barato e eficiente de armazenar sementes de orquídeas:

1º Passo. É importante que o fruto esteja maduro, já entrando em processo de senescência, ou seja, amarelando no local das cicatrizes da soldadura dos 3 lóculos vestigiais, ou já parcialmente aberto (vide fotos abaixos, um fruto de Hadrolaelia jongheana), pois isto é um indicativo de que as sementes já se encontram relativamente secas. A literatura menciona cerca de 6 % de umidade em base seca nesta fase.











2º Passo. Com uma boa observação das características supracitadas, basta abrir o fruto em cima duma folha de papel toalha e entornar as sementes, quanto menos se raspar o fruto para retirar as sementes de seu interior melhor, pois diminui o risco de ir junto algum resíduo de polpa com um teor de umidade maior, o que facilitaria a decomposição.
As sementes colhidas numa fase adequada, e é claro se viáveis (com embrião sadio), praticamente não ficam a deriva no ar, justamente por estarem mais densas (fotos abaixo).





















3º Passo. Agora é só dobrar a folha de papel toalha, fazendo desta um envelope. Ao longo de todo processo é importante que o ambiente, assim como o material, esteja seco, ou seja, num dia chuvoso é conveniente fechar alguma janela que dê passagem ao ar mais úmido vindo de fora da casa, certificar-se se não caiu gotas d'água no papel toalha após se lavar as mãos, e outras coisas deste tipo.





















4º Passo. Identificar o cruzamento, com a respectiva data de coleta e início de armazenamento do material.



5º Passo. Colocar dentro de um saquinho e fechar com um nó para não entrar tanta umidade da geladeira. Um por cruzamento, de preferância, para se evitar a contaminação de sementes em outro cruzamento.











6º Passo. Guardar na geladeira na regulagem em que esteja habituado a utilizar em casa, evitar algum compartimento na porta da mesma, pois nestes as sementes estarão sujeitas a uma maior oscilação de temperatura, o que não é adequado.

Tenho sementes que foram armazenadas por até 3 anos deste modo e que permanecem com poder de germinação semelhantes (para não dizer com o mesmo) de quando as sementes eram novas. Não precisa de sílica gel para absorver umidade, só tomando precauções de você não iniciar o armazenamento das sementes com excesso de umidade, assim como evitar que estas não entrem em contato com a umidade da geladeira já é suficiente.

sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Formulaçao do meio de cultura para o cultivo "in vitro" de boa parte das orquídeas

Recebi alguns emails questinando-me a respeito deste assunto, o qual por aí vê-se das coisas mais diversas, algumas receitas caseiras chegam a ser verdadeiras saladas de frutas, outras exigem sais e outros componentes de grande pureza, tornando-se impraticáveis os objetivos nas quais foram propostas, ou seja, de serem "caseiras" e portanto, acessíveis.

O que tenho feito para fazer as semeaduras e transferência entre frascos para crescimento dos meus cruzamentos, para cada litro de solução é o seguinte:

-200 mL de água de coco, tanto faz ser natural, coco aberto na hora, ou das de caixinha;

-25 g de sacarose (açúcar cristal de preferência);

-3 g de adubo solúvel qualquer , o recomendado é o de formulação 10-30-20, pode ser Peters®, Ouro Verde® e outros similares;

- २ ग carvão em pó ativado .

Misturados todos estes ingredientes e com o volume total completado com água, por desencargo de conciência filtrada ou de fonte, até atingir a marca de 1 litro, leve para o fogo brando, de preferência em uma leiteira. Adicione de 7g a 15g de ágar ou kanten, encontrado facilmente em lojas de produtos alimentícios orientais, enquanto ainda estiver frio, porque do contrário às vezes empelota. A quantidade vai depender da pureza do mesmo, conseqüente da marca utilizada (para os mais comuns encontrados utilize cerca de 11 g/L).

Depois de levado ao fogo, vá misturando constantemente, com uma colher de plástico ou de madeira, até notar que os ingredientes todos (atentos ao ágar, este deve estar bem cozido) formaram uma solução visualmente homogênea, o ponto é notado devido as bolhas de ar maiores que surgem.

Imediatamente, despeje nos frascos um volume compatível a uma altura de cerca de 1 dedo no fundo do frasco utilizado.

