segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Cultivar híbridas de orquídeas é mais fácil do que cultivar as espécies de orquídeas?

A princípio sim, como há muito é conhecido na orquidofilia mesmo sem saber-se a base disto, que é o que denominamos de vigor híbrido ou heterose.

A hibridização de plantas e animais é um importante recurso do melhoramento genético que almeja aumentar o vigor da descendência em relação aos progenitores, entendo-se com este “aumento de vigor” melhoria em características como rusticidade, produtividade e precocidade.

Relaciona-se com rusticidade a capacidade de sobrevivência às mais variadas interferências ambientais, e trazendo aqui para o nosso interesse essas interferências ambientais seriam tipos de substratos, iluminação, temperatura, adubação, irrigação, cultivo em vasos ou em placas de madeira, dentre outras, que os orquidófilos podem controlar no orquidário. E com produtividade a capacidade de utilizarem dos recursos disponíveis a fim de produzirem biomassa, seja de raízes, de folhas, de pseudobulbos e de flores.

Os genes regulam as sínteses de proteínas que estão envolvidas nos processos de todas as funções orgânicas, e ocorrem aos pares e cada um que compõe este par é herdado de cada um dos pais, assim, se um “pai” transmite uma forma de gene e a “mãe” uma outra forma deste mesmo gene, os filhos serão heterozigotos para este gene, tendo então o indivíduo híbrido possivelmente a capacidade de produzir duas formas de uma mesma proteína (com a mesma função), que geralmente suplementam-se uma com a outra de maneira sinérgica.

A idéia é que a princípio os híbridos costumam ter um arcabouço genético que facilitam sua adaptação, ou plasticidade, no ambiente em que se desenvolvem, por terem mais tipos de genes em relação à cada uma de suas espécies progenitoras, sendo por isso capazes de responderem com rusticidade, produtividade e precocidade com os insumos que despendemos ou não a eles.


Em outras palavras, geneticamente as orquídeas híbridas apresentam melhores potenciais genéticos para compensarem nossas barberagens de cultivo.

sábado, 13 de junho de 2009

Desvaneio e proposta: alteração de denominação de algumas variedades.

Vejo a classificação dos seres vivos ou de componentes não vivos da natureza, como rochas, minerais e solos, como equações matemáticas que sintetizam um conjunto de conhecimento/informação sobre aquilo que se está denominando, sistematizada cientificamente desde que Linnaei, o "pai da taxonomia", publicou o SYSTEMA NATURAE em 1753.


A sequência das unidades taxonômicas para o caso de um ser vivo (reino, divisão, classe, ordem, família, gênero, espécie e variedade) auxilia na tarefa de transmitir conhecimento acerca de uma série evolucionista que culmina em um conjunto mais específico de características morfológicas, anatômicas e fisiológicas demonstrando uma possível afinidade genética entre os seres que se agrupam, assim, a taxonomia (do grego “ciência para organizar/administrar) é uma poderosa ferramenta de divulgação de informação, informações estas das quais muitas vezes as interpretações e as atitudes dependem.

Um exemplo disso é o pensamento que nos desperta ouvir a denominação de algumas famílias (uma unidade taxonômica!!!), como Orchidaceae, Bromeliaceae, Araceae (antúrios), Poaceae (gramíneas) e etc. Conforme o caso e o nível de conhecimento de cada um, automaticamente vem na mente um conjunto de características e até mesmo de exigências para se cultivar.

Este post é sobre algumas sugestões acerca de denominação de algumas variedades.

É fato que a grande maioria das denominações para as variedades de orquídeas se deriva unicamente à pigmentação de suas flores, mas em alguns casos, como o ilustrado abaixo uma Dendrobium nobile que fotografei na expo de Juiz de Fora/MG em 2007, apresentada na etiqueta como “Dendrobium nobile variegada por causa das folhas, as flores em si são de tipo. Seria o caso, acredito, de classificar como Dendrobium nobile tipo com folhas variegadas, para dar uma informação mais exata, especialmente para quem conhece mais possibilidades causando assim mais confusão se só basedao no nome, sem ver a planta. Variegada deriva do latim variegates (matizado).


