segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Visita técnica

Dia desses fui chamado para dar uma orientação técnica em um orquidário doméstico.

Lá chegando, minha primeira percepção foi de algumas plantas com sintomas de morte de raízes, ou seja, sintomas visuais de deficiências de água e nutrientes minerais, algo já comentado aqui e aqui, e outras muito bem.

Sintomas nas flores de deficiência de água:











Acima à esquerda uma Denphal com pétalas e sépalas que não abriram totalmente, flácidas, bem como pendúculos florais arqueados, e acima à direita uma Lc. Luminosa (Cattleya dowiana x Laelia tenebrosa) com as sépalas dorsais arqueadas, vide seta, e com flores muito juntas. A água é necessária para as células não só das flores, mas da planta toda aumentarem de volume e expandirem completamente.

A falta de turgor nas flores corresponde à um sintoma inicial de desidratação na maioria das plantas, uma vez que são as flores as partes mais sensíveis, com tecidos de menor resistência à desidratação nestas.

Agora, flores relativamente normais no mesmo orquidário:
















A primeira mais acima, corresponde à uma Miltonia spectabilis var. moreliana, a segunda uma Cattleya velutina, ambas nativas da mata atlântica, com clima úmido relativamente constante ao longo do ano, especialmente a C. velutina, e a Miltonia nas matas um pouco mais secas mas quase sempre às margens dos rios.

Primeira conclusão, a água estava sendo fornecida de maneira relativamente satisfatória, pois estas duas últimas plantas não estariam floridas, pois são elas com relativa baixa adaptação à resistirem ao estresse hídrico.

Observando mais, notei que todas as plantas plantadas em toquinhos, placas de xaxim e Vandas em cachepôs com quase nenhum substrato preenchedo estes, no geral estavam menos desidratadas, bem como que nos vasos haviam dois diferentes tipos de substrato, alguns plantios mais antigos com xaxim, e outras plantas plantadas mais recentemente com uma espécie de terriço (solo+folhas secas+raízes) de superfície de mata como substrato.

Exemplo de plantas não envazadas, à direita uma Catasetum cernnum em placa de xaxim, à direita uma Cattleya walkeriana plantada em casca de peroba.












A seguir, exemplos de plantas em vaso com xaxim de substrato, reparem nas setas, inserção das folhas nos pseudobulbos acima da linha das bainhas secas.

















Agora, exemplos de plantas no vaso com o terriço de substrato:

Abaixo à esquerda uma Laelia, provavelmente a L. purpurata que floresceu mesmo estando desidratada, reparem na seta, folha não expandiu completamente, e está inserida bem abaixo da linha da bainha seca do pseudobulbo, inflorescência curta atarracada também, e a direita, outra Laelia com pseudobulbos bastante desidratados.















Abaixo à esquerda, um pseudobulbo novo subdesenvolvido, e à esquerda flores caídas, faltando água para levantarem. Reparem também nesta última as raízes "fugindo" do vaso.















Abaixo duas orquídeas com deficiência nutricional aguda, em vários nutrientes.















Agora à esquerda, a inflorescência de uma Anachaellum aemulum atarracada também por falta de água, e a folha de uma Blc., que deveria ser dura e quebradiça na tentativa de dobrá-la se estivesse hidratada, mas que está enrolando feito pano.












Agora, mais detalhes do terriço, notem a falta de raízes.












Conclusões finais: As plantas em outros substratos que não o terriço, conseguem aproveitar a água que chega até elas pelo fato de terem raízes vivas e saudáveis.

O terriço com as características de reter água por mais tempo ("demasiadamente mais tempo"), aliada a provável alta acidez e alto teor de alumínio do mesmo, acarreta em progressiva morte de raízes das orquídeas epífitas ao longo do tempo, sendo as plantas mais prejudicadas as que foram plantadas à mais tempo neste substrato.

Recomendações: De imediato sustituir o terriço por outro substrato de orquídea, o mais acessível atualmente é o pedrisco, xaxim anda difícil e caro.

Para aquelas plantas mais prejudicadas é conveniente uma passagem pela “UTI”.

O timer que controla a irrigação pode ser programado para irrigar 10 minutos por dia, por volta das 17h, uma vez que na atual programação, 10 minutos a cada dois dias, as plantas nas cascas de peroba, toquinhos e placa de xaxim aparentemente poderiam estarem mais túrgidas.

Acredito que para orquídeas terrestres o terriço venha a ser um bom substrato em muitos dos casos.


*A POSTAGEM FOI-ME AUTORIZADA PELO PROPRIETÁRIO DO ORQUIDÁRIO.

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