sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Pragas e doenças de orquídeas - Questionário

O questionário abaixo diz respeito a uma parte da minha monografia para conclusão do curso de especialização em Proteção de Plantas, na Universidade Federal de Viçosa.

Dentre os objetivos, estão: levantar quais as pragas mais importantes que assolam a orquideocultura brasileira, e o que vem sendo feito no controle das mesmas; propor ajustes horticulturais como medidas de controle de pragas, e; dar o devido retorno de informações à sociedade orquidófila que está contribuindo com este trabalho.

Peço que faça a gentileza de responder, pois é o primeiro levantamento deste tipo de informação na orquidofilia brasileira.

Para auxiliar no questionário segue um guia ilustrado com fotos dos principais sintomas de pragas, doenças, desordens nutricionais, queimaduras de Sol nas folhas, vírus, algas, líquens, líquens e ervas daninhas que atrapalham o desenvolvimento das orquídeas.

A correta interpretação dos sintomas é crucial para o controle eficiente de pragas, que necessariamente se inicia com a identificação do problema, ou seja, sendo pragas, doenças, desordens nutricionais, queimaduras pelo Sol, etc. as medidas de controle são diferenciadas.

sintomas do ataque do inseto tripes

pulgões atacando flores e brotações de orquídeas
sintomas do ataque do percevejo-das-orquídeas (Tentecoris bicolor)

outros insetos que podem atacar diferentes órgãos das orquídeas


algas, líquens e musgos que atrapalham o desenvolvimento das orquídeas

sintomas do ataque do mofo-cinzento nas flores de orquídeas

ervas daninhas infestando vasos de orquídeas

podridões fúngicas em brotos, pseudobulbos, folhas e plantas inteiros em vasos coletivos de orquídeas

sintomas do ataque de caramujos/lesmas nas raízes e flores de orquídeas

sintomas de manchas foliares causadas por diferentes espécies de fungos que atacam as orquídeas

sintomas comprovados de vírus (Phalaenopsis, canto superior à esquerda) e de prováveis infestações de vírus

Sintomas e sinais de ataque de cochonilhas nas folhas e pseudobulbos de orquídeas

Sintomas do ataque de ácaros nas folhas de orquídeas


sintomas de queimadura solar pela incidência direta nas folhas das orquídeas

sintomas visuais de deficiências nutricionais nas orquídeas
PARA ACESSAREM O QUESTIONÁRIO, POR FAVOR CLIQUEM NO LINK:
https://docs.google.com/forms/d/1gh-d_oEKAwWXz99PA-AM4t4AwCETVTG3yqb5fspaHfE/viewform

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Visita técnica em produção comercial de Phalaenopsis

Eventualmente faço visitas técnicas em orquidários pelo país, mais recentemente fiz uma em uma produção de orquídeas, cujo foco principal é  a produção de Phalaenopsis em vasos. Em acordo com o proprietário coloco algumas das observações neste post, tal como fiz há alguns anos atrás neste outro post (http://mvlocatelli.blogspot.com.br/2008/02/visita-tcnica.html).
Sabendo do histórico de aquisição das mudas, do tipo de material genético e dos tratos das plantas fui dando uma olhada, e foi possível notar que alguns sintomas nas Phalaenopsis sugerem que elas vem passando por um moderado, e crônico, estresse hídrico.
Moderado porque apesar da falta d’água ter causado alguns prejuízos no desenvolvimento das plantas, aparentemente o mesmo não tem sido severo o suficiente para causar morte imediata das plantas, e crônico por ser algo que vem sido tolerado pelas plantas há bastante tempo, de modo a resultar em uma série e adaptações morfológicas que atualmente observamos nas plantas.
As Phalaenospsis são orquídeas epífitas monopodiais, ou seja, evoluíram para sobreviver sobre os galhos de árvores, muito embora, por serem monopodiais, não possuam as principais adaptações que permitem epifitismo em muitas espécies de orquídeas, que é a formação de estruturas de armazenamento de água denominadas de pseudobulbos, sendo assim, não acumulam grandes quantidades de água nos seus corpos, e aliado a isso suas folhas largas proporcionam uma grande área de perda de água. 
De modo geral elas ocorrem em galhos baixos das árvores em ambientes de pântanos na Ásia, ou seja, não acumulam água em si porque evoluíram em um ambiente pouco dessecante, com o ar saturado, ou próximo a ser saturado, de água o tempo todo, e as folhas largas são para captarem o máximo possível do mínimo de luz que penetra pelas copas dessas árvores. (Exemplo de habitat de Phal. aqui https://www.youtube.com/watch?v=9F4vTvvfnng).
No orquidário, dentre os sinais de adaptação que observamos para as condições secas se destacam a alta frequência de plantas com seus caules bifurcados, em ocorrência de uma provável morte das gemas apicais primárias devido à desidratação (Foto 1). Para algumas orquídeas monopodiais é comum a bifurcação, no entanto isto não é comum em híbridas de Phalaenopsis, que estão entre as plantas ornamentais mais cultivadas no mundo, e além disso, é tão pouco comum, ou saudável, que o caule principal seque e morra, até que a única parte viva da planta seja o caule adventício brotado na lateral.