Dendrobium nobile tipo com folhas variegadas” fica um nome maior, mas como é uma situação atípica esta de classificar uma variedade de orquídea com flores comuns mas com a parte vegetativa de certa forma rara. O que estou propondo neste caso nada mais é do que se adicionar níveis categóricos, assim como se faz na pedologia (ciência que classifica e estuda os solos e sua formação na natureza), quando necessário, assim como no caso de, por exemplo, diferenciar uma Cattleya intermedia tipo de uma Cattleya intermedia tipo trilabelo, no caso desta última ainda poderia ser Cattleya intermedia tipo aquini, mas como já existe a denominação trilabelo para as mesmas características em outras espécies de Cattleya, há mais tempo inclusive, e não desmerecendo a pessoa da qual o termo “aquini” deriva de seu nome, prefiro usar o termo trilabelo, justamente por ser mais lógico e auto-explicativo.

No caso das plantas com órgãos variegados (flores ou folhas) o que ocorre são anomalias localizadas, daria até para fazer uma analogia com uma quimera (da mitologia grega, um ser com cabeça de leão, corpo de cabrito e cauda de serpente), uma espécie de colcha de retalhos genética, que ainda assim só sobrevivem porque as partes verdes fotossintetizam o suficiente, as partes brancas armazenam o amido nos amiloplastos das suas células (amido secundário formado por açúcares que somente são produzidos e enviados pelas células que são verdes), já na parte verde, que também tem amido armazenado, o branco é mascarado pelo pigmento da clorofila, então não é só porque não seja visível que não esteja lá.

Onde queria chegar é no caso de se classificar plantas de com genes recessivos para a pigmentação de suas flores como albinas, como já comentei neste post intitulado Orquídeas albas e albinas.


Transcrevendo um trecho do supracitado post Acho muito estranho o emprego do termo "albina" para representar variedades de flores em alguns indivíduos que expressam características de genes recessivos na espécie com a pigmentação de suas flores.

Albinismo em botânica refere-se à ausência de pigmentação verde, ausência de clorofila, nas células das plantas.


É um tanto paradoxal a denominação dada pelos "estudiosos" e "entendidos" nos assuntos orquidófilos, referindo-se "albinas" às flores justamente por serem verdes, como é o caso das C. leopoldii, C. guttata ou a C. bicolor, nas suas formas de pigmentação recessivas, por exemplo, e não marrons, com ou sem pintas nestes casos, nas suas referidas coloração tipo...”
.

A meu ver a confusão é tanto generalizada para cultivadores amadores quanto para profissionais do ramo.

Vemos, por exemplo, uma Cattleya guttata com as pétalas e sépalas totalmente verdes (sem pintas) e com o labelo e coluna brancos sendo chamada de Cattleya guttata albina, e pouco mais adiante, uma Cattleya aclandiae também com as mesmas características de pétalas e sépalas totalmente verdes (sem pintas) e com o labelo e coluna brancos sendo chamada de Cattleya aclandiae alba. Em um outro orquidário vemos uma Cattleya guttata com as mesmas características sendo chamada de Cattlaya guttata alba, e em outro vemos uma Cattleya aclandiae com uma coloração bem suave, porém com pintas escuras nas pétalas e sépalas sendo chamada de Cattleya aclandiae albina, e assim por diante, são inúmeras as contradições por aí.

Com a intenção de melhor comunicar as características de algumas orquídeas que expressam a coloração mais recessiva de sua espécie na coloração predominantemente verde proponho (até onde eu sei esta proposta ainda não existia) a denominação viridis, talvez até virens, que ambas no latim significam “verde”, possuindo ainda derivações como viridescens (“quase verde”), espécies essas como provavelmente (provavelmente porque esta variação ainda não foi observada e relatada efetivamente em algumas espécies) Cattleya tenuis, Cattleya elongata, Cattleya bicolor, Cattleya velutina, Cattleya guttata, Cattleya tigrina, schofieldiana, Cattleya schilleriana, Cattleya granulosa, Cattleya aclandiae, Cattleya dormaniana e Cattleya forbesii, ficando, como um dos exemplos citados acima, Cattleya aclandiae viridis. Existem também indivíduos dessas espécies que apresentam flores nitidamente mais amareladas, indicando um baixo teor de clorofila em suas flores (e somente nas flores, sendo as folhas normais), talvez justificando nesses casos o uso do termo “flavens” (amarelo no latim, tendo ainda a derivação flavescens = quase amarela), a partir disso existindo então tanto as variedades Cattleya guttata flavens quanto Cattleya guttata viridis, respectivamente quando nitidamente predominar o amarelo e verde, por exemplo.