No que se refere ao adubo, pode-se utilizar até mesmos os fluidos, cabendo ao praticante testar qual a concentração adequada, logicamente quanto melhor o adubo melhor o resultado, especialmente no crescimento das plantas, quando elas passam a exigir maiores quantidades de nutrientes.

Cuidado para não se adicionar mais ágar que o necessário, caso contrário o meio ficará muito duro, dificultando e até impedindo, a penetração das raízes e a absorção de nutrientes pelas plantas. Já com menos ágar que o necessário, o meio ficará aquoso, acarretando numa série de fatores que também dificultam, e até inibem, o bom desenvolvimento das plântulas. O ideal é o meio firme (consistente) e macio (facilmente penetrável).

O carvão pode ser aquele em drágeas que costumam ter 250 mg de carvão em pó ativado cada, fácil de se encontrar em farmácias homeopáticas e de manipulação, aí é só jogar 8 por litro, não precisa tirar o conteúdo da capinha da drágea.

Aí seguem os passos de esterelização do meio e inoculação de plantas normais, panela de pressão ou auto-clave e capela ou câmara de fluxo laminar.

Existem outros métodos mais alternativos ainda, sem a necessidade do uso dessas parafernalhas supracitadas, podendo ser feito em cima da pia da cozinha, na mesa de jantar, etc. Mas por enquanto um amigo que aperfeiçoou a técnica não publicou, e seria sacanagem com ele divulgar antes, o que sem dúvida vai revolucionar o tema, mais aguardem.

Voltando à composição do meio... Simples assim, sem nada de hormônios, correção de pH, pois com a adição da água de coco teremos um pH tamponado num valor dentro duma faixa boa , tudo pode ser pesado com as balanças mais simples de lojas de 1,99, que para fins de produção é mais do que suficiente, porém com algumas excessões, por exemplo Phalaenopsis germinam pouco neste meio, em compensação as Cattleya, Laelia, Epidendrum... Vão muito bem, inclusive melhores do que nos meios mais consagrados como MS, GB5 e Knudson.

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

O uso do AIB em orquídeas

O tratamento com substâncias exógenas (não vindas da própria planta) reguladoras de crescimento vegetal, ou substâncias fitorreguladoras, muitas vezes é determinante para a sobrevivência e bom pegamento de mudas, especialmente quando se faz necessário o replantio em épocas não adequadas, ou seja, aquela em que as raízes novas demorarão a brotar, o que acontece geralmente após o crescimento do novo pseudobulbo.
O ácido 4-indol-3-butírico (AIB), com eficiência cientificamente comprovada para induzir o enraizamento adventício em fragmentos de plantas, é uma dessas substâncias mais empregadas na agricultura.













Nas fotos acima, uma Cattleya amethystoglossa que peguei do lixo de um amigo, "Oba!", pensei, "minha primeira ametista". Com as setas vermelhas a parte traseira que havia sido descartada, após o tratamento, pra minha surpresa quando retornei para Marília-SP, onde fica meu orquidário, nas minhas férias escolares em Viçosa-MG, após 4 meses, havia brotado pseudobulbos vigorosos, embora mais curtos que o normal (setas azuis), aí no ano seguinte duas frentes floridas, e neste, o terceiro, outras duas hastes de flor e precisando plantar em um cachepô maior, meu amigo, o dono do lixo, não acreditou, pois está melhor que a parte dianteira da touceira que ele ficou, conclusão, hoje em dia ele não é mais desacreditado de pseudobulbos velhos, os quais não sobram mais pra mim...
Quando o AIB é aplicado diretamente no rizoma, é absorvido e consequentemente estando em maiores concentrações nesta parte da planta do que nas restantes, desencadeia processos de formação de calos (tecidos não diferenciados), que são precursores na formação de raízes.
Por outro lado, é bom salientar que doses excessivas do AIB podem acarretar em inibição da formação de raízes. Portanto, recomenda-se o uso deste regulador apenas numa etapa inicial, para o plantio de mudas com poucas raízes e sem sinais aparentes de emissão de raízes novas num breve espaço de tempo, foto abaixo uma Bc. Pastoral 'Innocense', que foi tratada e transplantada para um cachepô pois estava num vaso muito infestado de caramujos.