Figura 1 - Exemplos de plantas de Phalaenopsis com caules adventícios brotados nos caules principais.
Outros sintomas que reforçam o diagnóstico são a presença de relativas poucas folhas por planta, em média 2 a 3 folhas, que, apesar de túrgidas, são de dimensões muito mais reduzidas e arredondadas (Figura 2) em relação às referências de outras Phalaenopsis compatíveis geneticamente, e da mesma idade, porém em melhores condições de desenvolvimento, e a emissão de muitas raízes exploratórias que saem do vaso em direção às tábuas das bancadas, buscando mais água (Figura 3a).

Figura 2 - Exemplos de plantas de Phalaenopsis com poucas  folhas arredondadas por plantas.
Figura 3 – Raízes das Phalaenopsis saindo do vaso em busca de ambientes mais úmidos (a); raízes de Dendrobium direcionadas para um único sentido, a touceira em cima da bancada (b), e; planta de Phalaenopsis em um vaso maior, com mais folhas e estas sendo de formato mais comprido.
No orquidário há algumas outras espécies de orquídeas que também podem contar muito sobre o cultivo e o ambiente, por exemplo, uma Dendrobium nobile amarrada em um toquinho de madeira, mas com todas as suas raízes crescendo em direção de uma touceira densa de Oncidium em cima da bancada (Figura 3b), o microclima em cima da touceira é bastante úmido em relação ao seu entorno.
Temos também algumas Phalaenopsis, mesmo material genético, cultivadas em substratos e recipientes diferentes, de modo que também nos conta muito sobre elas, como na figura 3c, que aparece uma dessas plantas em um recipiente em um vaso que cabe muito mais substrato que a média que vem sendo utilizada, e por isso, proporcionalmente seu volume interno demora mais para secar após regado, algo que se nota pela planta conservar mais folhas, não estar bifurcada, as folhas tenderem a serem mais compridas, e as raízes ainda não terem saído em busca de ambientes mais úmidos.
Temos também uma Cattleya schilleriana com um novo pseudobulbo relativamente bem desenvolvido para os padrões da espécie, no entanto, devido a folha ter começado a abrir abaixo da linha da bainha que está secando, conclui-se que o broto potencialmente seria maior, e que isto não aconteceu porque faltou a planta absorver e acumular água na quantidade certa para as suas células incharem (tecnicamente hipertrofiarem) (Figura 4). As raízes dessa planta estão sadias, então conseguem absorver toda a água que tem acesso, assim, faltou mesmo o acesso a quantidades maiores de água. Algo sobre regas em orquídeas foi já postado por mim aqui (http://mvlocatelli.blogspot.com.br/2007/05/regas-em-orqudeas.html) e aqui (http://mvlocatelli.blogspot.com.br/2007/05/regas-em-orqudeas-ii_17.html).

Figura 4Cattleya schilleriana demonstrando sinais de ligeiro estresse hídrico.

Apesar das regas diárias em que se submete as orquídeas deste orquidário, e de que essas regas são da melhor maneira possível, ou seja, por meio de mangueira vaso a vaso, o principal substrato utilizada para as Phalaenopsis, uma mistura de brita 0 (ou pedrisco de construção) e argila expandida quebrada, não tem sido bom para armazenar água suficiente para atender a demanda dessas plantas para um desenvolvimento mais vigoroso.
No caso da referida Cattleya schilleriana, a mesma está em um cachepo com substrato de pedaços de casca de peroba, em condições de maior ressecamento ainda, muito provavelmente para o caso das cattleyas este sistema de cultivo das Phal. seria mais satisfatório, sendo as cattleyas orquídeas simpodiais com pseudobulbos notoriamente bem desenvolvidos e eficientes para armazenarem água.
O orquidário é muito ensolarado e ventilado, razão pela que a velocidade de remoção de água do seu interior pode ser considerado alta.