Ambas citadas são todas do grupo das Cattleyas bifoliadas, embora em outras bifoliadas como a Cattleya loddigesii, Cattleya amethystoglossa, Cattleya violaceae e Cattleya harrisoniana ocorram os indivíduos recessivos para coloração das flores apresentam-se predominantemente brancos, justificando o uso do termo “alba” (p. ex., Cattleya loddigesii alba).

Cores recessivas puxando para o verde ou amarelo são também observadas, dentre outras, em espécies do grupo dos Oncidiuns e Catasetuns, onde comumente se vê sendo empregado o termo “alba”, o que é interessante pelo aspecto de que aqueles que aplicam, muitas vezes sem a idéia do que viria a ser FORMALMENTE genes recessivos, porque fazem pela analogia com as cores recessivas mais comuns que é o branco da maioria das Laelias e Cattleyas, então a idéia de “recessividade” é presente ainda que no ar, e talvez encoberta pela necessidade de dizer que a planta seja "mais nobre" que o comum, e o termo "alba" é o que representa melhor esta idéia frente à maioria, mas empiricamente há alguma necessidade de passar este conhecimento adiante apenas dizendo um nome.

Aconteceu comigo também, está no post que citei no começo, onde disse que: Por desconhecimento de um termo melhor prefiro tratar esta planta ainda como Cohniella jonesiana alba (ou Oncidium jonesianum alba), embora a mesma não seja toda branca...”. Agora, pela ajuda do Américo Docha Neto, do Projeto Orchidstudium, tomei conhecimento de uma classificação mais coerente para a planta do caso, a então Cohniella jonesiana flavens.

Ainda que ano a ano a coloração de flor em uma mesma planta possa alterar sutilmente, do verde para um amarelado, do branco para um cor-de-rosa bem apagado, de um cor-de-rosa mais claro para um mais escuro... Acredito também que seja o caso de “ir na onda” delas e classificar a planta de acordo com a floração na ocasião.

Para terminar deixo uma pergunta: "Não chamar uma planta rara de alba denegriria sua imagem?"

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Notícias

Ando sumido do blog devido a algumas atividades que vem exigindo minha atenção.

Neste tempo também com o amigo Elton Valente venho trabalhando para concluir os livros:

- "Paisagens, habitats e ecologia de orquídeas", que trará aspectos de interpretações de ambientes e ecologia de orquídeas como estudos de caso em alguns habitats percorridos pelos autores;

-"Orquidofilia & Orquidologia - Ciência agronômica no cultivo de orquídeas", a idéia é suprir a demanda por uma publicação cientificamente embasada no que se refere à orquidofilia, e;

-"Geoambientes do Parque Nacional da Serra do Cipó e suas orquídeas", um passeio por diferentes geoambientes do PARNA da Serra do Cipó correlacionando disperção de orquídeas com particularidades do meio físico.

Ambas as obras se encontram já bem adiantadas, com muitas ilustrações e textos próprios dos autores e esperamos concluir em breve apesar da correria do dia a dia em que nos encontramos.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Alguém salve as feias


Bom, esta C. walkeriana está fora dos "rigorosos" padrões de "qualidade" que vemos disseminados por aí, mas não trocaria por uma 'Feiticeira' ou uma 'Tokio' (mesmo porque provavelmente eu não encontraria ninguém interessado nesta troca). A origem desta me leva a crer que foi das últimas remanescentes coletadas na minha região, Marília/SP, pois é coisa de 50 anos em uma família que nunca saiu das redondezas, embora provas concretas provavelmente nunca terei, mas eu gosto da história que em boa parte inventei para eu mesmo.

