Meu primeiro post lá nas idas de abril de 2007 (Dicas para uma adubação mais eficiente para orquídeas) foi sobre adubação de orquídeas, na época estava com a idéia de ir aprofundando sobre o assunto em breve, mas, passou esse tempo todo e nunca mais toquei diretamente no assunto. Noto inclusive que é um dos mais requisitados na comunidade orquidófila, é o que mais traz leitores a este blog por meio de pesquisas na web.
Meu objetivo com este post é fazer um upgrade do “post primogênito”.
A matriz deste texto eu escrevi há algum tempo, quando uma jornalista de uma revista me fez uma entrevista sobre adubação de orquídeas.
A entrevista foi conduzida a partir de perguntas como: qual a importância da adubação?; como é feita a absorção do adubo pela planta?; quais os tipos de adubos existentes (orgânicos, minerais, etc)? Quando cada um deve ser utilizado?; qual a diferença entre adubação via solo e adubação foliar? Como cada uma deve ser feita?; é mais indicado usar adubos sólidos ou líquidos? Qual a diferença entre eles?; existe um horário mais indicado para efetuar a adubação? Explique; o que pode acontecer com orquídeas que não são adubadas adequadamente, tanto em relação à falta do produto quando ao excesso?; existem cuidados ao manusear o adubo? O tipo de substrato influencia no tipo ou na quantidade de adubo? Explique, e; Por que a adubação precisa ser suspensa durante as estações mais frias?
As respostas seguem (não necessariamente na mesma ordem):
O corpo de uma planta de orquídea é formado por um conjunto de órgãos, como por exemplo, folhas, pseudobulbo, raízes, rizoma e flores, e esses órgãos por sua vez são formados por tecidos, que são formados por células, que são formadas por organelas, que são formadas por moléculas que são formadas por átomos ou elementos químicos.
Nutrientes minerais, por definição, são elementos químicos essenciais para o desenvolvimento saudável dos seres vivos, entendendo-se por desenvolvimento saudável o aumento no tamanho de um dado órgão em si e, também, da planta como um todo, e a planta conseguindo cumprir seu ciclo vital.
Sem os nutrientes minerais não existiriam as moléculas que consistirão as organelas, e consequentemente as células, os tecidos e assim por diante, e também não serão formadas as moléculas “mensageiras” como hormônios, que sinalizam paras as células quanto à necessidade de dividirem-se, alongarem-se ou se transformarem em células especializadas em determinadas funções no corpo da palnta.
A adubação tem por finalidade justamente atendermos as demandas de nutrientes minerais nos momentos e nas quantidades que as plantas necessitam para desenvolverem-se de maneira saudável, uma vez que os nutrientes que chegam à elas sem necessariamente intencionarmos geralmente não estão nas quantidades suficientes para proporcionarem o desenvolvimento que esperamos.
Nas plantas de uma maneira geral a absorção de nutrientes minerais contidos nos adubos (adubos orgânicos ou minerais) se dá concomitantemente à absorção de água, e nas orquídeas as raízes são os órgãos especializados para este fim.
Muito comum por aí vermos recomendações de adubação foliar para as orquídeas, mas é extremamente equivocado direcionar propositalmente as freqüentes adubações para as folhas, quando na verdade temos o efeito esperado justamente pela solução de água mais adubo escorrer das folhas para os substratos e raízes. Então acaba sendo um grande desperdício de adubo e de tempo do aplicador de adubo insistir em pulverizar todas as folhas das plantas quando somente um jato único poderia ser direcionado às raízes.
Alguns vegetais possuem adaptações anatômicas e morfológicas que permitem que água e nutrientes minerais sejam absorvidos pelas folhas, como exemplo desses temos musgos e bromélias.
Ao contrário dos musgos, as orquídeas de uma maneira geral possuem folhas bastante impermeabilizadas por uma camada de cera que costuma ser bem espessa, especialmente em espécies de climas mais quentes e secos, ou de exemplares cultivados em ambientes também mais secos, quentes e iluminados. Esta camada de cera serve para diminuir a velocidade com que as plantas perdem água, uma estratégia extremamente útil especialmente para epífitas que não contam com as raízes absorvendo água da “caixa d’água” do solo.
E as bromélias como muitos podem notar na primeira bromélia que surgir à frente não produzem muitas raízes, somente o suficiente para fixarem-se, a roseta formada pelas folhas serve como estrutura de acúmulo de água e nutrientes que serão absorvidos por células especializadas na base dessas folhas. Orquídeas nem de longe tem algo parecido, fácil notar orquídeas cultivadas em ambientes mais secos e menos adubadas lançando suas raízes para longe em busca desses recursos.
Mas é equivocado dizer que absolutamente nada é absorvido pelas folhas, ocorre que de uma maneira geral a quantidade absorvível por esses órgãos será ínfima diante da demanda total da planta, então insisto, vamos direto às raízes.
Existem uma série de adubos comercias que se enquadram nas diferentes categorias, sendo orgânicos, minerais (também chamados de adubos químicos) ou organo-minerais.
No caso de adubos orgânicos, embora a fonte de nutrientes, o adubo no caso, seja orgânica, a nutrição é sempre mineral, ou seja, o adubo orgânico só cumprirá seu objetivo de nutrir as plantas após decompor-se e liberar os nutrientes em formas mineralizadas.