Também no caso de plantas com suas raízes bastante atacadas por lesmas e caramujos, pode-se fazer o tratamento sem que a retire do vaso, caso o substrato seja novo, a planta recém plantada, etc. Primeiro deve-se resolver o problema de infestação por estas pragas. Em seguida, realiza-se uma única rega com uma solução de AIB na mesma concentração, sem precisar que a planta seja desenvasada.
As fotos abaixo foram tiradas na casa de uma conhecida, a esquerda, uma Hadrolaelia jongheana, tida com planta muito "enjoada" por muitos, devido sua característica de se desidratar muito facilmente, com muito vigor após o tratamento com AIB, que propiciou o surgimento de raízes para absorção de água e nutrientes rapidamente, a direita, uma C. amethystoglossa vinda do mato, com a dianteira avariada, tratada e na ocasião desta foto 1 mês após o plantio.










Só "fazendo um gancho" em relação à coleta de plantas no habitat, todo mundo sabe que é proibido, salvo situações especiais, e todo mundo sabe que acontece, não querendo fazer algum incentivo, mas se isto acontecer é melhor que as plantas sobrevivam, o AIB ajuda.
Como fazer o tratamento com AIB?
Bom, não sei, estou iniciando um experimento justamente para padronizar o uso desta substâncias em orquídeas, dependendo da fonte, por exemplo se for diluído no talco na concentração de 500 ppm (0,5 g/kg), e se eu tiver muitas plantas necessitando de tratamento no momento, diluo uma colher de sobremesa, numa quantidade equivalente de álcool, e esta pastinha diluo em 3 L de água, despejo num balde que proporcione que este volume seja contido em uns 5 cm de altura, e lá deixo as mudas com o rizoma e algumas raízes limpas de resto de substrato submersos por cerca de 1 hora, outra coisa que parece que tem funcionado é pingar 1 ou 2 gotas de AIB 2000 ppm (2 g/L) dissolvido no álcool no rizoma de uma muda.
Para espécies de plantas arbóreas, por exemplo, fruteiras e essências florestais, muitos trabalhos demonstram, numa média, que mergulhando a estaquinha direto no talco com 1000 ppm de AIB e imediatamente as plantar em saquinho funciona, mas as condições de orquídeas acredito que seja inviável, primeiro porque o desperdício de produto é maior, e depois porque quando amarramos as mudas em cascas de madeira na primeira irrigação o talco é lavado, além do que os rizomas das orquídeas em geral são bastante lignificados, sendo portanto a efetividade do tratamento comprometida por algum impedimento de absorção, acredito que se tem que otimizar isto, a imersão em água daria digamos, uma bagunçada na estrutura e conformação desses impedimentos físicos e químicos da planta, aumentando sua permeabilidade, o que acredito que é aumentado com o álcool.
Outros promotores de enraizamento em plantas são conhecidos, alguns até mais acessíveis que o AIB, como os fertilizantes relativamente mais enriquecidos com o micronutriente zinco encontrados em qualquer loja de produtos agrícolas, que é um componente de uma enzima essencial para a síntese do fitormônio AIA a partir do aminoácido triptofano, no caso o AIB é um correspondente sintético, e que por ser mais estável na presença de luz e temperatura mais elevada, é o mais usado.
Um questionamento que tenho, é que será que usando diretamente um análogo ao hormônio AIA, no caso o AIB, a planta economizaria energia a ponto desta economia ser suficientemente determinante na sobrevivência daquele material vegetal mais avariado, uma vez que a síntese de proteínas em si é muito custosa energeticamente para todos os seres vivos?????????

domingo, 24 de junho de 2007

E as guttatas mineiras?????

No último fim de semana, fui neste que provavelmente é um dos últimos redutos de Cattleya guttata em MG, que em breve será inundado pela construção de uma hidroelétrica (questiono a denominação que dão para este tipo de obtenção de energia, "limpa"...), em outras ocasiões, infelizmente sem máquina fotográfica disponível, encontrei do outro lado do rio muitas touceiras de guttatas adultas, algumas com o aspecto vegetativo que lembra as da região do pontal no ES, muito vigorosas, pseudobulbos altos (cerca de 1 m).
Na margem de mais fácil acesso, ainda é possível localizar alguns seedlings que sempre passam despercebidos pelos coletores, estes vindos de várias localidades de Minas segundo relatos. Desta última vez, com pouco tempo que tínhamos e devido ao rio muito cheio, não o atravessamos pelas pedras como de costume, nos remansos constatamos com bambus alguns pontos com mais de 3 m de profundidade, inclusive ouvimos casos recentes de afogamentos de pessoas no local, melhor esperar mais um mês pra retornar com o rio mais baixo.











