sábado, 24 de maio de 2008

Epidendrum, fotossíntese e saturação luminosa

Se visitarem esporadicamente os canteiros cultivados com Epidendrum fulgens, [Epidendrum fulgens Brongn. in L.I.Duperrey, Voy. Monde: 196 (1834)] na área do Setor de Floricultura do Departamento de Fitotecnia da Universidade Federal de Viçosa, verão flores desta ao longo de todo o ano.












Verão também que, de uma maneira geral, as plantas de Epidendrum apresentam-se vigorosas no seu desenvolvimento vegetativo e com a coloração na tonalidade de verde característica desta espécie, aparentemente estando bem adaptadas para a condição na qual se encontram, de exposição direta ao Sol ao longo de todo o dia.

Se estivessem demasiadamente sombreadas, a tonalidade do verde seria mais escura e, se estivessem recebendo mais luminosidade do que conseguiriam metabolizar, estariam avermelhadas ou verde-amareladas.

A grosso modo, entende-se por metabolismo o conjunto de transformações que as substâncias químicas sofrem nos organismos vivos de modo que os mesmos “funcionem”.

Mas se prestarem mais atenção nos canteiros verão algumas folhas isoladas amareladas ou queimadas por receberem mais luz, ou mais energia, do que estavam condicionadas à metabolizar naquele ponto, sendo a saturação luminosa, ou energética, propriamente dita. Notarão ainda que ocorrência destas seguem um certo padrão.

As folhas queimadas de Sol estão imediatamente abaixo dos pontos onde houveram quebras ou cortes dos pseudobulbos.

A razão disto é muito simples, ao longo de uma planta as folhas vão se desenvolvendo e se condicionando anatômica e fisiologicamente para uma dada situação de radiação solar incidente.

A incidência da radiação solar é diferente ao longo da planta, sendo as folhas mais acima preparadas para situação de maiores luminosidades e as folhas mais abaixo a menores luminosidades.













Na foto abaixo verão uma certa tendência das folhas mais próximas aos ponteiros apresentarem-se com uma inclinação de 45º em relação a um plano imaginário paralelo ao chão e perpendicular ao pseudobulbo.










O modelo a seguir ilustra o que acontece:





Sendo a radiação solar constituída de ondas eletromagnéticas e fótons, e estas últimas sendo partículas energeticamente carregadas, a título de exemplo, para uma mesma quantidade de 400 W/m2 de energia radiante emitida pelo Sol (vetor em amarelo no desenho acima) pode-se considerar que os mesmos 400 W/m2 atingiram a superfície da folha na situação 1.


Na situação 2, a densidade da radiação solar incidente na superfície da folha é (400 W/m2) × (coseno 45°) que é igual à 282,8 W/m2, ou seja, a folha inclinada 45° recebe 70 % da quantidade de energia luminosa que uma folha plana receberia.


Como se as folhas da base se desenvolvessem contando com as folhas de cima para sombreá-las, e por isto, apresentando-se mais planas do que suas próximas.


Ainda é possível tirar mais uma informação dessa ida a campo (ou ousar acreditar nisto!), as folhas queimadas necessariamente são aquelas cujas superfícies, ou faces, estão voltadas para o norte, o que é plausível devido à latitude aproximada 20,75º S que Viçosa/MG se encontra, assim, na maior parte do ano a radiação solar vem do norte.












A família Orchidaceae tem representantes em diversos ambientes, como por exemplo na foto da esquerda, em um campo rupestre altimontano, onde a incidência luminosa é alta, reparem nas folhas de uma
Hoffmannseggella rupestris bastante inclinadas e, na foto da direita, as folhas deitadas de uma Catasetum fimbriatum num habitat sombreado captando ao máximo a relativa menor luminosidade disponível..











Como aplicação prática disso, por exemplo, temos o diagnóstico dos tipos de manchas foliares, em decorrência da exposição à radiação solar em demasia (à esquerda) e manchas fúngicas (à direita), primeiro passo para se contornar o problema.
No primeiro caso evita-se aplicação desnecessária de fungicidas ou isolamento ou descarte da planta.














As flores de Epidendrum fulgens produzidas na UFV são comercializadas no supermercado na própria universidade.

















segunda-feira, 19 de maio de 2008

Curso sobre orquídeas em Viçosa

Na Universidade Federal de Viçosa acontecerá a 79ª Seamana do Fazendeiro entre os dias 13 e 18 de julho, com várias atrações técnicas e culturais.
Cursos que vão desde identificação de serpentes brasileiras, passando por criação de ovinos, diversos de culinária e dois que ministraremos sobre orquídeas.

