sexta-feira, 27 de abril de 2007

Cuidados com a bainha





A bainha protege os botões num estágio em que eles estão muito tenros e vulneráveis, até naturalmente os botões emergirem dela, sendo necessário que seja mantida até então, caso contrário os botões poderão sofrer injúrias que resultarão em flores mal formadas e, num estágio mais avançado destas injúrias, virão a ser abortados.
No final da floração para não alterar o aspecto da planta como um todo para uma exposição, por exemplo, recomenda-se rasgar a bainha visando evitar o acúmulo de água o que pode resultar num apodrecimento da região, ou depois de seca, num abrigo pra cochonilhas.

quinta-feira, 26 de abril de 2007

Esta planta é albina?


Tem-se visto por aí a denominação equivocada de plantas portadoras de genes recessivos responsáveis pela ausência da pigmentação mais comum nas flores das espécies, especialmente para o grupo das cattleyas bifolhadas, as quais a variações recessivas de alguns genes resultam em geral em flores verdes, ou verde-amareladas, com o labelo branco, são elas principalmente as Cattleya guttata, C. bicolor, C. leopoldii, C. granulosa, C. elongata e C. schofieldiana.
Um animal albino é aquele desprovido de melanina, e em botânica, um indivíduo albino é aquele desprovido do pigmento verde denominado clorofila, e em geral as espécies são parasitas, pois não são capazes de fixar carbono atmosférico e transformá-lo em carboidratos, para sua constituição (celulose) e energia química (ATP após a glicólise). E as orquídeas com estas características de flores possuem ao menos as folhas, pontas de raízes e pseudobulbos verdes, sendo capazes de desempenhar fotossíntese nestes, embora comumente apresentem uma diminuição de vigor em relação às plantas com flores pigmentadas na variação tipo (aquelas mais comuns para as espécies em questão).
Mesmo para plantas não parasitas, como as orquídeas, principalmente com a auto-fecundação podendo induzir a homozigose recessiva, é possível que surjam indivíduos verdadeiramente albinos, como os da Stanhopea sp. da foto, com vários graus de albinismo na parte vegetativa inclusive que, se não estivessem sido cultivadas in vitro, com sacarose como fonte carbono, provavelmente não passariam da fase de protocórmio (“primeiro caule”; estrutura formada logo após a germinação da semente).

terça-feira, 24 de abril de 2007

Orientação das raízes




Visitando uma das casas-de-vegetação da UFV me chamou a atenção o fato de que as raízes das plantas fixadas nas telinhas que estavam rente ao plástico seguiam a mesma orientação, no sentido oposto do plástico, enquanto que as fixadas com o mesmo material, mas tendo de fundo outra tela, orientação aleatória.
Parece haver uma orientação estimulada pela maior umidade, pois o microclima rente ao plástico possivelmente tem uma umidade relativa menor, conseqüente da maior temperatura ali, amenizada quando existe uma tábua, notando-se aí raízes fixadas nela. Uma outra observação no orquidário de um amigo, na bancada, maior ramificação das raízes em baixo do vaso da planta vizinha.
Ao longo de um tronco de uma árvore geralmente nota-se distribuição mais aleatória das raízes, provavelmente porque as variações de microclima são mais sutis.