Hoje na região ainda há alguns resquícios de diferentes fitofisionomias de Mata Atlântica ,e alguma coisa de Cerrado também já pude ver, especialmente na medida que se vai para o oeste, então acho possível lá ter tido walkeriana de fato, embora não tenha encontrado o "ninho" delas ainda.

O importante é estar indo sempre atrás de algo, como walkerianas de formas redondas, mas meu fetiche são os elos, que  talvez, estejam perdidos. Tokio, Feiticeira e cia. muito provavelmente são menos raras que exemplares cujas populações foram já extintas nos seus habitats, o que faz delas verdadeiras relíquias, e possivelmente úteis no futuro.

Sou curioso para saber de onde surgiu esta idéia de que "orquídeas de qualidade são as de pétalas que se tocam" (ao menos em alguns gêneros de orquídeas), me corrijam por favor, mas penso que muito provavelmente este tipo de "tecnologia muito sofisticada" para variar tenha sido importada "dos extrangeiros"...


segunda-feira, 27 de abril de 2009

Um pouco de estatística experimental na orquidofilia

Penso que orquidófilos são curiosos sobre a natureza, e que no fundo usam as orquídeas apenas como pretexto para direcionar algo como um sentimento investigador e aventureiro que é bem característico.

 

Orquidófilo que nunca fez suas próprias experiências é um imitador de outro orquidófilo.

 

Existe um tipo de referencial do que está bom, e quando algo não está existe uma demanda em se buscar melhorar algo, e é gerado um tipo de perturbação que quebra a “harmonia do sistema”, fazendo com que as coisas saiam da monotonia e vão para o interessante ou o desafiador.

 

Já teve a oportunidade de mostrar uma orquídea doente para um fitopatologista?

 

Quando tiver e a orquídea for sua procure manter a calma diante da alegria dele em ver aquilo...

 

Esses desafios interessantes seria como descobrir o lugar ideal para aquela espécie de orquídea, isso envolvendo luminosidade, ventilação e “oportunidades” para esta.

 

“Oportunidades” porque é muito comum, por exemplo, quando se tem muitas plantas em um espaço reduzido e que devido às obrigações do dia a dia se faz obrigatório que as regas sejam automatizadas ou que sejam efetivadas por meio de outras pessoas, pessoas essas que normalmente não teriam aquela mesma atenção e capricho que você. Algumas plantas estando em lugares mais escondidos, que não recebem água, enquanto que as mais expostas recebem muitas vezes água em demasia. Assim nada adiantaria ter a espécie certa com adequados substrato, vaso, adubação, luminosidade e ventilação, se falta algo essencial: “O controle de irrigação”.

 

Diante de uma planta perecendo de acordo com as percepções dos orquidófilos as conclusões podem ser inúmeras, inclusive conclusões exatas, como que é problema por falta ou excesso de água no caso acima, mas pelo que tenho visto são tempestades em copos d’água, para o primeiro exemplo ainda, conclusões equivocadas possíveis seriam canela seca (fusariose), planta “chata” de se cultivar, planta que não estaria bem adaptada ao maior sombreamento ou a maior insolação, o substrato não estaria bom para ela e tão pouco o tipo de vaso...

 

Muito falta a meu ver um tipo de sistematização de observação de fatos e formulação de idéias para se conseguir conclusões exatas, ou ao menos satisfatórias, para que a partir disso se corrija ou previna os problemas. E é exatamente onde entra a importância do pensamento científico, tendo a estatística como importante ferramenta para isto.

 

Muito se engana aquele que pensa que a estatística se restringe apenas às estimativas de probabilidades, ou aos cálculos de estatística descritiva (como os para obtenção de média, desvio padrão e coeficiente de variação) ou a testes e contrastes de comparações de médias, pois estatística é também uma ferramenta de pensar ou planejar. Tem uma frase famosa de R. A. Fisher, o pai da estatística experimental, que diz o seguinte: “se chamam um estatístico somente no final do experimento, muitas vezes o que ele pode dar é a autópsia da pesquisa”.

 

O modo estatístico de se pensar foi importante para Charles Darwin fazer suas pesquisas de tantas interdisciplinaridades, tendo este inclusive dado importantes contribuições para a evolução desta ciência, por exemplo, contribuições importantes na construção dos conceitos de desvio padrão e intervalo de confiança da média, por exemplo.

