segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Serra do Cipó I

Esses posts sobre a Serra do Cipó são apenas passeios do livro "GEOAMBIENTES DO PARQUE NACIONAL DA SERRA DO CIPÓ E SUAS ORQUÍDEAS", que venho escrevendo com o amigo Elton Valente a alguns meses. Pretendemos concluí-lo no começo de 2009.


O Elton está por concluir seu doutorado aqui no Departamento de Solos da Universidade Federal de Viçosa, quando justamente estudou de maneira única até então os gradientes vegetais de algumas áreas dentro e outras próximas do Parque Nacional Serra do Cipó. Sua pesquisa diz respeito às relações entre os solos e as várias formações vegetais e suas fitofisionomias, e servirá de subsídio científico para futuros rumos do Parque. Também é co-autor do blog de divulgação científica Geófagos.

Os amigos Elton e Ítalo Rocha (também do Geófagos) já postaram algo sobre a área em questão, para verem seus posts cliquem nos links: Gradientes de solo e vegetação nas partes elevadas da Serra do CipóEcologia de paisagens e a Serra do CipóPedologia, ciência histórica IIO caminho das plantas e Fui à praia.

A Serra do Cipó é a porção mais ao Sul da Cordilheira do Espinhaço, esta por sua vez se estende até o norte do Estado da Bahia. Na Cordilheira predominam os quartizitos, que são rochas de origem metamórfica, formadas "basicamente" pelo tratamento de altas pressões e altas temperaturas que os arenitos sofreram. E os arenitos por sua vez formaram-se a partir da cimentação dos grãos de areia. Costumo brincar que com mais "5 min geológicos" esses quartzitos seriam vidros, exageros a parte...

E a areia, da praia, como disse o Ítalo em seu post Fui à praia, muito provavelmente havia um mar ali, no, Pré-cambriano, (período compreendido entre 4,5 bilhões e 540 milhões de anos atrás), ou ao menos cursos d'água com bastante força para ter transportado grãos de areia de quartzo que são minerais bastante densos.

Um mar formado a partir da formação de um rifte, que é o aprofundamento do terreno concomitante ao afastamento de suas bordas (grosso modo), o Rifte Espinhaço, a partir daí para este imenso rifte se transformar no destino principal das águas drenadas nas intermediações provavelmente foi um "pulo", de poucas eras geológicas.











Este afastamento seria devido ao tectonismo de placas, a América do Sul desprendendo e se distanciando do Continente Africano.

Quando os continentes se reencontraram, aquela imensa falha (zona frágil) foi espremida e soergueu, o que metaformizou os arenitos originando então os quartzitos, em um processo de milhões de anos. 

Já repararam que o Itatiaia, Serra do Brigadeiro e o Caparaó possuem uma tendência de se estenderem na direção Norte - Sul??? Coincidência?!

Abaixo foto das cristas de quartzito observadas a partir da MG - 010, notem que estão "penteadas" no mesmo sentido.



A Serra do Cipó é famosa também pelos inúmeros sítios arqueológicos e paleontológicos ali encontrados.

Foi ali encontrada Luzia, o fóssil humano mais antigo das Américas até então encontrado, estima-se que tenha cerca de 11 mil anos, dentre alguns fósseis de preguiças gigantes e de outros animais extintos antes do Holoceno (entre 11 e 10 mil anos atrás). 


Os fósseis relativamente preservados são encontrados nas áreas influenciadas por rochas calcárias, que por garantirem uma atividade maior de cálcio no solo evitaram que os ossos dos animais tivessem se degradados ("dissolvidos") com o tempo, emm outras palavras, materiais ricos em cálcio não se dilúem em meios  repletos de cálcio. Essas rochas calcárias também são evidências do mar que havia ali, pois muito provavelmente foram formadas a partir de uma grande contribuição da sedimentação e acúmulo de animais marinhos com carapaças ricas em cálcio, e essas rochas sedimentares, assim como os arenitos, sofreram metamorfismo, tornando-se relativamente mais resistentes a se intemperizarem (desmancharem-se) com o tempo.

A região recebe anualmente muitos turistas devido aos inúmeros e belos recursos naturais, tais como montanhas, grutas e cachoeiras, possui uma extensa infraestrutura de hospedagem, de hotéis com algumas estrelas à áreas de camping somente com chuveiros. Fica a menos de 90 km de BH. Muito visitada também por pessoas que buscam experiências místicas e ufológicas.

Abaixo, a Pedra do Elefante, à beira da MG - 010.

Na beira da MG - 010 também, a estátua do Juquinha.














Agora, foto de um trecho do Rio Cipó:



Como citado, a Cordilheira do Espinhaço se estende no sentido Norte - Sul, de BH até o extremo norte do Estado da Bahia, e é uma barreira física para a umidade que vem do oceano adentrar mais ao continente.

Como consequências disso, nada mais, nada menos, temos que a Leste dela, nos Estados de Minas Gerais e Bahia, temos o Domínio da Mata Atlântica, caracterizada por espécies vegetais mais exigentes às condições mais úmidas, e à Oeste, temos o Domínio do Cerrado, com espécies de climas mais secos.

Nas fotos abaixo é nitida a massa de ar úmida concentrada no topo da Cordilheira. Vista da beira da MG - 010, às 8h30 da manhã, aproximadamente, no auge do inverno, que é seco.












Um comentário:

José de Assis disse...

Que bom aprender mais sobre habtats e ecologia.Fora o prazer pela caminhada, ainda ver as orquideas, no habtat e um tremendo por do sol.Parabéns!
José de Assiss