Embora seja de acesso difícil, longo trecho de estrada de chão e muito serpentiada, é um dos lugares mais bonitos que visitei, que além de Cattleya guttata, muitas Schomburgkia crispa , Maxillaria pumila (com touceiras "enchuveiradas" métricas), também grandes touceiras de Encyclia patens e Aspasia lunata, Maxillaria valenzuellana, 2 espécies muito distintas de Campylocentrum dentre outras micros e bromélias.
Ainda uma curiosidade da região, histórico de colonização muito antiga, em algumas propriedades ainda existem os troncos e correntes de escravos, e uma comunidade quilombola que será remanejada para outra localidade. Sobre um solo inicialmente relativamente fértil, na região predominam os Argissolos, mas há manchas de Nitossolo Vermelho (e na classificação antiga, Terra Rocha Estruturada), originados de gnaisse do grupo piedade, que segundo relatos da população local, já se encontra "cansado" devido à exploração intensa iniciada com o café há quase 2 séculos, sem qualquer adição de adubo. Gosto de relacionar as condições que levam à gênese de alguns solos com a distribuição de algumas espécies de orquídeas, espero dispor de alguns resultados mais concretos em breve.











Parece-me que as populações de guttatas em MG encontram-se nos domínios de solos com horizonte B textural sob condições de menores altitudes (aproximadamente 300 m), na região da Zona da Mata, evidentemente com uma forte ligação com fatores pretéritos, como por exemplo, os que levaram a uma relativa maior formação de argilas finas no horizonte A, indícios de climas mais secos numa época anterior e atualmente, regiões com evapotranspiração potencial geralmente maior que o índice pluviométrico anual, sendo assim só encontradas às margens de rios encachoeirados, a propósito, pudemos notar que a densidade de indivíduos desta espécie era maior justamente onde se tinha águas mais agitadas, o que é fácil imaginar o porquê, pois quando caminhamos ao longo das margens sentimos a temperatura bem mais amena nesses trechos.
































O estudo da relação solo-paisagem, deixando uma ressalva maior nos aspectos de gênese dos solos, parece ser uma ferramenta importante no entendimento da dispersão geográfica de algumas espécies de orquídeas, por exemplo, conheço um outro habitat, muito próximo e bem semelhante a estes das C. guttata, rio bastante encachoeirado, etc. Porém com maior altitude (cerca de 1000 m), sendo frequênte os horizontes A húmicos, é o habitat da C. bicolor, Sophonitis cernua, Miltonia spectabilis, Isochillus linearis, dentre outras.

quarta-feira, 23 de maio de 2007

Desculpas

O Orquidofilia e Orquidologia pede desculpas aos leitores pela falta de postagens novas, esperamos voltar às normalidades neste próximo fim de semana.

quinta-feira, 17 de maio de 2007

Regas em orquídeas II

Aqui já foi mencionado alguma coisa sobre regas em orquídeas, e dando seqüência, alguns outros aspectos como freqüência de irrigação e problemas com excesso e falta d'água.
O que se vê em muitos panfletos distribuídos nas exposições por aí, referentes à periodicidade, é algo como "tantas" vezes por semana no verão e tantas no inverno. Na verdade isto vai depender de uma série de variáveis como tipo de recipiente (plástico, barro, cachepô, etc.), bem como substrato (xaxim, fibra de coco, etc.), tamanho do recipiente (os maiores proporcionalmente acumulam água por mais tempo), e como não é de costume uma padronização de tudo entre nós amadores, onde gostamos de um pouco de tudo e cultivamos num monte de coisa diferente na mesma bancada (foto ao lado, a bancada de um conhecido), vai um pouco de jogo de cintura que adquirimos com o tempo, além dos critérios que obtidos quando estudamos a espécie e os materiais em que cultivamos .
Prefiro fazer a irrigação quando está quase tudo seco, meio que tentando adiar ao máximo até antes que as plantas mais dependentes de água, ou que geralmente estão nos vasos que secam primeiro, comecem a sentir, e que os vasos que demoram mais pra secar não fiquem com água em demasia.
É claro, isto é possível dentro de certo limite, acho importante tentarmos dispor de outros artifícios dentro deste jogo de compensação, como ainda na foto acima, as Hadrolaelia sincorana plantadas no sistema casquinha pra fora, numa tentativa de atenuar o efeito da água em demasia por um tempo maior no vaso.