Os adubos orgânicos costumam serem menos concentrados e terem composições mais variadas em relação aos adubos minerais.
Em outras culturas agrícolas podemos aplicar as maiores doses de adubos justamente nos momentos de maiores demandas das mesmas, que é justamente no crescimento e frutificação, mas em orquidários, com espécies e indivíduos em estágios diferentes, fica difícil ser muito específico. Assim, temos que buscar uma média, ou seja, doses constantes no orquidário todo ao longo do ano.
Diz-se por aí em “adubação homeopática”, a meu ver um mito orquidófilo, pois quando as orquídeas estão brotando e crescendo a demanda de nutrientes é elevada, e uma adubação aquém de sua necessidade não trará aquele efeito fantástico de vermos plantas e floradas gigantescas e vigorosas.
Ainda em relação a adubos minerais (“químicos”) cabe até uma publicidade gratuita aqui, o adubo B & G Orchidées (www.begflores.com.br) é uma verdadeira revolução na orquidofilia, pois resgata alguns princípios básicos de uma adubação cientificamente embasada, algo que discutirei em um post futuro (desta vez eu prometo, post de um futuro próximo)
Tem funcionado bem adubação com adubo mineral semanal ou quinzenalmente, com o cuidado de na rega seguinte molhar bem até deixar a água escorrer com o excesso de adubo do substrato, porque o excesso de sais no substrato mata as raízes.
Com adubos orgânicos o intervalo de aplicações é na ordem de meses, pois a decomposição desses gerará ácidos orgânicos que atingirão as raízes, e no caso de muito adubo orgânico se decompondo ao mesmo tempo em uma superfície relativamente pequena, a concentração desses ácidos será nociva acarretando em degradação e morte dos tecidos das raízes.
Orquídeas saudáveis necessariamente são orquídeas com raízes.
Adubação via solo é quando se direciona o adubo para o solo, inferindo-se que este será absorvido pelas raízes, e adubação foliar é fazer com que preferencialmente as folhas tenham contato com o adubo.
Geralmente os adubos via solo, no caso orquidófilo “via substrato”, podem ser solúveis em água ou ainda granulados para serem usados secos espalhando-os no substrato. No caso de adubos secos desaconselho seu uso totalmente, porque com esses há muito risco de se errar a dose por excesso e danificarmos as plantas.
Para que a adubação, que é uma tecnologia agrícola, seja mais eficiente é necessário que ela tenha um embasamento científico, embasamentos esses relacionados especialmente à própria biologia da planta de orquídea.
A adubação bem como a irrigação de uma maneira geral deve ser praticada entre o meio e final de tarde, em um contexto que agronomicamente denominamos manejo integrado de pragas e doenças, que prioriza especialmente a prevenção dos problemas.
Molhando as plantas quando ainda haverá algumas horas de Sol aquela camada de água que fica em cima das folhas seca mais rápido, diminuindo assim as chances de um esporo de fungo germinar e infectar a folha (post Regas em orquídeas).
Algumas orquídeas possuem um determinado mecanismo fisiológico que faz com que essas absorvam água e consequentemente adubo durante a noite, e outras um mecanismo diferente que acarreta em absorção diurna. É complicado diferenciarmos e separarmos as plantas com cada tipo de absorção, assim, efetivando a rega e a adubação no meio da tarde atenderemos muito bem qualquer planta.
A médio prazo tanto a adubação deficiente quanto a excessiva acarretam em subdesenvolvimento das plantas de orquídeas. Ressaltando que orquídeas são plantas ornamentais, o aspecto vigoroso proporcionado pela adubação correta conciliada com outras práticas de manejo também corretas acabam por vir a agregar valor ao produto.
De um lado temos que o fornecimento de minerais aquém do demandado pela planta acarreta em diminuição do seu crescimento pelo fato de faltar constituintes para a formação do seu corpo, e com o excesso de adubo há uma série de danos conhecidos, como, por exemplo, morte das raízes em decorrência da alta salinidade no substrato fazendo com que a planta não absorva mais água nem nutrientes minerais, o que vem a ser irônico, pois o excesso de adubo nesse caso acarretando em deficiência nutricional.
De um modo geral os adubos devem ser conservados em lugares secos e em recipientes que vedam bem.
Não há grandes riscos para saúde humana o manuseio de adubo, porém, em quantidades muito grandes há riscos ambientais pela poluição que causam.
Quanto ao tipo de substrato influenciando nos resultados da adubação é algo bem complexo, como sempre são as interações, e demandaria muitas linhas para contextualizar, mas, de uma maneira geral, sabe-se que determinados tipos de adubos podem acelerar a decomposição dos substratos orgânicos.
Alguns tipos de substratos, como o xaxim fino, possuem maiores capacidades de reterem adubos, exigindo maiores preocupações em removermos o excedente lavando o excesso de sais acumulados ao longo das adubações.
Se a planta está brotanto e crescendo mesmo no inverno ela está precisando de nutrientes para construir seu corpo. O que pode acontecer em temperaturas muito baixas é a velocidade de crescimento ser mais lenta, e consequentemente a de adubação também precisaria ser, no entanto, tomando o cuidado de evitar o acúmulo excessivo de sais com o uso de recipientes e substratos bem drenados e por meio da abundância de água na irrigação, é muito difícil haver danos.