 

Uma razoável definição do que seria experimentação científica pode ser encontrada neste link que vai para o Wikipedia, mas já adianto e transcrevo aqui:

 

“No método científico (mais especificamente no método experimental), umaexperiência científica consiste na montagem de uma estratégia concreta a partir da qual se organizam diversas ações observáveis direta ou indiretamente, de forma a provar a plausibilidade ou falsidade de uma dada hipótese ou de forma a estabelecer relações de causa/efeito entre fenômenos. A experiência científica é uma das pedras angulares da abordagem empirista ao conhecimento humano.”

 

Notem a idéia de se ter critérios plausíveis para se concluir e agir a partir de circunstâncias.

 

Uma experiência consiste em aplicação de diferentes tratamentos a fim de se comprovar uma hipótese, por exemplo, o adubo A é melhor do que o B para as orquídeas. A idéia neste caso é ter referenciais de comparações, adubo A com o B.

 

Os três princípios básicos da experimentação são: repetição, casualização e controle local.

 

A repetição consiste na verificação de uma eventual tendência por meio de um maior número de amostras analisadas, não existindo um número de repetições pré-fixados para cada caso, valendo muito a experiência do condutor do experimento para tanto. Geralmente quanto maior o número de repetição maior a precisão do experimento.

 

A casualização é a aplicação dos tratamentos para de maneira o menos tendenciosa possível, casual propriamente dita, muitas vezes por sorteio, de modo que se evite induzir determinados resultados.

 

O controle local tem a finalidade de subdividir uma condição heterogênea para uma mais homogênea.

 

Vamos ao exemplo, a idéia de se testar dois tipos de adubos em um orquidário com muitas espécies diferentes.

 

Os resultados da aplicação do teste em apenas dois vasos de orquídeas não são confiáveis. Independentemente de serem os dois vasos de espécies iguais ou diferentes. Ideal seria aplicarmos o experimento nas 1.000 outras plantas, de modo a termos resultados mais seguros, este é o princípio da repetição.

 

Agora, depois de decidido aplicar os tratamentos de diferentes adubos nas 1.000 plantas vem a questão de quais receberiam determinado tratamento, pois normalmente se tem um número variável de exemplares de cada espécie na coleção: 1 Cattleya elongata, 20 Cattleya labiata, 50 Cattleya walkeriana, 15 Catasetum fimbriatum, 3 Cycnocheshaagi, 4 Acianthera teres, e assim por diante - uma razoável diversidade em um mesmo orquidário. Sorteio seria uma boa opção, pois a princípio todas possuem as mesmas chances de serem submetidas a um determinado adubo, A ou B. Este é o princípio da casualização.

 

Resultados mais confiáveis teríamos se tivéssemos uma padronização de nossas parcelas ou unidades experimentais (os vasos), por exemplo, se temos 20C. labiata, 10 receberiam o adubo A e 10 o adubo B, 25 C. walkerianas com o adubo A e 25 com o adubo B, e assim por diante. Da mesma forma, melhor seria se os vasos estivessem sob semelhantes condições de tipo material que foi feito o vaso, de substrato, de rega, de modo de adubação, luminosidade... Este é o princípio do controle local.

 

Sei que não é o caso da maioria a preocupação em obter dados para escreverem artigos, eu mesmo acho os experimentos muitos chatos, mesmo embora necessários, prefiro os estudos de casos, mas não por isso que não seja importante a idéia de sistematização de uma observação.

 

A idéia que quis passar aqui é que é interessante se preocupar com a origem dos resultados e das conclusões para se garantir o máximo de confiabilidade dessas.

domingo, 26 de abril de 2009

Desvaneio sobre orquidofilia

Recentemente defendi minha dissertação de mestrado em Solos e Nutrição de Plantas na Universidade Federal de Viçosa e considero que esta foi uma experiência muito interessante, e que realmente foi uma “divisora de águas” entre uma filosofia de vida que eu estava inclinado a ter com uma que agora tenho certeza que quero ter, propriamente dizendo.


 Confesso que não entendia direito o significado desta formalidade de defesa de dissertação ou de tese de pós-graduação até chegar minha vez. Achava que era só um tipo de burocracia acadêmica a mais, que não fazia diferença na minha formação por causa de tudo o que eu já havia estudado e aprendido até esta “hora h”.