TERÇA-FEIRA (15/07/08), das 8h às 12h e das 14h às 18h
91- Curso Básico de Cultivo de Orquídeas
Conteúdo: Introdução à família Orchidaceae. Identificação e controle de pragas de orquídeas cultivadas. Adubação de orquídeas: produtos e maneiras de se proceder à adubação de orquídeas cultivadas. Instalações construídas para o cultivo de orquídeas. Tratos gerais das orquídeas. prof. VICTOR HUGO ALVAREZ VENEGAS. Teórica: 4h; Prática: 4h (50 vagas).

QUARTA-FEIRA (16/07/08), das 8h às 12h e das 14h às 18h
90- Curso Avançado de Cultivo de Orquídeas
Conteúdo: Interpretação de ambientes e ecologia de orquídeas; cruzamentos e noções de genética de orquídeas; semeadura in vitro de sementes de orquídeas usando um método acessível. Pré-requisito: Já tenha feito um curso básico de cultivo de orquídeas. prof. VICTOR HUGO ALVAREZ VENEGAS. Teórica: 4h; Prática: 4h (50 vagas).

Todas as opções poderão ser vistas aqui: http://www.semanadofazendeiro.ufv.br/docs/relacaoCursos.pdf

Outras informações tais como inscrições: http://www.semanadofazendeiro.ufv.br/?area=cursos

Trata-se do maior evento de extensão agrícola do país, portanto, opção para família inteira. Existe a possibilidade de alojamento na própria Universidade.

Abraços

Plantanto orquídeas 1: cachepô

Tenho grande parte das minhas orquídeas plantadas dessa maneira, de Cattleyas a Laelias e principalmente Oncidiuns, que assim plantadas, suas raízes apresentam-se sempre saudáveis, bem como a planta toda de uma maneira geral.
Orquídeas não toleram água parada por muito tempo nas raízes.
Na sequência de fotos tento mostrar como replantar orquídeas em cachepôs. A muda de Cattleya jenmanii foi plantada em dezembro de 2007 e floresceu em março de 2008.
No caso foram utilizados como substrato toquinhos de cafeeiro como preenchimento de boa parte do volume do cachepô, na camada de cima, uma mistura de toquinho de cafeeiro com xaxim desfibrado.
Ressalvas
  1. Acredito que se utilizasse apenas os toquinhos teria dado o mesmo efeito.
  2. A madeira de cafeeiro é muito boa para plantar orquídeas, mas apresenta a desvantagem de ser muito suscetível às brocas no período das chuvas.




















































Agora uma Brasilidium praetextum, detalhe na última foto uma vareta de bambu atravessada para imobilizar a muda depois do plantio.


Vejam mais fotos aqui:
  1. Cattleya amethystoglossa;
  2. Cattleya velutina;
  3. Cattleya aclandiae;
  4. Cattleya schilleriana 2;
  5. Cattleya schilleriana;
  6. Lycaste macrophylla;
  7. Cattleya kerrii;
  8. Anacheilium cochleatum;
  9. Brasilidium forbesii;
  10. Cattleya aclandiae 2;
  11. Hadrolaelia lobata alba;
  12. Cattleya guttata 'Gutatona'.

domingo, 4 de maio de 2008

Dimorfismo floral e disparo de políneas nas flores da Catasetum fimbriatum

O gênero Catasetum (do grego: cerda/antena para baixo) caracteriza-se pelo dimorfismo sexual que suas flores apresentam em função do ambiente no qual a planta desenvolveu-se até a respectiva floração, embora sejam plantas monóicas (hermafroditas) como todas as outras Orchidaceae.

Tal característica veio a trazer muita confusão entre taxonomistas até o início do século passado, que chegaram a descrever em gêneros distintos as plantas que se apresentavam com flores masculinas (com partes femininas atrofiadas) e as plantas que se apresentavam com flores femininas (com partes masculinas atrofiadas), tamanha a diferença entre elas, vejam as fotos abaixo.

1. Uma flor masculina, por ângulos diferentes:











2. Inflorescência de flores femininas:


DUNGS, F & PABST, G.F.J em seu livro Orchidaceae Brasilienses - Band II, nas páginas 354 e 355 apresentam um chave dicotômica para se chegar ao gênero Catasetum, transcrevendo os caminhos percorridos:

"1 - Plantas de crescimento simpodial;
2a - Políneas nunca lateralmente comprimidas, às vezes há achatamento dorsi-ventral;
3a- Crescimento sempre nitidamente simpodial;
4 - Prefoliação convolutiva ou plicata; folhas com várias nervuras visíveis;
5 - Flores especializadas, masculinas, femininas, às vezes hemafroditas, ou mesmo dos dois sexos na mesma inflorescência e às vezes com flores hemafroditas entre elas;
6 - Coluna com dispositivo de ejeção de políneas ....... Catasetum."