Na figura 5 vemos alguns exemplos de Phal. sob uma outra situação de cultivo, com fornecimento e armazenamento de água próximos ao ideal.

Figura 5Phalaenopsis sem sinais aparentes de estresse hídrico.
Minhas recomendações técnicas para corrigir o problema ficaram para o proprietário, que me pagou pelo serviço, este post é para divulgar o  meu trabalho, e a importância de se ter um engenheiro agrônomo dando assistência em um orquidário comercial, tal como se tem em qualquer outro tipo de atividade agrícola séria.

Marcus V. Locatelli
Orquidófilo há 20 anos
Engenheiro agrônomo
Mestre em Solos e Nutrição de Plantas
Concluindo o Doutorado em Solos e Nutrição de Plantas
Cursando Especialização em Proteção de Plantas

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Orquídeas em uma pequena cidade amazônica - Monte Dourado/Pará, Vale do Jari

A Amazônia, o afamado bioma de muitos superlativos, dispõe-se a apresentar infinitas surpresas para quem as procura.

Durante o tempo que residi e trabalhei na Amazônia tive a oportunidade de conhecer algumas cidades, povoados e diferentes trechos de vários rios, e em cada fração dessas localidades pude observar peculiaridades de microclimas, solos, rios, pescarias, vegetação e histórico de ocupação e cultura humana.

Em relação às orquídeas também é notório o quanto cada paragem encerra uma particular ocorrência, riqueza[1] e abundância[2] de espécies.
[1] Riqueza de espécies: número de espécies diferentes por unidade de área, que pode ser uma árvore, cidade ou país.
[2] Abundância das espécies: relaciona-se à quantidade de indivíduos de uma dada espécie por unidade de área.


Morei por um ano em Monte Dourado, no norte do Estado do Pará, na beira do Rio Jari que divide os estados do Pará e Amapá (Fig. 1). Uma cidade pequena, com menos de 3000 habitantes, e que tem sua economia girando em torno de algumas poucas e grandes empresas instaladas na região, além do extrativismo de produtos florestais e do pequeno comércio interno.

Figura 1. Localização da cidade de Monte Dourado/PA.
Um dos meus passatempos nos finais de semana era caminhar e fotografar as orquídeas que com o tempo fui mapeando na memória. Registrei brotações e florescimentos, colhi sementes e procurei variedades.

Nos galhos de árvores antigas de Pinus caribea em pleno centro da cidade foi onde observei a maior abundância de Rodriguezia lanceolata que eu encontrei nos meus decursos na região (Fig. 2), fora esse local encontrei indivíduos dispersos. 
Figura 2. Posição dos pinheiros com flores de Rodriguezia lanceolata em contexto urbano.

 As muitas touceiras nesses pinheiros proporcionam um espetacular contraste na época da floração (Fig. 3). As cápsulas de sementes formando-se nos cachos e a falta de interesse das pessoas em coletar essas que consideram “parasitas” deixa uma perspectiva de que este cenário seja duradouro.

Figura 3. Diferentes posições nas copas dos pinheiros representando a abundante floração de Rodriguezia lanceolata.

Em outras espécies de árvores, em especial a mangueira (Mangifera indica) e o flamboyant (Delonix regia), ocorriam outras espécies de orquídeas epífitas, tais como o Epidendrum strobiliferum, Anacheilium aemulum, Scaphyglottis sp., Epidendrum nocturnum, Dimenandra emarginata e Notylia sp. (figuras 5, 6, 7 e 8).


Figura 4. Catasetum sp.,  Epidendrum sp., Rodriguezia bracteata e Campylocentrum sp. ocorrendo em galhos de Pinus caribea.

Figura 5. Epidendrum strobiliferum, Scaphyglottis sp., Anacheilium aemulum em um mesmo galho de mangueira.

Figura 6. Dimenandra emarginata, Anacheilium aemulum e Scaphyglottis sp. ocorrendo em um flamboyant.

Figura 7. Notylia sp.

Figura 8. Flor e seedlings de Epidendrum nocturnum.

 Este é um dos primeiros relatos sobre orquídeas na região do Vale do Jari que já existiu.