 Cada universidade, bem como cada programa de pós-graduação dentro de uma mesma universidade, costuma ter alguma particularidade, especialmente no que se refere ao momento da defesa.


 Na minha ocasião funcionou basicamente da seguinte forma: eu em uma sala, sentado na cabeceira da mesa e a minha volta quatro professores com a função de questionar e fazer sugestões relacionadas ao trabalho, e mais o meu orientador que fazia o papel de moderador, então éramos seis no total.


Bom, a coisa lá foi feia, uma verdadeira lição de humildade para alguém ainda relativamente novo e com o risco de se achar o rei da cocada preta por causa do título de Magister scientiae. Basicamente a lição era “você vai sair daqui com o mestrado mais não se esqueça que você é um bosta, tem um longo caminho pela frente, não pare nunca” (perdão pelo vocabulário, mas o que seria da língua portuguesa sem os palavrões para manifestar os sentimentos?!). Cada um deles me apertou até onde viram que sairia mais nada, até meu limite, mais tudo dentro do profissionalismo e fazendo críticas sempre construtivas.


Cresci demais nessas quatro horas e trinta minutos de duração da minha defesa de dissertação de mestrado, foi um verdadeiro upgrade na minha formação, realmente vejo que não dava para ter passado sem aquele momento.


Depois mais de noite, na hora de enfiar o pé na jaca para comemorar, quando meus amigos foram chegando e me perguntando como havia sido, fui respondendo: “apanhei igual vaca na horta... Mais foi bem construtivo, aprendi bastante!”. Minha ressaca pós-defesa (por causa da defesa mesmo, e não pela cerveja que estamos já mais acostumados) durou bem uns três dias, uma enxaqueca contínua. 


Por essas e outras que cada vez mais vejo a orquidofilia como algo muito esquisito em certas ocasiões, por exemplo, temos aquele cenário clássico de associação orquidófila antiga no interior (reparem no detalhe, associação antiga e de interior- cheia de ranço) com um “cabeça branca” tido como papa regional no centro de tudo, com o qual todos concordam em qualquer assunto técnico que seja, especialmente por não serem da área e não terem tanta vivência ao ponto de adquirir argumentos. Verdade seja dita, realmente essas personagens realmente são os que possuem mais informação a respeito sim.


Considero-me feliz e privilegiado por ter tido a chance de ter feito o que quis e no lugar que também quis, e é onde vejo uma grande responsabilidade, porque é nítido que aquilo relacionado a qualquer área é cobrado pela sociedade na mesma proporção do peso do título e de onde ele saiu. Digo isso depois de muito bufar e coçar a cabeça arrancando os últimos fios de cabelo da minha cabeça que o mestrado deixou, ao ler muitos textos de revistas de orquídeas, bem como de listas de discussão por email, fóruns e até mesmo de livros com conteúdos absurdamente equivocados e desinformadores, isto é principalmente devido ao fato dos autores não terem por cima dos ombros o peso da responsabilidade de serem os mais exatos possíveis ao transmitirem conhecimentos.


Se no meio orquidófilo é sabido que você é um especialista, com alguma formação para isso, com a formação de engenheiro agrônomo, por exemplo, a cobrança é sempre maior, bem como a responsabilidade. Ao contrário do que seria em relação a um especialista “cabeça branca” que mencionei mais acima.


Quando se é apresentado como especialista se tem praticamente a obrigação de ser exato (de acertar sempre), de tomar cuidado com o que se diz ou com o que se escreve.