Ao lado, plantas relativamente bem no plano de fundo da foto a qual centrada vemos uma Oncidium seca por falta de água, pode ter faltado uma camadinha de sphagnum entre o palito de xaxim e o rizoma da planta e talvez também, molhar um pouco mais, seria possível que as que estão bem ainda não sentissem o excesso.
Dizendo de uma maneira mais geral, prefiro irrigar no sistema "secou molhou". No verão, ficando muito seco todo dia, água todo dia de tarde então, além de tentar homogeneizar meus "modos" de cultivo, mas quando não é possível, ou intencionalmente, faço alguma coisa diferente, por exemplo, as plantas penduradas plantadas em cachepô, as das bancadas com vaso de plástico com brita (substrato com boa drenagem, foto abaixo), e as penduradas só fixadas numa casquinha entre estas e a planta uma fina camada de sphagnum ao menos, e parece que tem dado certo.










Abaixo, mais alguns exemplos de plantas com sintomas de falta d'água, na sequência: Sophronitis cernua e Maxillaria rufescens.







Agora, uma Miltassia desidratada em conseqüência do excesso de água no substrato (ao lado), por mais que molhemos os pseudobulbos, devido a permeabilidade restrita de água para seu interior, eles não conseguem absorver por eles mesmos toda água de que necessitam, pois o órgão principal de absorção de água e nutrientes destas, as raízes, morreram devido à falta de oxigenação do substrato, então quanto mais se molhou esta, maior deficiência de água foi proporcionada à mesma.

Outros problemas parecidos, nas fotos abaixo, também na sequência, uma Blc. com suas raízes apodrecidas no ambiente de maior anaerobiose do que suas raízes agüentaram, neste caso é possível ver uma nova brotação, com pequeno potencial a se tornar um pseudobuldo com vigor semelhante ao seu antecessor por motivo de absorção de água e nutrientes aquém da necessidade, também por falta de raízes. Problema mais evidenciado ao lado, um híbrido num vaso de xaxim que acumula muita umidade, já dando sinais de subdesenvolvimento e deficiência de talvez fósforo e magnésio, e uma Hadrolaelia purpurata, com subdesenvolvimento dos brotos e amarelecimento da parte mais velha, apontando para uma deficiência de nitrogênio.















Reforçando a hipótese das deficiências de água e demais nutrientes de absorção pelas raízes no substrato terem sido aquém da real necessidade nos casos acima, ao longo de um certo tempo, abaixo temos uma foto mostrando um corte com dois pseuldobulbos traseiros, que apesar de ainda não completamente crescida a nova brotação, pelo diâmetro, temos a idéia de que esta será de tamanho próximo ao antecessor o que é geralmente raro numa muda deste tipo, sendo possível provavelmente pela boa nutrição da planta que originou o corte, proporcionando um acúmulo maior de reserva mineral nos dois pseudobulbos, translocados então para a brotação, já que o mesmo corte encontra-se sem raízes vivas.

terça-feira, 15 de maio de 2007

Um caso de germinação de sementes de orquídeas

Há certo tempo tirei alguns seddlings de Cattleya bicolor do pote de plástico para replantar nas bandejas, como este ao lado, lavei o pote mal lavado, e após este ter secado guardei “provisoriamente” um fruto aberto de Anacheillum cochleata (flor da foto abaixo) que acabara de colher no orquidário na casa do meu pai.
Acontece que esqueci onde deixei o pote com o fruto dentro, voltando das aulas uns 3 meses depois, vi o pote caído por debaixo da bancada, e pra minha surpresa vários protocórmios (uma estrutura formada imediatamente após a germinação das sementes de orquidáceas) já bem estabelecidos do Anacheillum, o que foi de fácil identificação pelo formato bem peculiar do fruto deste gênero, que se encontrava já bem seco na ocasião.

Para haver a germinação, as sementes necessitam de interações micorrízicas (assunto de um futuro tópico), para conseguir energia suficiente (na forma de compostos de carbono) para tal, ou no caso de cultivos in vitro, uma solução nutritiva que, ao serem embebidas nesta, consigam suprir suas necessidades.
Acredito que na ocasião ocorreu o seguinte, como não lavei direito o pote, ficou resíduo de solução nas bordas, tendo sido aproveitado para a germinação.