Empiricamente à quem tem tido contato com as Cataseta há mais tempo é sabido que nas plantas expostas a maiores insolações há predominância de surgimento de flores femininas, do contrário, mais à sombra, predominância de flores masculinas, mas o que muitas vezes fica vago são os aspectos quantitativos, ou seja, quanto mais sob insolação ou sob sombra?

Recentemente tomei conhecimento da tese mestrado de Moraes, C. P., 1992, de título Fenologia e anatomia dos órgãos reprodutivos de Catasetum fimbriatum Lindley cultivados sob diferentes intensidades luminosas, defendida na ESALQ/USP, e cujo atalho para download do PDF se encontra aqui.

O autor fez um experime
nto composto de 3 tratamentos, em que tratamento 1 (T1) 15 plantas de Catasetum fimbriatum foram cultivadas sob intensidade luminosa variando de 1300 a 1900 μmol m-2 s-1 de fótons, alta intensidade luminosa, tratamento 2 (T2) 15 plantas de Catasetum fimbriatum foram cultivadas sob intensidade luminosa variando de 400 a 650 μmol m-2 s-1 de fótons, baixa intensidade luminosa e, tratamento 3 (T3) 15 plantas de Catasetum fimbriatum foram mantidas nas árvores sob intensidade luminosa variando de 500 a 800 μmol m-2 s-1de fótons.

Com os indivíduos de T3 (plantas mantidas nas árvores) nos aspectos vegetativos houveram sempre características intermediárias aos extremos T1 (alta intensidade luminosa) e T2 (baixa intensidade luminosa).

T1 com brotação iniciando mais precocemente e sempre em menor número, sendo que o autor explica que, dentre outros fatores, isto é devido ao nível energético acarretado pela maior luminosidade e conseqüente maior temperatura proporcionadas neste tratamento, fazendo com que os processos fisiológicos tenham sido agilizados.

Um aspecto
, cujo autor não aborda, que teorizo estar correlacionado com o menor número de brotações em T1 é o fato de fitormônios, em especial refiro-me às auxinas, possuírem meia-vida menor quando expostas às radiações maiores, sofrendo mais intensamente então fotodegradação (leia-se mais reações oxidantes/degradantes do hormônio pela luz por unidade de tempo). Auxinas estão diretamente envolvidas no crescimento vegetal e, são produzidas intensamente nos ápices das plantas, por exemplo, as gemas laterais dos pseudobulbos das Cataseta, Algo semelhante, segundo outros autores, explica a tortuosidade das árvores e arbustos na vegetação de Cerrado strictu sensu.

Também em T1, as folhas que surgiram mais cedo, caíram cerca de 5 meses antes que em T2.

Embora o autor não tenha tido muito sucesso com seu experimento no que se refere à florações, uma vez que relativamente poucas plantas floresceram, em T3 (plantas nos habitates) de 15 plantas, 7 floresceram sendo que 5 delas apresentando inflorescências com flores masculinas, na discussão e conclusão final o mesmo fez uma abordagem interessante no que se refere à expressão sexual das flores em função dos níveis endógenos (dentro do corpo da planta) do também fitormônio etileno.


Propõe que sob os estresses ambientais como alta intensidade luminosa, alta temperatura e baixa umidade relativa, bem como deficiências hídricas, que acarretando em maior síntese de etileno pela planta, faz com que a diferenciação floral seja direcionada às flores femininas.

Interessante pensar nas razões da natureza aparentemente ter engenhado para que fêmeas predominacem, ainda mais em condições de estresses, em plantas e em animais.

Tive a oportunidade de observar muitas Catasetum fimbriatum (C.Morren) Lindl., Paxton's Fl. Gard. 1: 124 (1850) nos estados de SP, MG e MS, preferencialmente epifitando estipes de Palmaceaes.

Abaixo seguem vídeos de disparos, ou ejeções, das políneas de flores masculinas de Catasetum fimbriatum ao tocar com o dedo suas cerdas.










No primeiro vídeo o disparo por uma flor mantida na planta, onde é possível perceber a rapidez em que o mesmo se dá, bem como ouvir um chiado no ato, no segundo vídeo, o disparo de uma flor recém destacada da planta, reparem na demora na resposta ao ser tocada e, embora a qualidade do vídeo não tenha ajudado, o chiado com o disparo desta é mais baixo do que na primeira.

Essa diferença vem a ser explicada pelo fato da flor destacada não mais dispor da continuidade hídrica com a planta, diminuindo assim a potência de disparo das políneas, o que daria um estudo interessante observar a perda de potência no disparo das políneas em função da perda de turgor ao longo do tempo da flor destacada do resto planta, somando a isso diferentes métodos e técnicas de conservação da flor...

Abaixo fotos do resultado do disparo, as políneas ficam bastante aderidas em uma superfície, no caso minha unha, mas na natureza normalmente seria o dorso de uma abelha da tribo Euglossini.