Uma breve interrupção que considero cabível é acerca da conceituação de “exatidão”: exatidão é algo real, por exemplo, se dissermos que a soma 1,99 + 1,99 é igual a 4,00 estaríamos sendo mais exatos do que se dissermos que a soma 1,98 + 1,98 é igual a 4,00, mas estaríamos absolutamente exatos somente se dissermos que a soma 2,00 + 2,00 é igual a 4,00. E “precisão”, termo que é rotineira e erroneamente usado como sinônimo de “exatidão”, é algo que faz alusão à repetibilidade de um dado evento, por exemplo, se uma calculadora com defeito de fabricação que para qualquer soma calcula o mesmo resultado, por exemplo, resultado 4,00 para qualquer soma, como 1,99 + 1,99, ou 1,98 + 1,98, ou ainda o absurdo de 1,36 + 1,36, ela é precisa em dar resultados igual a “4,00”, mas não é exata na sua soma, está como que “viciada” em resultar 4,00, mas se esta considerando a mesma soma “2,00 + 2,00” e por um milhão de vezes ela calcular o resultado como sendo igual a “4,00” pode-se dizer que ela é exata e precisa!!! (Conversa chata, reconheço).


Agora a aplicação desta conversa é a ciência como algo exato, ou seja, ela é o conjunto de leis que regem o Universo, e não há como ser diferente, mas o fato é que ainda está quase tudo por descobrir e aprender, e o que é “preciso” (se verifica muitas vezes, mas não em todas, quase exato) é pseudo-ciência, que mesmo assim não deixa de ser um tijolo importante na parede da construção da ciência, do poder de exatidão da mesma propriamente dito.


Orquidofilia no dia a dia é precisa, pois repete muito, tem muito empirismo mas pouquíssimas atitudes com exatidão.


Muitas vezes me senti pressionado intencionalmente em discussões pelas listas de email, exposições de orquídeas, cursos e palestras que prelecionei por aí, acredito que tenha me saído bem, porque nem de longe a bagagem dos “pressionadores” era equiparada à bagagem dos constituintes da minha banca de defesa de dissertação de mestrado...


Quero chamar a atenção para o contexto, algo como o modus vivendi do indivíduo que parece ter o perfil de gente mais maliciosa e auto - destrutivamente vaidosa que a meu ver não combina com o perfil de gente que tem humildade para reconhecer alguma limitação de conteúdo e procurar correr atrás de adquirir informações de qualidade, com isso refinando seu senso crítico e capacidade de observar o mundo e efetivamente “apertar” mais com perguntas.


Já tive grandes desafios, por exemplo, com o tipo de gente que espera o curso ou a palestra acabar e que chega para mim sem fazer muito barulho e solta uma pergunta “bomba”... Perguntas interessantes, trazendo maneiras diferentes de verem as coisas, maneiras estas que eu nem havia pensado antes, coisas que fazem a cabeça soltar fumaça e que fazem passarmos a noite sem dormir procurando na internet algo mais sobre os assuntos.


Algo muito frustrante já me aconteceu quando, por mais de uma vez, na camaradagem para alguns de certa forma mais próximos, ensinei semeio in vitro de orquídeas em troca moral de que divulgassem em suas respectivas associações o meu curso (deixava claro isso com todas as palavras).


Mas estranha natureza humana, pois em todas essas ocasiões quando depois pude ver pessoalmente, ou mesmo quando fiquei sabendo de longe, percebi que a pessoa para qual havia ensinado nunca havia falado a meu respeito, tão pouco divulgado meu curso, e ainda estava “pagando de gatão” no meio da galera por causa do diferencial intelectual que havia adquirido as minhas custas...


Para piorar, o curso de semeio em si não foi somente o semeio, foi uma tremenda de uma consultoria especializada em seu orquidário, acompanhada de aulas particulares de genética, fisiologia e nutrição vegetal, bem como de ecologia, de solos, de trambiques orquidófilos, dentre outras coisas.


Hoje meu comportamento diante das pessoas com atitudes que mencionei é nada além da “política da boa vizinhança”. Em um dado momento saíram ganhando, mas, por exemplo de novo, no caso do semeio por sorte passei o que na época seria “versão 1.0” da técnica, e hoje estamos na “versão 10.0”, com repique entre frascos usando os dedos, e não as pinças, para se pegar nas plantinhas e fixá-las no meio nutritivo do recipiente novo se quisermos, tudo isso sem câmara de fluxo laminar, capela, etc. Na pia da cozinha, com técnicas especiais de desinfestação e esterilização!!! Dentre outras coisas novas que vamos aprendendo no dia a dia.