Seleção natural e diversidade genética


A foto representa bem a importância de se preocupar com diversidade genética entre indivíduos da mesma espécie em projetos de preservação, seja conservação ou reintrodução. São Hoffmannseggella crispilabia, no centro da foto, na porção superior, um indivíduo bem desenvolvido, com fruto madurando, que resultará em mais descendentes, passando os “melhores” genes pra frente, no canto esquerdo outro indivíduo, menos desenvolvido, sem frutos, talvez porque deu menos flores em relação ao outro, e/ou estas com cores e odores não tão atraentes para os polinizadores...
Neste caso, o fator genético parece ter sido determinante no aumento da eficiência em adquirir recursos, nutrientes, como água, íons (sais minerais) e carbono (pela fotossíntese), alguma adaptação no sistema radicular, como por exemplo, maior relação raiz/(folhas+pseudobulbos), ou maior aparato protéico e enzimático de absorção e fixação de carbono, ou até mesmo uma maior eficiência na utilização dos poucos recursos disponíveis neste ambiente?
Nota-se a planta menor mais avermelhada, portanto mais estressada, seja por deficiência de fósforo ou excesso de luz, talvez ao ponto dela não conseguir aproveitar eficientemente e transformar em maior fotossíntese. Ou tudo isto e mais um pouco.
O fato é que a natureza veio e continua selecionando organismos adaptados a viverem nos mais variados ambientes, como este de pobreza química muito grande, sobre rocha de itabirito, constituída grandemente de ferro, onde a ciclagem de nutrientes é de crucial importância para a vida destas plantas, ou seja, material orgânico sendo decomposto, mineralizado e reabsorvido.
Meu objetivo é atentar aqui quanto à necessidade de se dar mais importância a isto, enquanto que para nossas coleções selecionamos plantas oriundas de cruzamentos de algumas poucas matrizes, podemos estar gerando uma extinção genética da espécie, embora esta possivelmente só venha a ser notada com o tempo. Deve-se cumprir o papel verdadeiramente ecológico da orquidófilia, cada um de nós responsáveis por preservar, conservando a diversidade proporcionando mais genes a serem selecionados futuramente.
Estas idéias vieram depois da conversa com um amigo veterinário, professor do Departamento de Zootecnia, onde falávamos de ararinha-azul, peixe-boi marinho, mico-leão-dourado, dentre outros, os quais, infelizmente, se não for empenhada mais ciência do que simplesmente reintroduzir sem muito critério espécimes na natureza visando a preservação, poderão estar extintos mesmo existindo. Por cima, fala-se de ao menos 200 machos e 800 fêmeas de cada espécie animal.

Dicas para uma adubação mais eficiente para orquídeas.

-------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Este post foi o primeiro do meu blog, e até hoje é um dos mais comentados, e também está dentre os mais acessados. Escrevi outro, um upgrade deste, cerca de 3 anos depois, então recomendo aos interessados pelo tema passarem por lá: ADUBAÇÃO DE ORQUÍDEAS (29 de julho de 2010).
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------




"Na foto da esquerda a evolução de uma Sophronitis cernnua com a adubação, à direita, uma Cattleya loddigesii"


