sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Orq 2

Após uma longa férias o Orquidofilia e Orquidologia está de volta, desta vez falando um pouco sobre genética das cores de flores de orquídeas.

"Orq 2" era o código no laboratório para o cruzamento entre uma Cattleya walkeriana variedade caerulea (que no latim quer dizer azulada) e uma Cattleya loddigesii variedade tipo (coloração de flor mais comum na espécie, neste caso magenta), em janeiro de 2002.

Respectivamente nas fotos da esquerda e da direita, embora não sejam exatamente das plantas que foram usadas neste cruzamento, correspondem às mesmas espécies e variedades. A Cattleya walkeriana caerulea fotografei no orquidário do Caliman em Venda Nova do Imigrante - ES, e a Cattleya loddigesii é uma planta minha.











O cruzamento entre estas duas espécies resulta no híbrido primário, também de ocorrência na natureza, quando as duas espécies ocupam um mesmo habitat, classificado como Cattleya x dolosa.

Fotos de duas irmãs neste cruzamento:











Assim como todas as outras deste cruzamento que tive oportunidade de ver florescerem, estas saíram da coloração "tipo" com tons semelhantes de magenta/lilás, embora o tamanho e forma das flores tenham diferido muito.

Com auto-fecundação de orquídeas caeruleas necessariamente as filhas terão que ser todas caeruleas, caso contrário pode ser papo de vendedor que vendeu gato por lebre, e no caso de auto-fecundação de plantas tipo, a possibilidade das filhas saírem todas com a cor tipo, mas existe também a possibilidade de no meio saírem algumas albas e outras caeruleas.

Fica fácil entender isso com uma noção da base genética responsável por isto.

Primeiro se faz necessário esclarecer alguns termos que serão utilizados:

-gene: é um fragmento de DNA, no qual está embutido determinada informação genética para uma característica, sendo então uma parte de toda informação química necessária para compor um ser vivo, como se fosse uma das frases escritas em um livro.

-gene recessivo: é uma das duas formas que o gene pode assumir, representado em letra minúscula, ele só manifesta a característica correspondente se combinado com outro gene também recessivo.

-gene dominante: representado em letra maiúscula, como o próprio nome diz, "domina", como se tivesse preferência para expressar uma característica no indivíduo portador do mesmo, "não importanto" (aí já é uma longa conversa...) se está combinado com um outro gene dominante ou recessivo.

Nos gêneros Cattleya e Laelia, sabe-se que as variações de colorido nas flores, para tipo (lilás/magenta), alba e caerulea estão relacionadas às diferentes combinações entre os genes "C", "R" e "A", que serão representados nesta ordem no decorrer do texto.

Para alba, as combinações possíveis correspondentes são: c c _ _ A _ ou _ _ r r A _, quando é dado o espaço sublinhado "_" significa que tanto faz a combinação, se o gene está na forma dominante ou recessiva, sempre mantendo a seqüência "C", "R" e "A".

No caso então para alba necessariamente, entre os genes "C" e "R" um deles deverá estar em par recessivo, e deverá haver ao menos um dos genes "A" na forma dominante.

Para caerulea, as combinações são c c _ _ a a ou _ _ r r a a, então no caso tem que haver as mesmas condições para a coloração alba com mais a peculiaridade dos genes "A" estar em par de recessivos, em outras palavras para ser caerulea tem que ter tudo que existe na alba e mais uma combinação específica, por isso que a variação caerulea é mais rara na natureza e deveria então ser mais valorizada, a probabilidade de se ter mais um evento favorável ( os genes "A" em par recessivos) é menor.

Então o "A" dominate inibe a produção dos pigmentos azuis nas flores das albas.

Para coloração tipo, C _ R _ A _, combinação bem mais fácil de ocorrer.

Existe uma série de modelos que explicam porque no caso do cruzamento identificado como Orq 2, entre uma caerulea e uma tipo, sairiam todas tipo, alguns exemplos:

1º ) A C. walkeriana caerulea era C c r r a a e a C. loddigesii tipo era C C R R A A.


Lembrando que 50 % dos genes de um indivíduo vem da mãe, e os outros 50 % dos genes vem dos pais, a "mãe" C. walkeriana caerulea tem a possibilidade de fornecer as combinações C r a e c r a, e a planta "pai", C. loddigesii tipo (que forneceu os gametas masculinos), neste caso com o potencial apenas de fornecer a combinação C R A.

Combinando as opções:

* clique na figura para ampliar.

Filhas 100 % de coloração tipo então.

2º) C c r r a a x C c R r A A.

* clique na figura para ampliar.

Teremos neste caso um potencial de 50 % das C. x dolosa saírem tipo e os outros 50 % saírem alba. Embora não se tenha visto alguma planta deste cruzamento sair alba, não significa que não tenha havido o potencial, uma vez que para se aplicar a rigor as probabilidades seria necessário que se tivesse uma quantidade muito grande de plantas florindo, pois este tipo de estatística com poucas observações é falha.

Quando eu me referi que seria "uma outra conversa" o que acompanha um gene dominante, pensei no seguinte:

A combinação C C parece ter alguma relação com coloração tipo mais clara, e a combinação R R parace ter relação com coloração tipo mais escura.

A combinação C c R r, por sua vez parece estar relacionada a coloração suave, ainda próximo à tipo.

C _ R _ a a, parece estar relacionada à caerulescens (tendência à azulada).

Se o cruzamento se tratasse de uma caerulea C c r r a a com uma tipo (magenta/lilás)/suave C c R r A a por exemplo, teríamos as seguintes probabilidades de ocorrência:

18,75 % caerulescens.

31,25 % caerulea.

6,25 % tipo/clara.

12,50 % tipo/suave.

31,25 % alba.

As informações aqui passadas foram extraídas parte do livro Orchid Biology: Perspectives and Reviews II, do Arditti, e parte da palestra "Herança de cores de flores de orquídeas do grupo Cattleya" do professor daqui do Departamentos de Solos da UFV, Roberto Ferreira de Novais, com larga experiência no assunto de cruzamentos de orquídeas.

A genética de cores de flores orquídeas é algo relativamente mais simples que a genética de forma de flores. Para a primeira, existe a tendência de ser características qualitativas, poucos genes envolvidos, para a segunda algo como genética quantitativa, muitos genes envolvidos, portanto de complexidade maior, e de maior dificuldade de se esboçar modelos explicativos para os resultados.

A seguir fotos de Cattleya x dolosa alba cruzada com uma Cattleya walkeriana caerulea, saindo então tipo:



E esta Cattleya x dolosa albescens (quase alba), encontrada por um amigo em um habitat de C. loddigesii, deixou a gente encafifado pois no lugar se quer foi encontrada alguma vez uma C. walkeriana tipo.


2 comentários:

DvD disse...

Ciao Marcus, ottimo post!

L'ho linkato su su www.orchids.it

grazie
a preso
Guido

claudikempim@hotmail.com disse...

Olá Marcus,

Também gostei do seu post, gostaria de saber se vc tem conhecimento sobre a sequência dos genes de Cattleyas e Laelias Semi-albas?

Aguardo contato (por e-mail)

Att,