Atualmente recebo muitos emails e comentários dizendo que sou muito desprendido em informação e que isso é raro na orquidofilia, mas já fui mais, embora não serei de novo, confesso. Por quê? Simples, minha profissão é esta, e daqui para frente preciso garantir o leite das crianças.


Também já fui criticado muitas vezes, pessoalmente inclusive, por estar sendo muito “capitalista”, diante de um posicionamento mais contido da minha parte, muitas vezes ouvi algo como “orquidofila é colaboração e tal...”. Críticas silenciadas na hora com uma resposta do tipo:“Você é médico não é? Então, se eu ou alguém da minha família ficar doente você consultaria na camaradagem também?; Engenheiro civil? Faz um projeto de uma casa pra mim?; Tem loja, não tem? Se eu precisar de algo de lá na camaradagem você me quebra o galho?”...


Colaboro sim até certo ponto, olhem este blog, a mais adentra no aspecto profissional.


Ah, o curso ou palestra é uma fortuna, é o preço de um vaso de Phalaenopsis ou de uma híbrida de Cattleya sem identificação florida na prateleira do supermercado, R$ 50,00 por pessoa, fechando uma turma de no mínimo 10 pessoas (para valer uma diária de qualquer profissional técnico graduado e free lancer – um salário mínimo), e mais as despesas de transporte, alimentação e hospedagem se for o caso. Mas se for uma espécie de “pacotão” com todos os 8 temas sugeridos no post anterior (aqui) para uma associação orquidófila talvez fique interessante negociar um valor fixo, e a entrada e número de pessoas fica por conta da associação.


Estava eu conversando com uma amiga agora mesmo pelo MSN e falávamos sobre o desânimo que muitas vezes dá para escrever no blog (como é meu caso) e ou postar fotos em listas de discussões sobre orquídeas. Importante acrescentar que esta minha amiga é uma orquidófila das mais tecnificadas que conheço, em grande parte pelo tipo de formação científica que tem, mesmo que esta não seja envolvendo plantas, mas a ciência em si lhe é algo cotidiano, tendo mais “jeito” com orquídeas do que muito biólogo e engenheiro agrônomo que conheço por aí...


Desânimo do tipo que tive depois de encaminhar recentemente, como de costume, um post para uma lista de discussão. Nesta ocasião, e também como que de costume, pouca gente parece ler, pouca gente responde, quase nunca emenda-se uma discussão... Mas nesta ocasião ouve um feed back no mínimo “interessante”, pois o post em questão sendo sobre habitats de orquídeas, e em uma postagem por alguém da lista sobre umas fotos de um habitat que a mesma pessoa havia conhecido ela me cita de uma maneira peculiar: 


“O Marcus V. Locatelli alguns dias atrás postou Nesta Mata tem Orquídeas? E confirmou uma observação que tenho feito, sem base em nenhum estudo, pesquisa ou afins como ele, somente admirando a Natureza e desfrutando o prazer de frequentar esse lugar lindo, rico e diverso ao longo dos últimos 12 anos.” 

 

Respondi citando um episódio escrito por Conan Doyle em que o Dr. Watson diz para o Sherlock Holmes que “Tudo é banal, uma vez explicado”, e acrescentei de maneira irônica que talvez a ciência serviria para não se gastar 12 anos no que poderia ser feito com 1 dia ou 5 minutos examinando uma imagem de satélite (de novo a idéia de EXATIDÃO que a ciência nos traz)... Dá também vontade de falar “perde tempo lendo meu blog não”.


Mais coisas frustrantes acontecem também na academia, como furtos e plágios de idéias.


É “estranha” esta mania das pessoas que de alguma forma menosprezam a ciência, quando ao mesmo tempo que se sentem confiantes em escrever livros, artigos em revistas ou na internet, justamente por acreditarem que possuem alguma bagagem “mais científica” ainda (mais EXATA sobre o tema).


Países de primeiro mundo valorizam mais ciência que o nosso, países com as maiores taxas de crescimento econômico também. Fiquei com preguiça de procurar fontes disso para citar por aqui, mas este é o tipo de coisa muito fácil de encontrar pela web e conferir.


A orquidofila no Brasil pelo que me parece, com preciosas exceções, valoriza o “achismo”, mas o importante é ser feliz, e de forma ignorante é mais fácil.