Muitos são os equívocos e dúvidas no que se refere à adubação de orquídeas. Estes equívocos e dúvidas referem-se, principalmente, quanto ao modo de aplicação, se pela irrigação ou foliar, em que época do ano realizar a adubação de forma mais intensa, quais horários e qual a freqüência para realizá-la.
Assim, tem-se por objetivo apresentar algumas informações que contribuirão para uma prática de adubação mais eficiente para as orquídeas, ou seja, um menor esforço associado a um melhor resultado.
Primeiramente, convém diferenciar a forma de absorção de nutrientes pelas bromélias e pelas orquídeas. Nas bromélias existem células modificadas, denominadas células escama, localizadas em maior densidade na base da roseta formada pelas folhas, elas são uma adaptação para a absorção de nutrientes. Já as orquídeas não possuem estas adaptações nas folhas. Por isso, o potencial de absorção de nutrientes pelas orquídeas variará de acordo com alguns aspectos, como a idade da folha e o próprio estado nutricional da planta.
Ressalta-se que todo o potencial de absorção de nutrientes minerais pelas folhas das orquídeas é muito aquém da quantidade demandada pela planta em relação à maioria dos nutrientes, especialmente os macronutrientes, que são os requeridos em maior quantidade. Em contrapartida, suas raízes são as mais evoluídas da natureza para absorção destes nutrientes, devido a uma série de adaptações morfológicas e fisiológicas. A eficiência de absorção varia em função da espécie, de suas necessidades no local onde a mesma evoluiu, ou seja, se há maior disponibilidade de nutrientes, como nos ambientes terrestres sob mata densa ou menor disponibilidade, como nos casos de epífitas sobre árvores do cerrado, neste último caso elas tendem a serem mais ávidas à aquisição destes.
Quanto à adubação foliar, os resultados satisfatórios que são obtidos ocasionalmente, provavelmente, se devem ao fato da lavagem eventual dos sais acumulados nas folhas, após a evaporação da água, para o substrato sob influência das raízes, através das chuvas e regas.
A fertirrigação apresenta-se como a melhor forma de adubação, pois, associa um melhor uso de energia, tempo e produto. Para instrumentá-la, é necessário que a solução água mais adubo seja dirigida diretamente sobre a superfície do substrato, com este previamente umedecido para colaborar com uma maior absorção, uma maior homogeneidade da concentração de adubo ao longo do volume do substrato e, também, para uma diminuição da perda por escorrimento direto do adubo, caso o substrato esteja muito seco, principalmente, se o substrato for a fibra de xaxim.
Juntamente com a irrigação propriamente dita, a fertirrigação torna-se mais eficiente, se feita em determinados horários. Assim, no geral, o melhor horário para ocorrer a adubação é no final de tarde. Isto se deve ao mecanismo fotossintético das orquídeas de maior representatividade em coleções que determina a abertura de estômatos à noite, ou próxima dela, e, conseqüentemente, propicia a entrada e movimentação de água e nutrientes nas plantas aí. Com isso, a planta estará regada e adubada para uma situação relativamente mais próxima do ótimo de absorção.
Outro ponto que merece destaque é cautela quanto a não promover o excesso de adubação. Portanto, o orquidófilo também deve ficar atento quanto à necessidade de lavagem do excesso de sais acumulados nos substratos e paredes dos recipientes, geralmente, sinalizados pelo aspecto esbranquiçado dos mesmos, pois, na mesma medida que as raízes são eficientes em absorver, elas também são sensíveis ao excesso de sais. Basicamente, a lavagem se dá com uma rega mais demorada com a mangueira, vaso a vaso, periodicamente, sendo que uma vez ao mês é suficiente. O sintoma mais característico de salinidade alta no substrato é a queima dos ponteiros das raízes, a necrose na região apical.
Outro ponto de significativa relevância é a escolha do tipo de adubo. Dispor de adubos minerais que apresentem altos teores de alguns poucos nutrientes, em geral preocupando-se apenas com o N-P-K, em detrimentos de outros tão importantes quanto, mas em quantidades menores, acaba criando uma maior necessidade de se conciliar aquele adubo com outros, o que muitas vezes torna-se uma atividade pouco prática.
Para escolha do adubo, é importante saber que a quantidade de cada nutriente a planta necessita na adubação depende principalmente da espécie, do atual estágio de desenvolvimento (brotação, floração, etc.), e do quanto seu ambiente já é capaz de suprir, por exemplo, quanto e em que velocidade a decomposição do substrato forneceria de nitrogênio. Todavia, não tendo informações precisas neste grau de refinamento e considerando que, em condições amadoras, tem-se que trabalhar com situações médias, recomenda-se, portanto, conciliar um adubo mineral com uma composição qualitativamente ampla, por exemplo, o Orchidées B & G, que se constitui de vários sais, disponibilizando nutrientes de imediato às plantas, com as proporções entre os nutrientes ajustadas satisfatoriamente para um grande número de espécies e híbridos.
É sempre interessante conciliar a adubos minerais, ou “químicos”, com adubos orgânicos ou organominerais, que possuem composição complexa, com gradual taxa de fornecimento de nutrientes às plantas.
Convém esclarecer que, se a mistura conter cinzas, que são minerais, não caberá mais a denominação orgânica unicamente e que o papel do adubo orgânico ou organomineral é suprir uma eventual demanda não atendida plenamente com o mineral.
Quanto à periodicidade, quando aplicada quinzenalmente, a adubação mineral é considerada satisfatória, durante o ano todo, mesmo no inverno, pois se existe brotação há necessidade de se fornecer nutrientes, e também ocorrendo a “lavagem” mensal do substrato, não haveria grandes problemas de excesso, caso as plantas não estejam em pleno crescimento.
Alguns resultados dessa freqüência são que algumas espécies e híbridos são estimulados a florir mais de uma vez por ano pela adubação, as flores sempre vindo com os brotos novos, e mesmo para aquelas espécies mais “disciplinadas”, que só brotam e florescem em uma época bem definida do ano, a freqüência citada não tem trazido prejuízos.Logo, pode-se afirmar que conciliar a forma de adubação com o tipo de adubo adequado pode facilitar o cultivo de orquídeas e propiciar o alcance de resultados mais satisfatórios.