Colaborei com a reportagem O uso de hormônios no cultivo das orquidáceas na revista Como Cultivar Orquídeas nº 52 que se encontra nas bancas por agora.
Na reportagem há alguns comentários meus, obtidos a partir de algumas questões que eu respondi para a jornalista da matéria Renata Puinatti.
Assim como fiz em uma outra vez quando o tema foi adubação de orquídeas (post Adubação de orquídeas), transcrevo aqui na íntegra as questões que me foram passadas e respondidas.
Este tema já tratei aqui (O uso do AIB em orquídeas) tem alguns anos já, agora aqui um complemento.
1. Existem fitorreguladores naturais e sintéticos. Explique a
diferença entre eles. Eles também agem de maneira diferente?
Fitorregulador é um termo bastante genérico, define-se por toda e qualquer substância capaz de influenciar o
crescimento e desenvolvimento vegetal. Existem vários tipos de
fitorreguladores que vão de naturais a artificiais, hormônios vegetais (ou fitormônios) se
incluem no primeiro grupo. A substância AIB (ácido indol butírico) é uma substância artificialmente
desenvolvida para substituir o AIA (ácido indol butírico), que é naturalmente sintetizado e artificialmente tem sua síntese bastante cara, além de ter sua conservação mais complicada, no entanto, o AIA é mais
eficiente que o AIB, ou seja, menores doses de AIA acarretam em efeitos
compatíveis com maiores doses de AIB.
2. Como esse hormônio age nas orquídeas?
Existem
vários tipos de hormônios, ou fitorreguladores artificiais que os imitam, e
cada um com funções específicas, por exemplo: as auxinas (AIA) estão envolvidas
no alongamento celular, deixam os pseudobulbos e as raízes compridas; o etileno
e o ácido abscísico induzem a senescência, ou seja, amadurecimento e a queda de
folhas e frutos, o que passa pelo reaproveitamento ou ciclagem de nutrientes internamente no corpo da planta; a giberilina está envolvida na quebra de dormência das gemas
de brotação em resposta à estação do ano; as citocininas estimulam as divisões
celulares, ou seja, a formação das gemas.
O que é importante não é tão somente a concentração de cada um dessas substâncias nas plantas, mas o equilíbrio entre elas acarretando em diferentes consequências nas plantas.
3. Essas substâncias podem ser compradas
em orquidários e garden centers?
Sim, especialmente o AIB que serve para estimular o enraizamento e é dos fitorreguladores de uso melhor compreendido. Há diversos nomes comerciais já bem famosos.
Existem também
suplementos minerais ricos no micronutriente zinco, que é vendido para o fim de
enraizamento. O zinco faz parte de uma enzima envolvida na produção de AIA
pela planta, e seu uso pode ser uma alternativa interessante, pois para a aquisição de fitorreguladores é necessária um receituário
agronômico.
4. Como é feita a aplicação na planta, em
que frequência e em qual estágio da vida da planta? Em que circunstâncias
costuma ser utilizado? E por que? Qual o resultado alcaçado? Quando é realmente
necessário utilizá-lo e quando deve ser descartado seu uso?
Preferencialmente
deve-se aplicar algum enraizador uma vez só, no transplantio, para dar uma
alavancada inicial na planta.
No dia a dia, plantas bem adubadas e com
substratos arejados não terão problemas de falta de raízes, então não se
justifica a aplicação de estimulantes radiculares.
Já fitorreguladores com
outras finalidades, como florescimento, tem seu uso bastante restrito, e há
poucas informações referentes às doses nas diferentes espécies.
5. O hormônio regulador é prejudicial ou
benéfico às orquídeas?
Aquela história de que a diferença entre o remédio e o veneno está na dose se aplica aqui também, pois há benefícios como nas condições citadas acima, mas dependendo
da dose, por exemplo, alguns enraizadores podem ter ação de herbicidas, comprometendo e até matando as plantas.
6. Todas as orquídeas podem receber doses
desse tipo de hormônio ou existe alguma restrição?
A
princípio os fitorreguladores para o enraizamento podem ser utilizadas para qualquer planta, mas há lacunas científicas
quanto ao tipo, modo, época e dose das substâncias a serem mais eficientemente aplicadas.
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A entrevista acabou aqui.
As plantas das fotos a seguir não receberam aplicações de estimulantes de enraizamento, ilustrando que não são necessárias aplicações periódicas de estimulantes para o enraizamento das orquídeas.
Cattleya walkeriana. |
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Cattleya labiata alba - recém transplantada para o cachepo em que está. No detalhe substratos de toquinhos de madeira proporcionando bastante arejamento e saúde das raízes. |
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Outros exemplos de plantas com boas raízes - No alto na esquerda Potinara Red Crab e à direita Hadrolaelia jongheana. Embaixo à esquera Cattleya labiata e à direita Epidendrum fulgens. |
Cattleya bicolor emitindo novas raízes naturalmente logo após o completo desenvolvimento do mais novo pseudobulbo na touceira. |
Agora abaixo alguns exemplos de plantas definhando em péssimas condições de substratos que danificaram as raízes (já muito discutido em outros posts), após a retiradas de plantas nessas condições de seus vasos e completa remoção do substrato velho, é interessante a aplicação de AIB para alavancar o enraizamento inicial das mesmas:
A seguir uma das maneiras de se aplicar solução diluída de AIB, 1 a 2 gotas no rizoma entre o primeiro e terceiro pseudobulbos: